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JUCA KFOURI
E Robinho está roubado
O ex-ídolo santista se deslumbra e não cumpre com o que dele se esperava pelo talento inegável que tem
ROBINHO NÃO interessaria
mais ao Real Madrid na próxima temporada. Estaria à
venda.
Pé-de-meia, sapato e chuteira
mais do que garantidos, o brasileiro
não vingou na Espanha.
Não seria o primeiro nem o último
caso, embora seja dos mais surpreendentes, mesmo neste Real
que virou um invencível cemitério
de galácticos.
Robinho já está na história do
Santos, como Juari, Pita e Diego
também estão.
Mas ainda está longe de entrar na
história do futebol, como Zito, por
exemplo, ou mesmo Coutinho, só
para ficar em jogadores do alvinegro, que não necessariamente brilharam na seleção brasileira -caso
de Coutinho, jamais de Zito.
Note que, para evitar covardia, Pelé nem está citado.
Embora a comparação com o Rei
tenha sido inevitável quando Robinho surgiu, magrinho, pernas finas,
cara de menino, aos 17 anos, sorriso
cativante nos lábios.
Tinha o número 7 nas costas da
camisa branca, não o 10, mas era
aparentemente o herdeiro mais certo para suceder o Rei.
Por onde Robinho se meteu que
seu talento não desabrochou nos
gramados europeus?
Estará arrependido de ter saído
tão cedo?
A segunda resposta é fácil, porque,
com o futuro garantido numa carreira tão repleta de riscos, nada indica o menor resquício de arrependimento. Ainda mais depois do trauma do seqüestro de sua mãe, violência inimaginável para quem não tenha convivido com um.
A primeira resposta é que são elas.
Mas não é de hoje que Robinho dá
sinais de que a glória repentina foi
demasiada para sua cabeça.
E a sua natural simpatia passou a
dar o ar da graça apenas sob encomenda, em circunstâncias especiais,
sob as luzes da TV.
Talvez até por timidez, embora
nada indique que seja tímido, Robinho passou a tratar seus fãs com deplorável desdém.
Na verdade, quando a cabeça não
suporta, o rosto se cobre, e Robinho,
infelizmente, mascarou.
Passou a se achar, como se diz hoje
em dia. Pior: passou a se achar mais
do que, de fato, é.
Aliás, eis aí uma característica dos
ídolos modernos, ignorantes, por
um lado, do comportamento que caracterizava os mais antigos e, por
outro, naturalmente convencidos
de que as coisas são mais fáceis do
que na verdade são na vida, problemas materiais resolvidos nem bem
saíram das fraldas.
Ora, antes não era assim, era preciso mesmo matar um leão por dia
para alcançar a independência, e a
relação com os admiradores não
permitia a empáfia dos arrogantes.
Que o diga um Nilton Santos, que,
por sinal, Robinho disse não saber
quem era certa vez, quando a "Enciclopédia" saiu em defesa dele, vítima
das botinadas de zagueiros inescrupulosos.
O Robinho, por exemplo, que estava na Alemanha durante a Copa,
mesmo como reserva (o que foi apenas mais um equívoco de Carlos Alberto Parreira), não tinha nada a ver
com aquele que brilhou e pedalou
no Santos bicampeão brasileiro. Rigorosamente nada.
Em vez de se espelhar na humildade de um Cafu, parece que a proximidade de um Roberto Carlos falou
mais alto. Só que o lateral-esquerdo,
com todos os seus pecados, já está na
história como um dos maiores vencedores que o futebol já teve, e Robinho, ao contrário, ainda tem muito
chão a percorrer.
Que corrija a rota com a maior urgência, porque não lhe faltam talento nem qualidades pessoais para
tanto, ao contrário.
Aos 23 anos, nada impede que Robinho não seja apenas mais um
emergente, um rico coitado.
blogdojuca@uol.com.br
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