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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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FUTEBOL

Os técnicos: Ernulfo

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Desde os tempos mais remotos, técnicos e estudiosos do futebol vivem atrás de novidades, de revoluções estratégicas que façam seus times renderem mais.
Quem nunca ouviu falar do 2-3-5 ou do 4-3-3? Quem não se lembra do famoso "1", ligando os defensores aos atacantes? E, na última Copa, quem não ficou enjoado de tanto ouvir falar em 3-5-2?
Todos estes números me fazem lembrar de um célebre episódio, ocorrido há muitos anos na cidade de Cananéia, no litoral paulista.
Havia lá um time chamado ABC, eterno saco de pancada das competições regionais. Entretanto tudo mudou quando a equipe passou a ser dirigida por Ernulfo, o professor de português da cidade, um apaixonado por inovações táticas.
Ernulfo lia tudo a respeito da teoria do futebol. Porém, ele não baseava seus estudos nos números, e sim nas letras. Era um fã ardoroso do sistema WM e dedicou-se a elaborar estratégias inspiradas nas letras do alfabeto. Assim inventou o "Alphabetum bellicum", uma série de formações de ataque que imitavam o desenho das letras.
No início, os jogadores do ABC estranharam estas idéias, porém, acabaram se adaptando aos novos esquemas.
Algumas das mais famosas formações do clube cananeense foram a defesa em Y, com dois zagueiros à frente e um terceiro na sobra; e o ataque em V, com dois pontas bem abertos e um centroavante mais recuado.
Também foi tentado o ataque em X, com os dois laterais se projetando para os cantos opostos à sua posição original, mas este esquema logo foi abandonado, pois os jogadores do time chocavam-se uns contra os outros no meio do caminho.
De todo modo, ficaram célebres a marcação em O, cercando os armadores adversários até tomar a bola, e o contra-ataque em S, com variante para Z, que sempre desnorteava as defesas contrárias.
Adotando esse abecedário tático, o time brilhou na Copa Litoral Sul. Um a um, caíram o Desportivo Cajati, o Jacupiranguense, o Olímpia de Pedro de Toledo, o Atlético Itariri, o Ilha Comprida, o Grêmio de Iguape, o Real Miracatu, o Recreativo de Juquiá e, na semifinal, o Internacional de Pariquera-Açu.
Segundo a imprensa local, foram goleadas memoráveis e partidas de encher os olhos.
Para a decisão, diante de um tradicional adversário, o Comercial de Registro, Ernulfo resolveu adotar o revolucionário esquema em H.
O esquema em H consistia em concentrar jogadores nas laterais do campo, quatro em cada lado, deixando no meio apenas dois atletas, que seriam zagueiros, meio-campistas e atacantes.
Quando terminou a peleja, o placar mostrava 10 a 0. O ABC foi derrotado por um time que jogava com simplicidade, que apenas punha em prática o bê-á-bá do futebol.
Ernulfo teve que sair às pressas da cidade. Pelo que se conta, adotou a fuga em I.

RockGol
O RockGol é um divertido torneio de futebol entre músicos, transmitido pela MTV. A narração de Paulo Bonfá e os comentários de Marco Bianchi fazem uma sátira às transmissões esportivas e são quase tão engraçadas quanto as jogadas feitas pelos atletas (que, definitivamente, não jogam por música). Essa mistura deveria ser imitada por outros canais temáticos. Por exemplo, a TV Senado poderia aumentar sua audiência se promovesse jogos entre parlamentares (cuidando para não deixar Heloísa Helena e José Genoino no mesmo time), e o Canal Rural poderia transmitir um torneio entre bovinos, onde seria muito comum o drible da vaca. Mas meu sonho mesmo é ver um campeonato disputado pelas donas (belo cacófato) do Sexy Hot.

E-mail torero@uol.com.br


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