São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

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JUCA KFOURI

E Robinho está roubado

O ex-ídolo santista se deslumbra e não cumpre com o que dele se esperava pelo talento inegável que tem

ROBINHO NÃO interessaria mais ao Real Madrid na próxima temporada. Estaria à venda.
Pé-de-meia, sapato e chuteira mais do que garantidos, o brasileiro não vingou na Espanha. Não seria o primeiro nem o último caso, embora seja dos mais surpreendentes, mesmo neste Real que virou um invencível cemitério de galácticos. Robinho já está na história do Santos, como Juari, Pita e Diego também estão.
Mas ainda está longe de entrar na história do futebol, como Zito, por exemplo, ou mesmo Coutinho, só para ficar em jogadores do alvinegro, que não necessariamente brilharam na seleção brasileira -caso de Coutinho, jamais de Zito. Note que, para evitar covardia, Pelé nem está citado. Embora a comparação com o Rei tenha sido inevitável quando Robinho surgiu, magrinho, pernas finas, cara de menino, aos 17 anos, sorriso cativante nos lábios. Tinha o número 7 nas costas da camisa branca, não o 10, mas era aparentemente o herdeiro mais certo para suceder o Rei. Por onde Robinho se meteu que seu talento não desabrochou nos gramados europeus? Estará arrependido de ter saído tão cedo?
A segunda resposta é fácil, porque, com o futuro garantido numa carreira tão repleta de riscos, nada indica o menor resquício de arrependimento. Ainda mais depois do trauma do seqüestro de sua mãe, violência inimaginável para quem não tenha convivido com um. A primeira resposta é que são elas. Mas não é de hoje que Robinho dá sinais de que a glória repentina foi demasiada para sua cabeça. E a sua natural simpatia passou a dar o ar da graça apenas sob encomenda, em circunstâncias especiais, sob as luzes da TV.
Talvez até por timidez, embora nada indique que seja tímido, Robinho passou a tratar seus fãs com deplorável desdém. Na verdade, quando a cabeça não suporta, o rosto se cobre, e Robinho, infelizmente, mascarou. Passou a se achar, como se diz hoje em dia. Pior: passou a se achar mais do que, de fato, é. Aliás, eis aí uma característica dos ídolos modernos, ignorantes, por um lado, do comportamento que caracterizava os mais antigos e, por outro, naturalmente convencidos de que as coisas são mais fáceis do que na verdade são na vida, problemas materiais resolvidos nem bem saíram das fraldas.
Ora, antes não era assim, era preciso mesmo matar um leão por dia para alcançar a independência, e a relação com os admiradores não permitia a empáfia dos arrogantes. Que o diga um Nilton Santos, que, por sinal, Robinho disse não saber quem era certa vez, quando a "Enciclopédia" saiu em defesa dele, vítima das botinadas de zagueiros inescrupulosos. O Robinho, por exemplo, que estava na Alemanha durante a Copa, mesmo como reserva (o que foi apenas mais um equívoco de Carlos Alberto Parreira), não tinha nada a ver com aquele que brilhou e pedalou no Santos bicampeão brasileiro. Rigorosamente nada. Em vez de se espelhar na humildade de um Cafu, parece que a proximidade de um Roberto Carlos falou mais alto. Só que o lateral-esquerdo, com todos os seus pecados, já está na história como um dos maiores vencedores que o futebol já teve, e Robinho, ao contrário, ainda tem muito chão a percorrer.
Que corrija a rota com a maior urgência, porque não lhe faltam talento nem qualidades pessoais para tanto, ao contrário. Aos 23 anos, nada impede que Robinho não seja apenas mais um emergente, um rico coitado.

blogdojuca@uol.com.br


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