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Riqueza restrita faz crescer índice de atletas pobres
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Os ricos do futebol são cada vez
mais exceções no Brasil.
De acordo com um levantamento feito pela Folha com base
em documentos do Departamento de Registro e Transferência da
CBF, o percentual de jogadores
que recebem mais de 20 salários
mínimos (R$ 3.020,00) está diminuindo a cada ano desde 1997.
No ano passado, somente 756
dos 22.585 atletas registrados na
entidade ocuparam a elite do futebol brasileiro. Ou seja, apenas
3,35% dos jogadores com contratos arquivados na CBF recebem
mais de 20 salários mínimos.
A queda livre da participação
dos ricos do futebol no bolo salarial dos jogadores brasileiros teve
início há quatro anos.
Em 1997, foi constatado que
5,2% dos atletas ganhavam mais
de 20 salários mínimos.
No ano seguinte, a participação
dos ricos do futebol caiu para
4,3%. Em 1999, houve nova queda: 3,7% dos jogadores recebiam
mais de 20 salários mínimos.
Os números desfazem o mito de
vida glamourosa dos jogadores.
Os contratos milionários assinados pelo atacante Edílson e pelo meia Petkovic com o Flamengo
são raridades.
No ano passado, o Flamengo, financiado pela parceria com a ISL,
uma das gigantes do marketing
esportivo mundial, decidiu pagar
mais de R$ 200 mil mensais para
contar com os jogadores no time.
Na época, o atacante Denílson e
o meia Alex, que já deixaram o
clube, ganharam também um salário em patamar semelhante.
Apesar das altas cifras divulgadas pelos grandes clubes do país
na contratação de reforços no ano
passado, a realidade é outra.
Resumindo: 86,54% dos jogadores (19.546) registrados na CBF
ganharam por mês até R$ 302,00
-sendo que 44,91%, ou 10.145
atletas, receberam apenas um salário mínimo mensal.
De acordo com o presidente do
Sindicato dos Atletas de Futebol
do Estado do Rio de Janeiro, Alfredo Sampaio, o empobrecimento dos jogadores é uma realidade.
""A cada ano que passa, os jogadores ficam em uma situação
pior", disse o sindicalista.
""A pesquisa só demonstra que o
lobby articulado pelos dirigentes
de clubes para adiar o passe livre
como se fosse uma tentativa de
ajudar os atletas é uma mentira",
afirmou Sampaio.
""Mais de 90% dos que recebem
até dois salários mínimos já têm o
passe livre. Apenas os jogadores
ricos é que têm o seu passe preso
ao clube. Os dirigentes não estão
querendo ajudar os atletas. Na
verdade, eles não querem é abrir
mão de poder negociar os seus jogadores por quantias milionárias", acrescentou.
Os dirigentes de grandes clubes
do país estão fazendo lobby em
Brasília para tentar adiar a entrada em vigor do artigo da Lei Pelé
que dará passe livre aos jogadores
no dia 26 de março.
Os números no Departamento
de Registro e Transferência da
CBF são obtidos com base na declaração dos clubes.
Todos os contratos são registrados no departamento.
Como o órgão não tem poder de
fiscalizar, a estatística apresenta
algumas distorções, de acordo
com o sindicalista.
Muitos jogadores assinam contratos no valor de um salário mínimo, mas acabam recebendo por
fora até dez vezes mais.
Além dos baixos salários, Sampaio afirma que os atletas de futebol convivem com outra realidade: o desemprego.
""A pesquisa mostra que a maioria dos jogadores recebe salários
baixíssimos. Mesmo assim, há
uma outra realidade. Além de
empobrecidos, muitos jogadores
estão desempregados pelo país."
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