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FUTEBOL
O Cruzeiro na encruzilhada
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O declínio do Cruzeiro nas
últimas rodadas, culminando agora com a perda da liderança para o Santos, está dando margem a todo tipo de elucubração.
Para os mais afoitos, o fato demonstraria que o clube mineiro
"não estava com essa bola toda",
tendo sido inflado pela mídia. Para outros, o Cruzeiro teria "virado o fio", ou seja, atingido seu
ponto ótimo antes da hora.
Mas há uma hipótese mais prosaica e provavelmente mais correta. O time de Luxemburgo, mesmo sendo de fato o melhor do
Brasil nesta temporada, passa por
uma fase de baixa, ocasionada
por vários fatores: uma instabilidade natural pela troca de alguns
jogadores, cansaço, relaxamento.
Por último, uma razão que não
costuma ser levada em conta nas
análises: as outras equipes aprenderam a conhecer o Cruzeiro e a
neutralizar suas melhores virtudes. Quando analisamos uma
equipe, geralmente esquecemos
os méritos das outras.
Para repetir o clichê da hora,
"não tem mais ninguém bobo no
futebol". O Goiás, time-sensação
do segundo turno após ter carregado a lanterna durante boa parte do primeiro, é prova viva disso.
As próximas rodadas serão decisivas para sabermos se o problema do Cruzeiro é circunstancial
ou mais profundo.
Estou convencido de que o futebol majestoso apresentado pelo time azul no primeiro semestre não
foi uma miragem. A magia pode
não se repetir nunca mais, mas a
meu ver o Cruzeiro só deixará de
ser um esquadrão se promover
um grande desmanche.
No mais, vai ganhar e perder
confrontos, como é natural, embora algumas pessoas esqueçam
isso de quando em quando.
Em vez de tripudiar sobre o
mau momento do Cruzeiro, prefiro exaltar o Santos, outro time
acusado, semanas atrás, de "não
ser mais aquele". (Tem gente que
está sempre ávida por destruir algum "mito".)
A equipe de Leão sofreu turbulências maiores do que as atravessadas pelos mineiros, sobreviveu
aos desfalques, críticas e dúvidas,
e agora volta ao topo com todos
os méritos.
É bonito ver três grandes times
(Santos, Cruzeiro e São Paulo) lutando palmo a palmo pela liderança. Tomara que essa briga
continue até a última rodada, de
preferência acirrada pela presença de outros concorrentes.
Vasco 3 x 2 São Paulo foi uma
bela pelada. Bela porque teve cinco gols, inúmeros lances de emoção, jogadas de efeito, disputa
acirrada. Pelada porque faltou
organização de ambos os lados.
O Vasco, sem Marcelinho e com
Edmundo, tende a ser uma equipe que aposta nos toques curtos e
tabelas pelo meio -caminho que
ontem o levou aos três gols-, em
vez dos lançamentos longos e das
jogadas pelos flancos.
O São Paulo, sem Kaká e Ricardinho, vai que vai de qualquer
jeito para a frente, apostando
quase tudo em Luís Fabiano. Ontem ele jogou muito, mas não teve
em Rico um companheiro à
altura.
Ajuda ao Brasileiro
Em princípio, e por princípio,
sou contra os inchaços de torneios, pois geralmente resultam na queda do seu nível técnico. Mas o inchaço da Libertadores tem um salutar efeito indireto. Ao habilitar mais um
clube para o torneio intercontinental, o Brasileirão de pontos
corridos ganha um pouco mais
de interesse e emoção.
Te cuida, Paysandu
O Paysandu, acusado de uma
suposta contratação irregular
de jogadores, que se cuide.
Sempre que há clubes grandes e
tradicionais correndo o risco de
rebaixamento, buscam-se razões extracampo para mandar
para baixo em seu lugar alguma
equipe menos poderosa. Conhecendo a Justiça Desportiva
como conhecemos, há motivo
para ficar de olhos bem abertos.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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