São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Entre o gelo e a glória

Flávio Florido/Folha Imagem
Robinho sente fisgada na coxa ontem durante treino


JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A
BERGISCH GLADBACH

Robinho, 22, teve um início de sábado esfuziante. Deu entrevistas exclusivas, uma delas à Folha, em ritmo de celebridade. Seu bom humor era tanto que até a CBF o registrou em seu site. Com um cavaquinho nas mãos, cantava sambas com letras de sua autoria, ironizando seus companheiros.
Na chegada ao treino, esbanjava confiança para ganhar a posição de titular. Mas, no final das atividades, um chute e a expressão de dor. Uma fisgada no músculo reto anterior da coxa direita. E o atacante que nunca teve um problema sério virou dúvida para o jogo contra Gana, pelas oitavas-de-final da Copa, na terça-feira, em Dortmund.
"Ele está medicado, fazendo tratamento à base de gelo. Vamos aguardar a evolução e, se necessário, vamos pedir exames complementares de imagem", disse o médico José Luiz Runco, que apontou a lesão inicialmente como leve e não vetou o jogador, por ora, do jogo contra os africanos.
O técnico Carlos Alberto Parreira pediu prudência. "Antes de 24 horas, ninguém pode ter diagnóstico preciso de uma lesão muscular. É "cross fingers'", disse o treinador, gastando seu inglês para dizer que está de dedos cruzados.
A lesão deixou Robinho mais longe do paraíso. Mas ele crê que pode vencer a distância num salto. Se jogar os próximos jogos da Copa e fizer o que a torcida espera, acha que em breve pode ter glória e dinheiro como o duo Ronaldo-Ronaldinho. Agora, prefere a glória, segundo contou à Folha, falando nos jardins do Castelo de Lerbach, antes do treino, antes do gelo na coxa, ainda de chinelos.
"Na minha idade, busco a glória. Mas penso também no futuro", afirma o atacante.
Uma grande partida na Copa é o atalho para a glória e para o dinheiro. Não à toa, ele espera ser a revelação da competição: "Quero ser o destaque, a revelação. Quero ser lembrado como campeão do mundo".
O maior dorminhoco da seleção (dorme até dez horas por dia) sabe que não pode cochilar: "As pessoas falam que sou novo, que tenho outras Copas, mas estou trabalhando para jogar nesta. Não sei o que acontecerá no outro Mundial".
Por enquanto, ele é um astro de segunda grandeza, mas pode virar um semideus se fizer na Alemanha o que fazia na Vila Belmiro -seu pai notou que ele estreou no Santos com a camisa 23, a mesma da Copa.
No primeiro jogo da seleção, ele sentiu um frio na barriga que nunca havia sentido. Sua entrada acendeu o time. E, na última partida, quando jogou os 90 minutos, o Brasil fez sua melhor apresentação.
Mesmo longe da Vila, Robinho tem saudade dos seus tempos de Santos e, quando em má fase, vê DVDs com cenas de suas jogadas. "Adorava jogar no Santos. Conhecia todos os espaços da Vila. Era fera. Estava no vestiário, e a torcida toda cantando meu nome. Não via a hora de começar o jogo."
Na terça-feira, terá seu nome gritado pela torcida. Jogando, como quer. Ou no banco, caso a contusão incomode. De qualquer modo, será lembrado. Enquanto glória e fortuna não vêm, cumpre esse fado. De marcar. De ser lembrado. Se não (ainda) pelos madrilenos, pelos santistas. Se não (ainda) por Parreira, por quem aprecia o belo futebol.


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