|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Os técnicos: Ernulfo
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Desde os tempos mais remotos, técnicos e estudiosos do
futebol vivem atrás de novidades,
de revoluções estratégicas que façam seus times renderem mais.
Quem nunca ouviu falar do 2-3-5 ou do 4-3-3? Quem não se lembra do famoso "1", ligando os defensores aos atacantes? E, na última Copa, quem não ficou enjoado de tanto ouvir falar em 3-5-2?
Todos estes números me
fazem lembrar de um célebre
episódio, ocorrido há muitos anos
na cidade de Cananéia, no litoral
paulista.
Havia lá um time chamado
ABC, eterno saco de pancada das
competições regionais. Entretanto tudo mudou quando a equipe
passou a ser dirigida por Ernulfo,
o professor de português da cidade, um apaixonado por inovações
táticas.
Ernulfo lia tudo a respeito da
teoria do futebol. Porém, ele não
baseava seus estudos nos números, e sim nas letras. Era um fã ardoroso do sistema WM e dedicou-se a elaborar estratégias inspiradas nas letras do alfabeto. Assim
inventou o "Alphabetum bellicum", uma série de formações de
ataque que imitavam o desenho
das letras.
No início, os jogadores do ABC
estranharam estas idéias, porém,
acabaram se adaptando aos novos esquemas.
Algumas das mais famosas formações do clube cananeense foram a defesa em Y, com dois zagueiros à frente e um terceiro na
sobra; e o ataque em V, com dois
pontas bem abertos e um centroavante mais recuado.
Também foi tentado o ataque
em X, com os dois laterais se projetando para os cantos opostos à
sua posição original, mas este esquema logo foi abandonado, pois
os jogadores do time chocavam-se
uns contra os outros no meio do
caminho.
De todo modo, ficaram célebres
a marcação em O, cercando os armadores adversários até tomar a
bola, e o contra-ataque em S, com
variante para Z, que sempre desnorteava as defesas contrárias.
Adotando esse abecedário tático, o time brilhou na Copa Litoral
Sul. Um a um, caíram o Desportivo Cajati, o Jacupiranguense, o
Olímpia de Pedro de Toledo, o
Atlético Itariri, o Ilha Comprida,
o Grêmio de Iguape, o Real Miracatu, o Recreativo de Juquiá e, na
semifinal, o Internacional de Pariquera-Açu.
Segundo a imprensa local, foram goleadas memoráveis e partidas de encher os olhos.
Para a decisão, diante de um
tradicional adversário, o Comercial de Registro, Ernulfo resolveu
adotar o revolucionário esquema
em H.
O esquema em H consistia em
concentrar jogadores nas laterais
do campo, quatro em cada lado,
deixando no meio apenas dois
atletas, que seriam zagueiros,
meio-campistas e atacantes.
Quando terminou a peleja, o
placar mostrava 10 a 0. O ABC foi
derrotado por um time que jogava com simplicidade, que apenas
punha em prática o bê-á-bá do
futebol.
Ernulfo teve que sair às pressas
da cidade. Pelo que se conta, adotou a fuga em I.
RockGol
O RockGol é um divertido torneio de futebol entre músicos,
transmitido pela MTV. A narração de Paulo Bonfá e os comentários de Marco Bianchi fazem uma sátira às transmissões
esportivas e são quase tão engraçadas quanto as jogadas feitas pelos atletas (que, definitivamente, não jogam por música). Essa mistura deveria ser
imitada por outros canais temáticos. Por exemplo, a TV Senado poderia aumentar sua audiência se promovesse jogos
entre parlamentares (cuidando
para não deixar Heloísa Helena
e José Genoino no mesmo time), e o Canal Rural poderia
transmitir um torneio entre bovinos, onde seria muito comum
o drible da vaca. Mas meu sonho mesmo é ver um campeonato disputado pelas donas
(belo cacófato) do Sexy Hot.
E-mail torero@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Os amigos de Tyson Próximo Texto: Viana, candidato único no RJ, ignora caos dos grandes Índice
|