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Ministro afirma que recursos existem e promete ingerência
DO ENVIADO A PEQUIM
Apesar de considerar a campanha do Brasil em Pequim
""boa", o ministro do Esporte,
Orlando Silva Jr., diz que esperava resultados melhores e pretende fazer mudanças para o
próximo ciclo olímpico. A principal delas é a fixação de metas
por modalidade, o que contraria o COB, que se recusa a fazer
previsão de medalhas.
O ministério pretende invocar decreto do presidente Lula
feito na época da Lei Piva para
ganhar condições de fiscalizar,
por meio de relatórios, a forma
como as verbas públicas são
usadas ""até para, assim, melhor
ajudar o COB e as confederações".
(EO)
FOLHA - O senhor se decepcionou
com a campanha do Brasil nos Jogos
de Pequim?
ORLANDO SILVA JR. - O Brasil conquistou em Pequim número recorde de medalhas. Você precisa valorizar toda medalha. Você
fala do bronze como se fosse a
pior coisa do mundo, mas é um
bom resultado. Pode ser que tenha ficado a frustração do torcedor brasileiro que acompanhou a campanha do Brasil no
Pan. Mas ele tem que entender
que Pan é Pan e Jogos Olímpicos são Jogos Olímpicos.
FOLHA - Como o senhor avalia o
desempenho do Brasil?
ORLANDO SILVA JR. - Foi uma boa
participação. A delegação tinha
um número [de atletas] expressivo [277], e igualamos Atlanta-96 em número de medalhas.
Um fator positivo é a diversidade de modalidades no Brasil.
Jamaica e Etiópia ganharam
ouro? Ganharam. Mas não queremos nos especializar em uma
modalidade, como eles. É melhor o sistema dos EUA, da Inglaterra e da Rússia. Evidentemente se esperavam melhores
resultados por conta da preparação mais intensa. Até pelo financiamento estatal. É uma
chance para tirar lições.
FOLHA - Que lições são essas?
SILVA JR. - Os atletas brasileiros
disputam os Jogos Olímpicos
com energia e determinação.
Na seleção de vôlei você percebia o esforço, a garra. No feminino, todos viram. E tiveram os
atletas que não foram ouro,
mas todo atleta dá o máximo de
si. Temos de identificar onde
podemos mudar para conseguir melhores resultados.
FOLHA - O que o senhor acredita
que precisa ser mudado?
SILVA JR. - O próximo ciclo
olímpico deve ser caracterizado pela definição de metas nítidas por modalidade. É preciso
ter uma visão clara do objetivo
para saber se ele foi ou não alcançado. Até para não ficar no
ar se foi "o melhor ou o pior de
todos os tempos". Essa meta,
dependendo do esporte, não
precisa ser o ouro. Pode ser a
classificação para uma fase ou o
quanto os atletas avançarão na
competição. Nas modalidades
que têm mais tradição, sim,
medalha pode ser a meta. Todo
mundo, em qualquer setor, tem
metas estabelecidas, e o esporte brasileiro deve fazer o mesmo. Houve um tempo em que
se reclamava de que faltava recursos. Hoje essa situação está
estabilizada. É claro que, com
mais recursos, espera-se uma
performance melhor.
FOLHA - O que o ministério pode
fazer nesse sentido?
SILVA JR. - A legislação estabelece que a administração do desporto brasileiro no alto rendimento é feita por entidades, como o Comitê Olímpico Brasileiro e as confederações nacionais. É essa a regra. Para o próximo ciclo olímpico, queremos
resgatar decreto do presidente
Lula publicado há uns três
anos, em função da verba da Lei
Piva, que estabelece a obrigação [da apresentação] de um
planejamento anual das confederações todos os anos. O ministério poderá atuar de forma
mais forte na discussão da programação para cada ciclo olímpico. Queremos discutir objetivos de todas as modalidades.
FOLHA - O COB é avesso a fixar metas. O senhor acha que ele participará desse processo?
SILVA JR. - Temos um relacionamento muito positivo com o
COB e com as confederações.
Vamos apoiar como sempre,
mas queremos mais diálogo,
mais discussão, colher mais detalhes sobre a preparação. Avaliar com mais critério e ver onde há falhas na preparação. Assim será possível apoiá-los
mais e criar mais condições.
FOLHA - Qual será o primeiro passo
nesse sentido?
SILVA JR. - Queremos avaliar
gestões, a começar pelo próprio
Ministério do Esporte. E a fiscalizar o uso dos recursos. Ver
mais a aplicação em cada modalidade.
FOLHA - O senhor teme que o governo, como maior financiador do
esporte, seja cobrado pelo desempenho do país?
SILVA JR. - O governo federal fez
sua obrigação, que era apoiar a
delegação brasileira. Propiciamos uma participação forte.
Além disso, o Brasil não competiu sozinho. Os outros países
também investiram para atingir um melhor resultado. Ganhar ou perder é do jogo. A ginástica, por exemplo, não trouxe medalha, mas evoluiu. Colocou vários ginastas nas finais.
FOLHA - Quais foram as lições que
o Brasil pôde aprender com a experiência chinesa?
SILVA JR. - A grande discussão
que fica é: "Como pôr o esporte
na escola?". Na China, o governo tem total autonomia. No
Brasil é diferente, mas [a inclusão do esporte na escola] é um
desafio que temos de enfrentar.
Não há como crescer sem isso.
Sobre os Jogos, há uma missão
chinesa que nos visitará no
Brasil e mostrará todo o processo, desde a candidatura até a
organização dos Jogos. Em Pequim, a segurança e o operacional funcionaram. O planejamento da Olimpíada merece
parabéns. Colheremos informações valiosas na eventualidade de o Brasil conseguir sediar a Olimpíada de 2016.
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