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FUTEBOL
Causas e sintomas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Quem tem uma enorme dor
de cabeça pode topar qualquer coisa por um alívio imediato, mas deveria pensar nas conseqüências a médio prazo. E descobrir as causas do problema, não
apenas atacar o sintoma. O presidente do Corinthians adorou a
idéia de ter quem pague as dívidas do clube e faça contratações
"de nível de seleção". Mas o que
levou o time a precisar de socorro?
A oposição tem bons motivos
para querer impedir a consumação da parceria com a MSI: falta
de transparência (por que os conselheiros não puderam analisar
com calma o contrato?), incoerências de Alberto Dualib (que
ora admitia, ora negava o interesse e a participação de Boris Berezovski no negócio), dúvidas
quando à idoneidade dos representantes da empresa, falta de
comprovação de lastro da própria
(fundada outro dia e em endereço
"fantasma"), inabilidade na condução do processo (com propostas
ou sondagens a atletas e técnicos
antes da conclusão do negócio).
Além das questões relativas à lisura, há dúvidas quanto à relação custo-benefício. Pelos milhões
investidos agora, valeria a pena
abrir mão de boa parte das rendas por dez anos? Em caso de rescisão unilateral, o ônus para o
Corinthians não é muito maior
do que o estabelecido para a MSI?
Mas digamos que as dúvidas
fossem sanadas e a parceria, implantada. O Corinthians paga as
dívidas e monta um bom time.
Bem, o Corinthians teve bons times nos últimos anos, a ponto de
levar Parreira de volta à seleção
(discutimos isso depois). Ganhou
títulos. Ainda assim, sua dívida
só aumentou. O clube social, sabemos, é deficitário. Se o futebol
seguir tapando esse buraco sem
fundo, endividar-se-á outra vez.
Sabemos também que o futebol
pode dar muito mais dinheiro do
que hoje -melhorando o atendimento ao consumidor, excursionando nos intervalos de um calendário racional etc. Mas ter dinheiro e gastar mal é um desastre.
Muitas contratações do Corinthians nos últimos anos foram
evidentemente, previsivelmente
equivocadas. Se os clubes continuarem reféns do tráfico de influências (quase um eufemismo)
entre conselheiros, diretores e empresários e se as categorias de base continuarem loteadas em função de interesses particulares, não
há investimento que resolva.
Há quem veja no parceiro estrangeiro a solução para essas
"panelas". Quem acredite numa
"administração profissional visando o lucro", que teria interesse
em montar times campeões. Mas
o dinheiro da MSI pode ter o caráter de capital especulativo: o interesse pode ser apenas o de ganhar muito dinheiro em pouco
tempo. Assim, seria muito mais
interessante vender jogadores do
que construir uma equipe vencedora... Como muitos fazem hoje.
Não vejo um bom futuro para o
Corinthians com a MSI. Não confio nos proponentes nem acho que
a proposta seja boa de fato. Mas
também não vejo um bom futuro
para o Corinthians sem a MSI e
com conselheiros como os que
tem hoje -com exceções, naturalmente. Mas são exceções.
Esperança
Na entrevista ao jornalista espanhol do "As", Robinho falou
o óbvio: que o Real Madrid é
uma grande equipe, que teria
muito prazer em ganhar títulos
ao lado de Ronaldo e Roberto
Carlos, que ficou feliz e orgulhoso de saber do interesse dos
espanhóis... Não disse que o negócio estava fechado, muito
menos falou em valores. Mas o
"Marca" garante que o brasileiro vai para lá em junho. Pode
ser verdade, pode não ser. A
imprensa espanhola aprova a
idéia. O Real negligenciou investimentos na base; ao mesmo
tempo, tem longos contratos a
cumprir com os medalhões
-uma dispensa custaria milhões. Renovar o time aos
poucos -"com um Robinho,
por exemplo"- lhes parece
uma boa saída.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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