São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2002

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FUTEBOL

De mal com a massa

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando escrevi aqui, no sábado, que o torcedor de futebol é volúvel e imediatista, eu não tinha idéia do que aconteceria ontem no Parque Antarctica, no segundo tempo de Palmeiras 4x3 América.
Irritada com o empate sem gols do primeiro tempo, a torcida alviverde hostilizava francamente a equipe, sobretudo seu maior astro, Alex.
Quando o América, lanterna do campeonato, abriu o placar, os torcedores foram à loucura. Passaram a gritar "olé" a cada troca de passes do adversário e a xingar de "Timinho" seu próprio clube.
Graças a Arce (para variar), que deu dois cruzamentos perfeitos para Christian e Muñoz, antes de fazer seu próprio gol, a equipe verde virou a partida e, aos trancos, reconquistou a massa alviverde.
Pois bem. Que a torcida é passional e injusta a gente já sabe. Cabe agora observar como jogadores e técnicos reagem a essa pressão.
As reações de ontem foram significativas. Christian, ao fazer o primeiro gol, negou-se a comemorar. Virou de costas para a torcida, fechou a cara e voltou rápido para seu campo.
Muñoz, ao fazer o seu, correu direto ao banco de reservas para abraçar Alex, num evidente desagravo ao companheiro pelas vaias recebidas em campo.
O próprio Arce, por sua vez, depois de marcar seu gol de pênalti, foi tirar satisfações com o zagueiro adversário que lhe azucrinara a paciência antes da cobrança.
Por fim, Juninho, que entrara em campo no momento de maior tensão, fez um belo gol, abriu um grande sorriso e correu para a galera mostrando uma camiseta com a inevitável mensagem religiosa.
Cada um deles enviou sua mensagem às arquibancadas. A de Christian foi: "Estou de mal com vocês". A de Muñoz: "Sou solidário a Alex". A de Arce: "Meu inimigo é o de camisa vermelha". E a de Juninho: "Alegria, pessoal. Deus ajudou e saímos do sufoco".
Outro exemplo notável desse diálogo entre o campo e a arquibancada foi dado sábado pelo técnico Oswaldo de Oliveira, do Fluminense.
O tricolor carioca, como se sabe, perdeu da Lusa no Maracanã e foi hostilizado por sua torcida. A cada vez que substituía um jogador vaiado, Oswaldo fazia questão de abraçá-lo ostensivamente diante da massa, numa manifestação inequívoca de solidariedade. Como se dissesse: "Estamos juntos nessa".
Existe entre o gramado e as arquibancadas um canal direto de comunicação.
Uma comunicação muito mais passional que racional, que não passa necessariamente pela palavra, mas que revela, sob condições de extrema tensão, o caráter de cada um.

O Palmeiras assumiu, no final da rodada, a liderança do Rio-SP. Mas é uma conquista precária. Não só porque tem um monte de clubes fungando no seu cangote, mas principalmente porque o futebol que vem demonstrando não está convencendo ninguém.
Com Lopes machucado e Alex murchando diante das vaias da torcida, as possibilidades criativas da equipe ficam muito reduzidas. E ontem o América fez, no Parque Antarctica, mais gols que em todo o resto do campeonato. Quando Arce tiver um resfriado ou estiver servindo sua seleção, o que será do Palmeiras?



Épico luso
A vitória da Lusa no Maracanã foi heróica, sobretudo por ter jogado meia partida com um atleta a menos. Waldyr Espinosa começou com o pé direito. O time surpreendeu o tricolor partindo para cima desde o início. Aos 15min, já vencia por 2 a 0. O irônico é que, mesmo fazendo uma campanha razoável e tendo cinco clubes cariocas atrás dela, a Lusa ainda corre o risco do rebaixamento, graças ao estranho regulamento.

A lesma lerda
O governo prometeu uma medida provisória para moralizar a CBF, os dirigentes posaram para fotos anunciando um calendário quadrienal, muita gente faturou em cima do desejo geral de mudanças. Mas a MP não saiu, o calendário está sendo rasgado, o "passe" sobrevive e os velhos cartolas estão rindo à toa. Da nossa cara, claro.


E-mail - jgcouto@uol.com.br



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