|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Minhas bonecas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
"Sério? Você quer me entrevistar? Mas eu sou só o roupeiro. Não, é claro que quero falar. Eu adoro falar. E tenho muita
história. Já trabalhei até no Botafogo. Por que eu saí? Intriga. Disseram que eu e um menino dos
juvenis fizemos coisa ali no vestiário. Mas foi mentira! No vestiário, não. É meu local de trabalho.
E eu sou um bom profissional.
Bom, não. Superbom! Você quer
um café? Eu passo. Não, não passo na meia, não. Bobinho. Tá
bom, eu falo da minha vida. Eu
adoro falar.
Quando eu comecei? Ih, faz
tempo. Tempo demais da conta.
Final dos anos 60. Lá em Minas.
Eu não era bom no futebol. Nem
no gol. Mas sempre ficava vendo
os meninos jogarem. Então,
quando eles formaram um time
na rua, me colocaram como roupeiro. Eu adorei aquilo. Levava a
roupa toda para casa e lavava de
noite, escondido dos meus pais. Ô
tempo difícil! As camisas não
eram como as de hoje. Não tinha
esse negócio de sintético. Era tudo
algodão. Você precisava lavar na
mão para elas não ficarem amareladas. Uma a uma, no tanque.
E, às vezes, até tinha que bordar
um distintivo, um número que
despregava. Hoje a profissão é
moleza, qualquer um faz o serviço. Mas sem amor. Já viu as camisas todas juntas no varal? Coisa
mais linda do mundo!
Então, mas onde eu estava? Ah,
meu começo. Um dia, o roupeiro
do time da cidade engravidou a
filha do presidente e foi mandado
embora. Uns conhecidos me indicaram, e o presidente me empregou. No dia que assinei o contrato
ele me disse: "Pelo menos com você não vou ter esse tipo de problema". Não teve. Mas o filho dele até
chorou quando me despediram.
Daí que vim pro Rio.
Pra mim é o melhor emprego do
mundo. Todo dia eu vejo as duas
coisas que eu mais gosto. Só porque sou assim não posso gostar de
futebol? Claro que posso.
Quando os jogadores se trocam?
Abro bem o olho. Mas já acostumei um tanto. Sabe ginecologista?
Então, é igual. De ver demais a
gente enjoa.
Cheiro de chulé? Gosto. Prefiro
suor, mais azedinho. Melhor que
isso é ver o time entrando em
campo. Nunca tive boneca, eles
são as minhas.
Amizades? Fiz muita. Às vezes,
encontro meninos que eu criei,
que eu ensinei a dar os primeiros
passos por aí. Uns fingem que
nem me conhecem, mas tem outros que me cumprimentam,
apresentam filho, mulher. Se elas
soubessem, ai, ai...
Mas ando calminho já tem
anos. O nome? Robson. Acompanhei ele no mirim, no juvenil, nos
juniores, sempre deixei ele na
maior estica! Aí quando subiu para o time de cima, se envolveu
com uma maria chuteira que deixou ele sem um centavo. Quem
mandou ser burro? Hoje é masters. Eles vão para o interior, e eu
vou junto no ônibus. Domingo
tem jogo lá em Paracambi.
Claro que eu preferia estar num
time da primeira divisão, mas o
tempo passa. É rápido demais da
conta. A água esquentou. Vou lá
passar o café. Não, não é na meia.
Bobinho."
O melhor técnico
Quem é o melhor técnico do
Campeonato Brasileiro da Série
A? Luxemburgo? É uma boa
resposta, afinal o time está bem
montado e é líder do campeonato. Mas, se pensarmos numa
relação custo/benefício, ou seja,
quem fez mais pontos com um
elenco mais barato, a coisa muda de figura. Neste caso, destaco quatro nomes: Tite, que dirige um modesto mas eficiente
São Caetano, dono da melhor
defesa do campeonato; Muricy
Ramalho, que trouxe o Internacional de volta aos grandes,
mesmo sem ter uma estrela no
time; Cuca, que foi bem no Paraná e, depois, participou da
impressionante escalada do
Goiás; e Bonamigo, que formou
um Coritiba muito equilibrado
em todos os setores do campo e
deve conseguir classificá-lo para a Taça Libertadores.
E-mail torero@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Cinturões Próximo Texto: Futebol: Justiça do PA devolve pontos ao Paysandu Índice
|