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FUTEBOL
De mal com a massa
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Quando escrevi aqui, no sábado, que o torcedor de futebol é volúvel e imediatista, eu não
tinha idéia do que aconteceria
ontem no Parque Antarctica, no
segundo tempo de Palmeiras 4x3
América.
Irritada com o empate sem gols
do primeiro tempo, a torcida alviverde hostilizava francamente a
equipe, sobretudo seu maior astro, Alex.
Quando o América, lanterna do
campeonato, abriu o placar, os
torcedores foram à loucura. Passaram a gritar "olé" a cada troca
de passes do adversário e a xingar
de "Timinho" seu próprio clube.
Graças a Arce (para variar),
que deu dois cruzamentos perfeitos para Christian e Muñoz, antes
de fazer seu próprio gol, a equipe
verde virou a partida e, aos trancos, reconquistou a massa alviverde.
Pois bem. Que a torcida é passional e injusta a gente já sabe.
Cabe agora observar como jogadores e técnicos reagem a essa
pressão.
As reações de ontem foram significativas. Christian, ao fazer o
primeiro gol, negou-se a comemorar. Virou de costas para a torcida, fechou a cara e voltou rápido
para seu campo.
Muñoz, ao fazer o seu, correu
direto ao banco de reservas para
abraçar Alex, num evidente desagravo ao companheiro pelas vaias
recebidas em campo.
O próprio Arce, por sua vez, depois de marcar seu gol de pênalti,
foi tirar satisfações com o zagueiro adversário que lhe azucrinara
a paciência antes da cobrança.
Por fim, Juninho, que entrara
em campo no momento de maior
tensão, fez um belo gol, abriu um
grande sorriso e correu para a galera mostrando uma camiseta
com a inevitável mensagem religiosa.
Cada um deles enviou sua mensagem às arquibancadas. A de
Christian foi: "Estou de mal com
vocês". A de Muñoz: "Sou solidário a Alex". A de Arce: "Meu inimigo é o de camisa vermelha". E a
de Juninho: "Alegria, pessoal.
Deus ajudou e saímos do sufoco".
Outro exemplo notável desse
diálogo entre o campo e a arquibancada foi dado sábado pelo
técnico Oswaldo de Oliveira, do
Fluminense.
O tricolor carioca, como se sabe,
perdeu da Lusa no Maracanã e
foi hostilizado por sua torcida. A
cada vez que substituía um jogador vaiado, Oswaldo fazia questão de abraçá-lo ostensivamente
diante da massa, numa manifestação inequívoca de solidariedade. Como se dissesse: "Estamos
juntos nessa".
Existe entre o gramado e as arquibancadas um canal direto de
comunicação.
Uma comunicação muito mais
passional que racional, que não
passa necessariamente pela palavra, mas que revela, sob condições
de extrema tensão, o caráter de
cada um.
O Palmeiras assumiu, no final
da rodada, a liderança do Rio-SP.
Mas é uma conquista precária.
Não só porque tem um monte de
clubes fungando no seu cangote,
mas principalmente porque o futebol que vem demonstrando não
está convencendo ninguém.
Com Lopes machucado e Alex
murchando diante das vaias da
torcida, as possibilidades criativas da equipe ficam muito reduzidas. E ontem o América fez, no
Parque Antarctica, mais gols que
em todo o resto do campeonato.
Quando Arce tiver um resfriado
ou estiver servindo sua seleção, o
que será do Palmeiras?
Épico luso
A vitória da Lusa no Maracanã foi heróica, sobretudo por
ter jogado meia partida com
um atleta a menos. Waldyr
Espinosa começou com o pé
direito. O time surpreendeu o
tricolor partindo para cima
desde o início. Aos 15min, já
vencia por 2 a 0. O irônico é
que, mesmo fazendo uma
campanha razoável e tendo
cinco clubes cariocas atrás
dela, a Lusa ainda corre o risco do rebaixamento, graças
ao estranho regulamento.
A lesma lerda
O governo prometeu uma
medida provisória para moralizar a CBF, os dirigentes
posaram para fotos anunciando um calendário quadrienal, muita gente faturou
em cima do desejo geral de
mudanças. Mas a MP não
saiu, o calendário está sendo
rasgado, o "passe" sobrevive
e os velhos cartolas estão rindo à toa. Da nossa cara, claro.
E-mail - jgcouto@uol.com.br
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