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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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BOXE

Cinturões

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Miguel de Oliveira lembra uma criança que acabou de ganhar um presente de Natal.
"É tudo novidade. Nem sei ainda em que lugar da casa vou colocá-lo porque estou levando para todos os lugares, para o trabalho, vou mostrar para os amigos no interior [em São Manoel]...", diz, com entusiasmo na voz, o ex-campeão mundial dos médios-ligeiros sobre o cinturão que finalmente recebeu esta semana, após uma espera de 28 anos.
É que depois que o brasileiro destronou o campeão José Durán, em maio de 1975, em Montecarlo, esqueceram de mandar para ele o seu cinturão de campeão.
Por que Miguel, 56, não recebeu o cinturão lá mesmo, após a luta?
Geralmente os supervisores das entidades que controlam as disputas de títulos mundiais não levam cinturões sobressalentes para as lutas. Provavelmente porque é necessário fazer algumas inscrições neles, o que não poderia ser providenciado na hora.
Assim, quando um desafiante toma o título do campeão, ele posa para as fotos após o combate com o cinturão do derrotado.
Isso produz cenas inusitadas, como quando o britânico Nigell Benn bateu o americano Doug de Witt pelo título dos médios da OMB, em 29 de abril de 1990.
Como se não bastasse De Witt ter sofrido quatro quedas durante a luta, seu irmão teve de assistir toda a comemoração do adversário, pois ficou ao lado dele esperando a devolução do cinturão.
Essa história de esquecerem de enviar cinturões é mais comum do que se poderia imaginar.
Mais recentemente, o norte-americano Frankie Randall, que acabou com a invencibilidade do mexicano Júlio César Chávez, foi uma das vítimas desse tipo de atraso. Ele reclamou que, meses depois de ter conquistado um de seus títulos, ainda não tinha colocado a mão em seu cinturão.
Para quem está curioso, a tradição dos cinturões teve início em 1811, quando Tom Cribb bateu pela segunda vez Tom Molineaux e foi presenteado com um cinturão feito de pele de leões e enfeitada com as patas de um deles.
Na América, a história dos cinturões começou quando Richard Fox, do ""The National Police Gazette" e inimigo do campeão dos pesados John L. Sullivan, escolheu outro lutador, Paddy Ryan, como "seu" campeão e deu para ele um cinturão enfeitado com diamantes, rubis... e sua própria foto.
De pronto fãs de Sullivan contra-atacaram e presentearam seu ídolo um cinturão de US$ 10 mil, ornamentado com 350 diamantes e que trazia a inscrição "ao campeão dos campeões, do povo dos EUA". "Comparado com o meu, o cinturão de Richard Fox é como uma coleira", ironizou Sullivan.
Mesmo sem diamantes, Miguel está satisfeito com seu cinturão, providenciado graças a uma recente intervenção da Federação Paulista de Boxe junto ao CMB.
"Ele é bem melhor do que os cinturões que haviam na época [em que ganhou o título]. O conselho deu uma remexida legal nos cinturões, acrescentou imagens, trabalhadas em cerâmica, de Joe Louis e Muhammad Ali nas laterais. Valeu a pena esperar."
Mesmo que por 28 anos.

Popó 1
A equipe do brasileiro mandou nesta semana uma mensagem indireta a Jay Larkin, chefão da Showtime, que vem fazendo pressão para que dê uma revanche ao cubano Joel "Cepillo" Casamayor. Em letras maiúsculas, texto divulgado à imprensa internacional e assinado por seu promotor, Arthur Pelullo, diz que ""Acelino não dará uma revanche [a Casamayor] na Showtime ou em qualquer outra emissora".

Popó 2
O texto, que ironiza Casamayor ao afirmar que deveria falar sobre revanche com Diego Corrales, contra quem teve uma vitória polêmica este mês, reafirma que o objetivo de Popó é subir de peso já em sua próxima luta, em 3 de janeiro, provavelmente contra o campeão dos leves da OMB, Artur Grigorian. Larkin não teria gostado da idéia.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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