São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004

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FUTEBOL

Causas e sintomas

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Quem tem uma enorme dor de cabeça pode topar qualquer coisa por um alívio imediato, mas deveria pensar nas conseqüências a médio prazo. E descobrir as causas do problema, não apenas atacar o sintoma. O presidente do Corinthians adorou a idéia de ter quem pague as dívidas do clube e faça contratações "de nível de seleção". Mas o que levou o time a precisar de socorro?
A oposição tem bons motivos para querer impedir a consumação da parceria com a MSI: falta de transparência (por que os conselheiros não puderam analisar com calma o contrato?), incoerências de Alberto Dualib (que ora admitia, ora negava o interesse e a participação de Boris Berezovski no negócio), dúvidas quando à idoneidade dos representantes da empresa, falta de comprovação de lastro da própria (fundada outro dia e em endereço "fantasma"), inabilidade na condução do processo (com propostas ou sondagens a atletas e técnicos antes da conclusão do negócio).
Além das questões relativas à lisura, há dúvidas quanto à relação custo-benefício. Pelos milhões investidos agora, valeria a pena abrir mão de boa parte das rendas por dez anos? Em caso de rescisão unilateral, o ônus para o Corinthians não é muito maior do que o estabelecido para a MSI?
Mas digamos que as dúvidas fossem sanadas e a parceria, implantada. O Corinthians paga as dívidas e monta um bom time.
Bem, o Corinthians teve bons times nos últimos anos, a ponto de levar Parreira de volta à seleção (discutimos isso depois). Ganhou títulos. Ainda assim, sua dívida só aumentou. O clube social, sabemos, é deficitário. Se o futebol seguir tapando esse buraco sem fundo, endividar-se-á outra vez.
Sabemos também que o futebol pode dar muito mais dinheiro do que hoje -melhorando o atendimento ao consumidor, excursionando nos intervalos de um calendário racional etc. Mas ter dinheiro e gastar mal é um desastre.
Muitas contratações do Corinthians nos últimos anos foram evidentemente, previsivelmente equivocadas. Se os clubes continuarem reféns do tráfico de influências (quase um eufemismo) entre conselheiros, diretores e empresários e se as categorias de base continuarem loteadas em função de interesses particulares, não há investimento que resolva.
Há quem veja no parceiro estrangeiro a solução para essas "panelas". Quem acredite numa "administração profissional visando o lucro", que teria interesse em montar times campeões. Mas o dinheiro da MSI pode ter o caráter de capital especulativo: o interesse pode ser apenas o de ganhar muito dinheiro em pouco tempo. Assim, seria muito mais interessante vender jogadores do que construir uma equipe vencedora... Como muitos fazem hoje.
Não vejo um bom futuro para o Corinthians com a MSI. Não confio nos proponentes nem acho que a proposta seja boa de fato. Mas também não vejo um bom futuro para o Corinthians sem a MSI e com conselheiros como os que tem hoje -com exceções, naturalmente. Mas são exceções.

Esperança
Na entrevista ao jornalista espanhol do "As", Robinho falou o óbvio: que o Real Madrid é uma grande equipe, que teria muito prazer em ganhar títulos ao lado de Ronaldo e Roberto Carlos, que ficou feliz e orgulhoso de saber do interesse dos espanhóis... Não disse que o negócio estava fechado, muito menos falou em valores. Mas o "Marca" garante que o brasileiro vai para lá em junho. Pode ser verdade, pode não ser. A imprensa espanhola aprova a idéia. O Real negligenciou investimentos na base; ao mesmo tempo, tem longos contratos a cumprir com os medalhões -uma dispensa custaria milhões. Renovar o time aos poucos -"com um Robinho, por exemplo"- lhes parece uma boa saída.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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