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Entre o gelo e a glória
Flávio Florido/Folha Imagem
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Robinho sente fisgada na coxa ontem durante treino |
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A
BERGISCH GLADBACH
Robinho, 22, teve um início
de sábado esfuziante. Deu entrevistas exclusivas, uma delas
à Folha, em ritmo de celebridade. Seu bom humor era tanto
que até a CBF o registrou em
seu site. Com um cavaquinho
nas mãos, cantava sambas com
letras de sua autoria, ironizando seus companheiros.
Na chegada ao treino, esbanjava confiança para ganhar a
posição de titular. Mas, no final
das atividades, um chute e a expressão de dor. Uma fisgada no
músculo reto anterior da coxa
direita. E o atacante que nunca
teve um problema sério virou
dúvida para o jogo contra Gana,
pelas oitavas-de-final da Copa,
na terça-feira, em Dortmund.
"Ele está medicado, fazendo
tratamento à base de gelo. Vamos aguardar a evolução e, se
necessário, vamos pedir exames complementares de imagem", disse o médico José Luiz
Runco, que apontou a lesão inicialmente como leve e não vetou o jogador, por ora, do jogo
contra os africanos.
O técnico Carlos Alberto
Parreira pediu prudência. "Antes de 24 horas, ninguém pode
ter diagnóstico preciso de uma
lesão muscular. É "cross fingers'", disse o treinador, gastando seu inglês para dizer que
está de dedos cruzados.
A lesão deixou Robinho mais
longe do paraíso. Mas ele crê
que pode vencer a distância
num salto. Se jogar os próximos jogos da Copa e fizer o que
a torcida espera, acha que em
breve pode ter glória e dinheiro
como o duo Ronaldo-Ronaldinho. Agora, prefere a glória, segundo contou à Folha, falando
nos jardins do Castelo de Lerbach, antes do treino, antes do
gelo na coxa, ainda de chinelos.
"Na minha idade, busco a
glória. Mas penso também no
futuro", afirma o atacante.
Uma grande partida na Copa
é o atalho para a glória e para o
dinheiro. Não à toa, ele espera
ser a revelação da competição:
"Quero ser o destaque, a revelação. Quero ser lembrado como campeão do mundo".
O maior dorminhoco da seleção (dorme até dez horas por
dia) sabe que não pode cochilar: "As pessoas falam que sou
novo, que tenho outras Copas,
mas estou trabalhando para jogar nesta. Não sei o que acontecerá no outro Mundial".
Por enquanto, ele é um astro
de segunda grandeza, mas pode
virar um semideus se fizer na
Alemanha o que fazia na Vila
Belmiro -seu pai notou que
ele estreou no Santos com a camisa 23, a mesma da Copa.
No primeiro jogo da seleção,
ele sentiu um frio na barriga
que nunca havia sentido. Sua
entrada acendeu o time. E, na
última partida, quando jogou
os 90 minutos, o Brasil fez sua
melhor apresentação.
Mesmo longe da Vila, Robinho tem saudade dos seus tempos de Santos e, quando em má
fase, vê DVDs com cenas de
suas jogadas. "Adorava jogar no
Santos. Conhecia todos os espaços da Vila. Era fera. Estava
no vestiário, e a torcida toda
cantando meu nome. Não via a
hora de começar o jogo."
Na terça-feira, terá seu nome
gritado pela torcida. Jogando,
como quer. Ou no banco, caso a
contusão incomode. De qualquer modo, será lembrado. Enquanto glória e fortuna não
vêm, cumpre esse fado. De
marcar. De ser lembrado. Se
não (ainda) pelos madrilenos,
pelos santistas. Se não (ainda)
por Parreira, por quem aprecia
o belo futebol.
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