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Vexame contamina até Sarkozy
Presidente é alvo de críticas por ignorar greve geral e priorizar o futebol da seleção francesa
DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, cancelou
compromissos oficiais para
receber, ontem, no Palácio
do Eliseu o atacante Thierry
Henry, a pedido do jogador. Porta-voz do governo não divulgou o teor da conversa.
O encontro ocorreu enquanto mais de 800 mil pessoas, segundo números da
polícia, protestavam nas
ruas de várias cidades contra
a reforma da Previdência
proposta pelo governo.
A agenda de Sarkozy previa a participação em debates com ONGs sobre a reunião do G20 (grupo das 19
maiores economias do mundo, inclusive o Brasil, mais a
União Europeia) que ocorre amanhã em Toronto.
A seleção francesa, atual
vice-campeã mundial, precocemente eliminada do Mundial-2010 com duas derrotas
em três jogos e só um gol feito, chegou ontem ao país.
Malouda e Ribéry não seguiram a delegação. Cada um
fretou um avião particular. O
primeiro foi para Londres, e o
segundo, para Munique.
"Para Sarkozy, Henry vale
mais do que 3 bilhões [de pobres]", reagiu a direção da
Coordenação Sul, que agrupa cerca de 130 ONGs e associações francesas.
A atitude de Sarkozy foi
duramente criticada. Os sindicalistas disseram esperar
que os assuntos políticos recebam a mesma atenção do
governo que teve a participação da seleção na África.
"É uma indecência ver o
governo dar prioridade ao futebol em um dia de greve geral e demonstrações por toda
a França contrárias à reforma
da Previdência", disse Cecile
Duflot, secretária-geral do
Partido Verde francês.
A ministra do Esporte, Roselyne Bachelot, concorda
que futebol não é de responsabilidade do governo.
"Futebol é de responsabilidade da Federação Francesa de Futebol, mas constatei
o desastre de um time com
chefinhos de gangues, com
moleques apavorados e um
técnico sem autoridade."
A preocupação de Sarkozy
com a seleção pode estar ligada à popularidade.
Quando a França conquistou seu único título mundial,
em 1998, os índices de aceitação dos então presidente,
Jacques Chirac, e primeiro-
-ministro, Lionel Jospin, subiram cerca de 15%, segundo
publicou o "Le Monde".
O jornal também divulgou
uma pesquisa feita por um
banco holandês na qual o
PIB (Produto Interno Bruto)
anual de um país cujo time
de futebol conquista a Copa
do Mundo sobe 0,7%.
"A vitória provoca o aumento da confiança das pessoas", constata o estudo.
Com SAMY ADGHIRNI, de São Paulo,
e as agências de notícias
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