São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Riqueza restrita faz crescer índice de atletas pobres

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Os ricos do futebol são cada vez mais exceções no Brasil.
De acordo com um levantamento feito pela Folha com base em documentos do Departamento de Registro e Transferência da CBF, o percentual de jogadores que recebem mais de 20 salários mínimos (R$ 3.020,00) está diminuindo a cada ano desde 1997.
No ano passado, somente 756 dos 22.585 atletas registrados na entidade ocuparam a elite do futebol brasileiro. Ou seja, apenas 3,35% dos jogadores com contratos arquivados na CBF recebem mais de 20 salários mínimos.
A queda livre da participação dos ricos do futebol no bolo salarial dos jogadores brasileiros teve início há quatro anos.
Em 1997, foi constatado que 5,2% dos atletas ganhavam mais de 20 salários mínimos.
No ano seguinte, a participação dos ricos do futebol caiu para 4,3%. Em 1999, houve nova queda: 3,7% dos jogadores recebiam mais de 20 salários mínimos.
Os números desfazem o mito de vida glamourosa dos jogadores.
Os contratos milionários assinados pelo atacante Edílson e pelo meia Petkovic com o Flamengo são raridades.
No ano passado, o Flamengo, financiado pela parceria com a ISL, uma das gigantes do marketing esportivo mundial, decidiu pagar mais de R$ 200 mil mensais para contar com os jogadores no time.
Na época, o atacante Denílson e o meia Alex, que já deixaram o clube, ganharam também um salário em patamar semelhante.
Apesar das altas cifras divulgadas pelos grandes clubes do país na contratação de reforços no ano passado, a realidade é outra.
Resumindo: 86,54% dos jogadores (19.546) registrados na CBF ganharam por mês até R$ 302,00 -sendo que 44,91%, ou 10.145 atletas, receberam apenas um salário mínimo mensal.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Alfredo Sampaio, o empobrecimento dos jogadores é uma realidade.
""A cada ano que passa, os jogadores ficam em uma situação pior", disse o sindicalista.
""A pesquisa só demonstra que o lobby articulado pelos dirigentes de clubes para adiar o passe livre como se fosse uma tentativa de ajudar os atletas é uma mentira", afirmou Sampaio.
""Mais de 90% dos que recebem até dois salários mínimos já têm o passe livre. Apenas os jogadores ricos é que têm o seu passe preso ao clube. Os dirigentes não estão querendo ajudar os atletas. Na verdade, eles não querem é abrir mão de poder negociar os seus jogadores por quantias milionárias", acrescentou.
Os dirigentes de grandes clubes do país estão fazendo lobby em Brasília para tentar adiar a entrada em vigor do artigo da Lei Pelé que dará passe livre aos jogadores no dia 26 de março.
Os números no Departamento de Registro e Transferência da CBF são obtidos com base na declaração dos clubes.
Todos os contratos são registrados no departamento.
Como o órgão não tem poder de fiscalizar, a estatística apresenta algumas distorções, de acordo com o sindicalista.
Muitos jogadores assinam contratos no valor de um salário mínimo, mas acabam recebendo por fora até dez vezes mais.
Além dos baixos salários, Sampaio afirma que os atletas de futebol convivem com outra realidade: o desemprego.
""A pesquisa mostra que a maioria dos jogadores recebe salários baixíssimos. Mesmo assim, há uma outra realidade. Além de empobrecidos, muitos jogadores estão desempregados pelo país."



Texto Anterior: Futebol: Prezado Afonsinho vê tráfico no passe
Próximo Texto: Sindicatos tentam estabelecer um piso salarial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.