São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ministro afirma que recursos existem e promete ingerência

DO ENVIADO A PEQUIM

Apesar de considerar a campanha do Brasil em Pequim ""boa", o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., diz que esperava resultados melhores e pretende fazer mudanças para o próximo ciclo olímpico. A principal delas é a fixação de metas por modalidade, o que contraria o COB, que se recusa a fazer previsão de medalhas. O ministério pretende invocar decreto do presidente Lula feito na época da Lei Piva para ganhar condições de fiscalizar, por meio de relatórios, a forma como as verbas públicas são usadas ""até para, assim, melhor ajudar o COB e as confederações". (EO)

 

FOLHA - O senhor se decepcionou com a campanha do Brasil nos Jogos de Pequim?
ORLANDO SILVA JR.
- O Brasil conquistou em Pequim número recorde de medalhas. Você precisa valorizar toda medalha. Você fala do bronze como se fosse a pior coisa do mundo, mas é um bom resultado. Pode ser que tenha ficado a frustração do torcedor brasileiro que acompanhou a campanha do Brasil no Pan. Mas ele tem que entender que Pan é Pan e Jogos Olímpicos são Jogos Olímpicos.

FOLHA - Como o senhor avalia o desempenho do Brasil?
ORLANDO SILVA JR.
- Foi uma boa participação. A delegação tinha um número [de atletas] expressivo [277], e igualamos Atlanta-96 em número de medalhas. Um fator positivo é a diversidade de modalidades no Brasil. Jamaica e Etiópia ganharam ouro? Ganharam. Mas não queremos nos especializar em uma modalidade, como eles. É melhor o sistema dos EUA, da Inglaterra e da Rússia. Evidentemente se esperavam melhores resultados por conta da preparação mais intensa. Até pelo financiamento estatal. É uma chance para tirar lições.

FOLHA - Que lições são essas?
SILVA JR.
- Os atletas brasileiros disputam os Jogos Olímpicos com energia e determinação. Na seleção de vôlei você percebia o esforço, a garra. No feminino, todos viram. E tiveram os atletas que não foram ouro, mas todo atleta dá o máximo de si. Temos de identificar onde podemos mudar para conseguir melhores resultados.

FOLHA - O que o senhor acredita que precisa ser mudado?
SILVA JR.
- O próximo ciclo olímpico deve ser caracterizado pela definição de metas nítidas por modalidade. É preciso ter uma visão clara do objetivo para saber se ele foi ou não alcançado. Até para não ficar no ar se foi "o melhor ou o pior de todos os tempos". Essa meta, dependendo do esporte, não precisa ser o ouro. Pode ser a classificação para uma fase ou o quanto os atletas avançarão na competição. Nas modalidades que têm mais tradição, sim, medalha pode ser a meta. Todo mundo, em qualquer setor, tem metas estabelecidas, e o esporte brasileiro deve fazer o mesmo. Houve um tempo em que se reclamava de que faltava recursos. Hoje essa situação está estabilizada. É claro que, com mais recursos, espera-se uma performance melhor.

FOLHA - O que o ministério pode fazer nesse sentido?
SILVA JR.
- A legislação estabelece que a administração do desporto brasileiro no alto rendimento é feita por entidades, como o Comitê Olímpico Brasileiro e as confederações nacionais. É essa a regra. Para o próximo ciclo olímpico, queremos resgatar decreto do presidente Lula publicado há uns três anos, em função da verba da Lei Piva, que estabelece a obrigação [da apresentação] de um planejamento anual das confederações todos os anos. O ministério poderá atuar de forma mais forte na discussão da programação para cada ciclo olímpico. Queremos discutir objetivos de todas as modalidades.

FOLHA - O COB é avesso a fixar metas. O senhor acha que ele participará desse processo?
SILVA JR.
- Temos um relacionamento muito positivo com o COB e com as confederações. Vamos apoiar como sempre, mas queremos mais diálogo, mais discussão, colher mais detalhes sobre a preparação. Avaliar com mais critério e ver onde há falhas na preparação. Assim será possível apoiá-los mais e criar mais condições.

FOLHA - Qual será o primeiro passo nesse sentido?
SILVA JR.
- Queremos avaliar gestões, a começar pelo próprio Ministério do Esporte. E a fiscalizar o uso dos recursos. Ver mais a aplicação em cada modalidade.

FOLHA - O senhor teme que o governo, como maior financiador do esporte, seja cobrado pelo desempenho do país?
SILVA JR.
- O governo federal fez sua obrigação, que era apoiar a delegação brasileira. Propiciamos uma participação forte. Além disso, o Brasil não competiu sozinho. Os outros países também investiram para atingir um melhor resultado. Ganhar ou perder é do jogo. A ginástica, por exemplo, não trouxe medalha, mas evoluiu. Colocou vários ginastas nas finais.

FOLHA - Quais foram as lições que o Brasil pôde aprender com a experiência chinesa?
SILVA JR.
- A grande discussão que fica é: "Como pôr o esporte na escola?". Na China, o governo tem total autonomia. No Brasil é diferente, mas [a inclusão do esporte na escola] é um desafio que temos de enfrentar. Não há como crescer sem isso. Sobre os Jogos, há uma missão chinesa que nos visitará no Brasil e mostrará todo o processo, desde a candidatura até a organização dos Jogos. Em Pequim, a segurança e o operacional funcionaram. O planejamento da Olimpíada merece parabéns. Colheremos informações valiosas na eventualidade de o Brasil conseguir sediar a Olimpíada de 2016.


Texto Anterior: Brasil: Brasil piora na tabela, e COB aponta sucesso qualitativo
Próximo Texto: Quadro de medalhas: China faz planos para multiplicar campeões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.