São Paulo, sábado, 25 de julho de 2009

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Nelsinho e chefe trocam farpas

Flavio Briatore, manda-chuva da Renault, diz que tempo de brasileiro na escuderia já se esgotou

Dirigente italiano ironiza as desculpas utilizadas por filho de Nelson Piquet para justificar seu mau desempenho nas corridas

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A BUDAPESTE

O que já não era bom ficou ainda pior. Falta de comunicação, troca de acusações, reclamações dos dois lados. Esse é o estágio atual da relação entre Nelsinho Piquet e Flavio Briatore, seu chefe na Renault.
Uma parceria que começou em 2006, quando o brasileiro tornou-se piloto de testes da equipe, e que foi se desgastando ao passar do tempo, em parte pela falta de bons resultados.
Em entrevista à imprensa brasileira ontem, em Hungaroring, Briatore não poupou críticas a Nelsinho e deixou bem claro seu descontentamento. Mais que isso. Disse que o tempo do brasileiro já se esgotou.
Para piorar a situação, há mais um indício de que Romain Grosjean pode estar mais perto da vaga de Nelsinho. Além de ele já ter feito molde de banco e treinado pit stops e largadas com a Renault na semana passada, a reportagem da Folha apurou que a Barwa Addax, equipe do francês na GP2, já sondou o piloto holandês Giedo van der Garde.
O time pediu a Garde que esteja pronto para correr na próxima etapa do campeonato, em Valência, no lugar de Grosjean.
"Não sou eu quem julgo o Nelson. São os tempos. O esporte é assim", disse o dirigente italiano, confortavelmente instalado numa das poltronas de couro branco de sua sala.
"Nelsinho é uma ótima pessoa, mas o resultado não é o que a gente esperava. Sabemos que ele guia ao lado de alguém rápido como o Fernando [Alonso]. Mas a situação é difícil porque esperávamos mais por esta ser sua segunda temporada", completou Briatore.
Em dois anos, Nelsinho só foi uma vez ao pódio e, em 2009, ainda não marcou pontos.
Na última corrida, pela primeira vez classificou-se à frente do companheiro. Desempenho aquém do esperado para quem foi vice-campeão da GP2.
Coincidência ou não, ele terminou aquele campeonato atrás de Lewis Hamilton, atual campeão da F-1, e usado por Briatore como exemplo para, mais uma vez, lançar críticas ao piloto brasileiro.
"Quando Hamilton chegou à McLaren, deu muito trabalho para o Fernando. Neste momento, o Piquet não está dando trabalho para ninguém", declarou o chefe da Renault.
Que completou: "Se você ouve os pilotos, eles têm uma espécie de livro. Cada página é uma desculpa. É o livro das desculpas. O tempo, o vento, o cara na arquibancada que usa óculos que refletem e te cegam, a aderência, a reta... Sabemos que guiar um F-1 não é fácil, que talvez 15, 20 pilotos tenham essa capacidade. Com o Nelson, a cada corrida eu lia uma página do livro de desculpas, e o livro está acabando agora. Já li muitas desculpas".
Questionado mais tarde sobre as declarações do chefe, Nelsinho se irritou. "Claro que dou desculpas. Todo mundo me pergunta 500 vezes por dia o que acontece e vou fazer o quê? Ficar calado? Quando não fui bem, eu falei", disse o piloto. "O problema é que o Flavio é meu manager, mas ele está pisando na minha cabeça. Então não sei qual o objetivo dele, se é me ajudar ou me atrapalhar."
Outro motivo de discórdia entre os dois é o fato de Nelsinho não ter tido o mesmo carro de Alonso durante boa parte da temporada. Segundo o piloto, seu carro era cerca de sete décimos mais lento. Algo que o dirigente italiano diz ser exagero.
"Quando falamos de carro diferente, falamos de um décimo. É como quando você compra um quilo de carne e reclama que o papel está pesado. O problema não é o papel, é a carne", disparou Briatore. "Se os carros são diferentes é porque os números são diferentes. Se fossem sete décimos, o Fernando levaria o campeonato."
Nelsinho afirma que as coisas não são assim tão simples.
"É verdade que em algumas corridas o meu carro não foi mais de três décimos pior, mas a proximidade de todos neste ano faz muita diferença. Por ser só um empresário, o Flavio não entende porra nenhuma o que significam três décimos."
Nos treinos de ontem, com o mesmo carro de Alonso, Nelsinho ficou atrás nas duas sessões. E fez justamente o que Briatore condenou. "Estou apanhando um pouco pra acertar o carro com esse novo sistema de amortecedor. Ele limita um pouco a regulagem."


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