São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004

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AÇÃO

Para o sul do Equador

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Depois desta semana, o surfe feminino jamais será o mesmo. Isso graças à pequenina e determinada peruana Sofia Mulanovich, 21, que escreveu seu nome como a primeira sul-americana a conquistar o Mundial. Antes dela, o título havia cruzado a latitude zero rumo ao sul uma única vez -excluindo-se, é claro, os saxões australianos-, há 27 anos, com o sul-africano Shaun Thompson, segundo campeão mundial da história do surfe profissional.
A vitória foi sacramentada em águas havaianas durante o Roxy Pro. Na final, Sofia surfava contra a brasileira Tita Tavares, a veterana e campeoníssima Layne Beachley e Chelsea Georgeson. Precisava ficar em terceiro para garantir o caneco por antecedência. Ficou em segundo e, no outside, foi cumprimentada por Beachley, seis vezes campeã mundial.
O site da "Surfing" escreveu em sua edição de ontem que o surfe feminino entra, pelos pés de Sofia, numa nova era: ondas maiores, premiação maior, manobras maiores. E muito disso deve-se à peruana, que, no primeiro ano no Tour, revolucionou a forma como mulheres surfam. Com um estilo agressivo, Sofia é conhecida por executar perfeitos e improváveis cut-backs. E também por ser a atleta que, antes da hora de competir, entra para surfar sozinha, tentando aproveitar o máximo possível. Ela acredita que, fazendo isso, fica mais preparada.
Quando não está duelando no circuito e não pode surfar, gasta horas vendo fitas de surfe para aprimorar seu estilo. Analisa seus atletas prediletos, como Slater, Irons, Beachley e Rochelle Ballard, com quem, aliás, disputou a coroa deste ano. Tanta obsessão só encontra um intervalo quando ela está em sua casa, em Lima, com a família. Lá, passa algumas horas em seu quarto ouvindo Bob Marley, The Doors e, claro, Dido.
"Ela diz que conquistou o título porque teve sorte", falou à imprensa depois da final Layne Beachley. "Mas não é nada disso. Ela tem graça, estilo, determinação e um talento incrível. Sofia veio para ficar e brilhar. E, além disso, é a pessoa mais humilde que conheci." O elogio, vindo de Beachley, surfista de 32 anos que está eternizada num pôster no quarto de Sofia (colocado quando ela nem sabia que viraria surfista profissional), deixou a peruana emocionada. "Eu fiz isso pelo Peru e pela América do Sul. Para que todos acreditem que podemos chegar lá", disse Sofia.
No Tour feminino, é sabido que as atletas de ponta não gostam de cair numa bateria com brasileiras. Elas costumam dar muito trabalho, por isso era improvável que, quando a coroa cruzasse o Equador rumo ao sul, ela não o fizesse na cabeça de uma de nossas meninas, e sim na da única peruana na história que participou do WCT. Tita Tavares e Jacqueline Silva, que faltando uma etapa ocupam o quinto e o sexto lugares, respectivamente, tiveram chances de lutar pelo título neste ano e, muito jovens, ainda podem chegar lá. Silvana Lima é outra aposta. Depois de Sofia, a questão não é mais se o título um dia virá para o Brasil, mas quando ele virá. O futuro do surfe profissional feminino está ao sul do Equador.

Triple Crown HavaÍ
Tricampeão da coroa havaiana, Sunny Garcia saiu na frente vencendo em Haleiwa. O brasileiro Bernardo Pigmeu ficou em terceiro na final entre atletas do WCT. Amanhã começa o período de espera da última etapa do WQS, em Sunset, e Neco Padaratz segue líder.

Brasileiro de skate
A decisão do circuito de street começa amanhã em Novo Hamburgo (RS), com cinco atletas na disputa do título e de um Peugeot 206.

Snowboard
Os brasileiros Isabel Clark e Felipe Motta aparecem como líderes do ranking FIS Sul-Americano. Isabel desponta em todas as categorias, e Motta, no boardercross.

E-mail sarli@trip.com.br


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