São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2010

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Vexame contamina até Sarkozy

Presidente é alvo de críticas por ignorar greve geral e priorizar o futebol da seleção francesa

DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, cancelou compromissos oficiais para receber, ontem, no Palácio do Eliseu o atacante Thierry Henry, a pedido do jogador. Porta-voz do governo não divulgou o teor da conversa.
O encontro ocorreu enquanto mais de 800 mil pessoas, segundo números da polícia, protestavam nas ruas de várias cidades contra a reforma da Previdência proposta pelo governo.
A agenda de Sarkozy previa a participação em debates com ONGs sobre a reunião do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo, inclusive o Brasil, mais a União Europeia) que ocorre amanhã em Toronto.
A seleção francesa, atual vice-campeã mundial, precocemente eliminada do Mundial-2010 com duas derrotas em três jogos e só um gol feito, chegou ontem ao país. Malouda e Ribéry não seguiram a delegação. Cada um fretou um avião particular. O primeiro foi para Londres, e o segundo, para Munique.
"Para Sarkozy, Henry vale mais do que 3 bilhões [de pobres]", reagiu a direção da Coordenação Sul, que agrupa cerca de 130 ONGs e associações francesas.
A atitude de Sarkozy foi duramente criticada. Os sindicalistas disseram esperar que os assuntos políticos recebam a mesma atenção do governo que teve a participação da seleção na África.
"É uma indecência ver o governo dar prioridade ao futebol em um dia de greve geral e demonstrações por toda a França contrárias à reforma da Previdência", disse Cecile Duflot, secretária-geral do Partido Verde francês.
A ministra do Esporte, Roselyne Bachelot, concorda que futebol não é de responsabilidade do governo. "Futebol é de responsabilidade da Federação Francesa de Futebol, mas constatei o desastre de um time com chefinhos de gangues, com moleques apavorados e um técnico sem autoridade."
A preocupação de Sarkozy com a seleção pode estar ligada à popularidade. Quando a França conquistou seu único título mundial, em 1998, os índices de aceitação dos então presidente, Jacques Chirac, e primeiro- -ministro, Lionel Jospin, subiram cerca de 15%, segundo publicou o "Le Monde".
O jornal também divulgou uma pesquisa feita por um banco holandês na qual o PIB (Produto Interno Bruto) anual de um país cujo time de futebol conquista a Copa do Mundo sobe 0,7%.
"A vitória provoca o aumento da confiança das pessoas", constata o estudo.

Com SAMY ADGHIRNI, de São Paulo, e as agências de notícias


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