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Nelsinho e chefe trocam farpas
Flavio Briatore, manda-chuva da Renault, diz que tempo de brasileiro na escuderia já se esgotou
Dirigente italiano ironiza as desculpas utilizadas por filho de Nelson Piquet para justificar seu mau desempenho nas corridas
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A BUDAPESTE
O que já não era bom ficou
ainda pior. Falta de comunicação, troca de acusações, reclamações dos dois lados. Esse é o
estágio atual da relação entre
Nelsinho Piquet e Flavio Briatore, seu chefe na Renault.
Uma parceria que começou
em 2006, quando o brasileiro
tornou-se piloto de testes da
equipe, e que foi se desgastando
ao passar do tempo, em parte
pela falta de bons resultados.
Em entrevista à imprensa
brasileira ontem, em Hungaroring, Briatore não poupou críticas a Nelsinho e deixou bem
claro seu descontentamento.
Mais que isso. Disse que o tempo do brasileiro já se esgotou.
Para piorar a situação, há
mais um indício de que Romain
Grosjean pode estar mais perto
da vaga de Nelsinho. Além de
ele já ter feito molde de banco e
treinado pit stops e largadas
com a Renault na semana passada, a reportagem da Folha
apurou que a Barwa Addax,
equipe do francês na GP2, já
sondou o piloto holandês Giedo van der Garde.
O time pediu a Garde que esteja pronto para correr na próxima etapa do campeonato, em
Valência, no lugar de Grosjean.
"Não sou eu quem julgo o
Nelson. São os tempos. O esporte é assim", disse o dirigente italiano, confortavelmente
instalado numa das poltronas
de couro branco de sua sala.
"Nelsinho é uma ótima pessoa, mas o resultado não é o
que a gente esperava. Sabemos
que ele guia ao lado de alguém
rápido como o Fernando
[Alonso]. Mas a situação é difícil porque esperávamos mais
por esta ser sua segunda temporada", completou Briatore.
Em dois anos, Nelsinho só foi
uma vez ao pódio e, em 2009,
ainda não marcou pontos.
Na última corrida, pela primeira vez classificou-se à frente do companheiro. Desempenho aquém do esperado para
quem foi vice-campeão da GP2.
Coincidência ou não, ele terminou aquele campeonato
atrás de Lewis Hamilton, atual
campeão da F-1, e usado por
Briatore como exemplo para,
mais uma vez, lançar críticas ao
piloto brasileiro.
"Quando Hamilton chegou à
McLaren, deu muito trabalho
para o Fernando. Neste momento, o Piquet não está dando
trabalho para ninguém", declarou o chefe da Renault.
Que completou: "Se você ouve os pilotos, eles têm uma espécie de livro. Cada página é
uma desculpa. É o livro das
desculpas. O tempo, o vento, o
cara na arquibancada que usa
óculos que refletem e te cegam,
a aderência, a reta... Sabemos
que guiar um F-1 não é fácil,
que talvez 15, 20 pilotos tenham essa capacidade. Com o
Nelson, a cada corrida eu lia
uma página do livro de desculpas, e o livro está acabando
agora. Já li muitas desculpas".
Questionado mais tarde sobre as declarações do chefe,
Nelsinho se irritou. "Claro que
dou desculpas. Todo mundo
me pergunta 500 vezes por dia
o que acontece e vou fazer o
quê? Ficar calado? Quando não
fui bem, eu falei", disse o piloto.
"O problema é que o Flavio é
meu manager, mas ele está pisando na minha cabeça. Então
não sei qual o objetivo dele, se é
me ajudar ou me atrapalhar."
Outro motivo de discórdia
entre os dois é o fato de Nelsinho não ter tido o mesmo carro
de Alonso durante boa parte da
temporada. Segundo o piloto,
seu carro era cerca de sete décimos mais lento. Algo que o dirigente italiano diz ser exagero.
"Quando falamos de carro
diferente, falamos de um décimo. É como quando você compra um quilo de carne e reclama que o papel está pesado. O
problema não é o papel, é a carne", disparou Briatore. "Se os
carros são diferentes é porque
os números são diferentes. Se
fossem sete décimos, o Fernando levaria o campeonato."
Nelsinho afirma que as coisas não são assim tão simples.
"É verdade que em algumas
corridas o meu carro não foi
mais de três décimos pior, mas
a proximidade de todos neste
ano faz muita diferença. Por
ser só um empresário, o Flavio
não entende porra nenhuma o
que significam três décimos."
Nos treinos de ontem, com o
mesmo carro de Alonso, Nelsinho ficou atrás nas duas sessões. E fez justamente o que
Briatore condenou. "Estou
apanhando um pouco pra acertar o carro com esse novo sistema de amortecedor. Ele limita
um pouco a regulagem."
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