São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2001

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FUTEBOL

Tribunal Superior do Trabalho já espera uma série de ações dos clubes

Cedo ou tarde, Legislativo defende fim da lei do passe

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

Apesar da posição da Câmara favorável ao adiamento do fim do passe por 90 dias e da do Senado, contra, pelo menos um consenso existe entre as duas Casas.
Com a extinção em março, como prevê a Lei Pelé, ou em junho, como propõe a cúpula da CPI da CBF/Nike, ambas as comissões concordam que o ideal é, de fato, liberar o jogador do clube caso o atleta esteja sem contrato -em outras palavras, promover o extermínio do passe.
Na Câmara, Sílvio Torres (PSDB-SP) é contra o passe, que chama de um anacronismo da legislação brasileira. ""Em tese, sou contra o passe. Não tem sentido um clube ser dono do trabalho de um jogador. O atleta deve ter o direito de escolher onde quer jogar", disse o deputado, que ocupa a função de relator da CPI da CBF.
No Senado, Geraldo Althoff (PFL-SC) e Álvaro Dias (PSDB-PR), relator e presidente da CPI do Futebol, respectivamente, também já se mostraram favoráveis à extinção do passe. Álvaro Dias chegou a compará-lo à escravidão do período colonial.
Para o senador Maguito Vilela (PMDB-GO), que comandou a comissão no Congresso que alterou no ano passado os principais pontos da Lei Pelé, a extinção do passe foi e continua sendo defendida pela maior parte dos deputados e senadores. A exceção é para a bancada do futebol, nome dado ao grupo formado por políticos ligados a clubes, federações estaduais e à própria CBF.
Entre os ""chefões" das CPIs sobre futebol quem tem a postura mais branda é Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da que investiga o contrato entre a Nike e a CBF. Ele tem se mostrado preocupado com os clubes pequenos, muitos dos quais dizem sobreviver graças à venda do passe de atletas revelados por eles, e quer uma ""solução intermediária".
Para Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, se de fato o passe for extinto em março, haverá uma enxurrada de ações na Justiça.
Almir Pazzianotto, presidente do Tribunal Superior do Trabalho, também se mostra preocupado com o assunto.
O primeiro caso polêmico no Brasil está se dando com Ronaldinho, atacante do Grêmio, que assinou contrato com o Paris Saint-Germain, da França.
Sem contrato com o clube gaúcho desde o último dia 15, o atleta, por intermédio de seus procuradores e advogados, negociou sua transferência para o PSG. Ao Grêmio, não caberia um centavo.
José Alberto Guerreiro, presidente do clube gaúcho, disse que o patrimônio do Grêmio estava sendo roubado -ou confiscado, segundo Fábio Koff- e, por isso, entrou na Justiça.
O passe do atleta foi estipulado na Federação Gaúcha de Futebol em cerca de R$ 84 milhões.
Eric Levoy, representante do PSG no Brasil, diz que, como o único vínculo de um jogador com o clube passa a ser o contrato e, no caso de Ronaldinho, ele venceu no último dia 15, o atleta pode ir para onde quiser. ""Durante a vigência do contrato, se o clube perder o jogador, caso ele queira ir para outro time, tem de ser ressarcido, claro. Mas com o Ronaldinho é diferente, não havia mais contrato", afirmou Levoy.
O Grêmio, por sua vez, diz que não é bem assim. E se diz traído pelo atacante, que teria assinado um pré-contrato com o PSG ainda em 2000, quando continuava sob contrato com os gaúchos.
Se for preciso, irá levar o caso à Fifa. Para evitar que a situação se estenda por meses e meses e Ronaldinho não possa estrear na Europa neste ano, o PSG teria oferecido US$ 5 milhões ao Grêmio. O time gaúcho diz que não aceitou.

Lobby
Passado o Carnaval, tanto o Senado como a Câmara devem levar suas propostas -a da segunda para adiar a data do fim do passe- a Lars Grael, iatista que assumiu a função de secretário nacional dos Esportes.
Na avaliação do Senado, Grael deve ficar contrário à mudança de data -de março para junho.
No ano passado, quando a secretaria era comandada por José Otávio Germano, a avaliação era diferente.
Ligado a clubes de futebol -acabou deixando o cargo no governo para assumir a vice-presidência de futebol do Grêmio-, Germano tinha posição semelhante à do Clube dos 13, que reúne 20 dos principais times do país e defende a manutenção do passe.
A associação, inclusive, tem feito forte lobby em Brasília para conseguir apoio dentro do Ministério dos Esportes contra a extinção do passe.
Além de Germano, Álvaro Melo Filho, que atua como consultor jurídico do Clube dos 13, e Paulo Brossard, ex-ministro da Justiça cujo escritório de advocacia tem defendido a entidade, estariam fazendo força para a proposta da Câmara ser aprovada.
Entre os deputados federais, com o enfraquecimento de Eurico Miranda, presidente do Vasco, é Luciano Bivar, que comanda o Sport, quem tem feito lobby em favor da posição dos principais clubes brasileiros.



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