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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Minhas bonecas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

"Sério? Você quer me entrevistar? Mas eu sou só o roupeiro. Não, é claro que quero falar. Eu adoro falar. E tenho muita história. Já trabalhei até no Botafogo. Por que eu saí? Intriga. Disseram que eu e um menino dos juvenis fizemos coisa ali no vestiário. Mas foi mentira! No vestiário, não. É meu local de trabalho. E eu sou um bom profissional. Bom, não. Superbom! Você quer um café? Eu passo. Não, não passo na meia, não. Bobinho. Tá bom, eu falo da minha vida. Eu adoro falar.
Quando eu comecei? Ih, faz tempo. Tempo demais da conta. Final dos anos 60. Lá em Minas. Eu não era bom no futebol. Nem no gol. Mas sempre ficava vendo os meninos jogarem. Então, quando eles formaram um time na rua, me colocaram como roupeiro. Eu adorei aquilo. Levava a roupa toda para casa e lavava de noite, escondido dos meus pais. Ô tempo difícil! As camisas não eram como as de hoje. Não tinha esse negócio de sintético. Era tudo algodão. Você precisava lavar na mão para elas não ficarem amareladas. Uma a uma, no tanque. E, às vezes, até tinha que bordar um distintivo, um número que despregava. Hoje a profissão é moleza, qualquer um faz o serviço. Mas sem amor. Já viu as camisas todas juntas no varal? Coisa mais linda do mundo!
Então, mas onde eu estava? Ah, meu começo. Um dia, o roupeiro do time da cidade engravidou a filha do presidente e foi mandado embora. Uns conhecidos me indicaram, e o presidente me empregou. No dia que assinei o contrato ele me disse: "Pelo menos com você não vou ter esse tipo de problema". Não teve. Mas o filho dele até chorou quando me despediram. Daí que vim pro Rio.
Pra mim é o melhor emprego do mundo. Todo dia eu vejo as duas coisas que eu mais gosto. Só porque sou assim não posso gostar de futebol? Claro que posso.
Quando os jogadores se trocam? Abro bem o olho. Mas já acostumei um tanto. Sabe ginecologista? Então, é igual. De ver demais a gente enjoa.
Cheiro de chulé? Gosto. Prefiro suor, mais azedinho. Melhor que isso é ver o time entrando em campo. Nunca tive boneca, eles são as minhas.
Amizades? Fiz muita. Às vezes, encontro meninos que eu criei, que eu ensinei a dar os primeiros passos por aí. Uns fingem que nem me conhecem, mas tem outros que me cumprimentam, apresentam filho, mulher. Se elas soubessem, ai, ai...
Mas ando calminho já tem anos. O nome? Robson. Acompanhei ele no mirim, no juvenil, nos juniores, sempre deixei ele na maior estica! Aí quando subiu para o time de cima, se envolveu com uma maria chuteira que deixou ele sem um centavo. Quem mandou ser burro? Hoje é masters. Eles vão para o interior, e eu vou junto no ônibus. Domingo tem jogo lá em Paracambi.
Claro que eu preferia estar num time da primeira divisão, mas o tempo passa. É rápido demais da conta. A água esquentou. Vou lá passar o café. Não, não é na meia. Bobinho."

O melhor técnico
Quem é o melhor técnico do Campeonato Brasileiro da Série A? Luxemburgo? É uma boa resposta, afinal o time está bem montado e é líder do campeonato. Mas, se pensarmos numa relação custo/benefício, ou seja, quem fez mais pontos com um elenco mais barato, a coisa muda de figura. Neste caso, destaco quatro nomes: Tite, que dirige um modesto mas eficiente São Caetano, dono da melhor defesa do campeonato; Muricy Ramalho, que trouxe o Internacional de volta aos grandes, mesmo sem ter uma estrela no time; Cuca, que foi bem no Paraná e, depois, participou da impressionante escalada do Goiás; e Bonamigo, que formou um Coritiba muito equilibrado em todos os setores do campo e deve conseguir classificá-lo para a Taça Libertadores.

E-mail torero@uol.com.br


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