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AUTOMOBILISMO
Relações comerciais entre as francesas Elf e Renault adiam a estréia da estatal brasileira na categoria
Petrobrás encara "mundo real" na F-1
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
enviado especial a Imola
Na última sexta-feira, uma agência de publicidade ligou para a Petrobrás para perguntar se os anúncios festejando a estréia da estatal
na F-1 seriam publicados. A resposta foi não. E, um sim, pode ainda demorar muito para ser dito.
A nova perspectiva da empresa,
que já adiou duas vezes o inédito
projeto com a equipe Williams, é
estrear no GP da França, em junho. "Mas pode ficar para o GP da
Inglaterra, em julho", afirma o engenheiro Rogério Gonçalves, 37,
que toca o programa.
"Estamos tendo problemas com
a Renault. E, por contrato, eles
precisam aprovar a nossa gasolina
antes de usá-la", diz.
Gonçalves fala de Renault porque, na prática, trabalha apenas
com técnicos e engenheiros da fábrica francesa, que abandonou a
F-1 no final do ano passado.
Sua preparadora de motores, a
Mecachrome, herdou o negócio
com Williams e Benetton. Mas foi
obrigada a contratar os serviços da
Renault Sport, o braço esportivo
da fábrica, para poder viabilizar
seu fornecimento aos dois times.
"A Renault trabalha com a Elf
há muitos anos. E a tendência deles é empurrar a coisa com a barriga", afirmou Claudio Thompson,
42, coordenador da Comissão Esporte Motor da Petrobrás, responsável pelo projeto de F-1.
O trunfo da estatal, no momento, é o péssimo momento vivido
pela equipe de Frank Williams.
Preocupado com a falta de rendimento demonstrada pelo modelo FW20, Williams está cobrando
desempenho tanto da Mecachrome como da Goodyear, a fornecedora de pneus.
"Temos uma nova gasolina, já
desenvolvida totalmente no Brasil, que, pelos testes iniciais, dará
um ganho de potência", diz Gonçalves. "Mais cedo ou mais tarde,
a Renault será cobrada e terá que
usá-la", afirma Thompson.
Desenvolvimento
A dupla comenta que a gasolina
à disposição do time no momento,
desenvolvida em um laboratório
na Inglaterra, já tem o mesmo nível de qualidade do produto Elf.
"O compromisso deles, porém,
é fornecimento. Nós queremos é
desenvolvimento", diz Thompson
sobre a rival francesa, que tem
profundas relações comerciais
com a Renault.
Indagado se isso não havia sido
considerado na assinatura do contrato, em janeiro, Thompson é seco. "A informação que tínhamos
era que a Renault estava fora."
Segundo os técnicos, a Petrobrás
foi procurada por Williams, que
teria perguntado se a empresa brasileira não estaria interessada em
participar da F-1. O primeiro contato aconteceu durante o GP da
Bélgica do ano passado.
A Petrobrás, na verdade, encara
uma realidade restrita, mas bem
mais inóspita do que o mercado
brasileiro de combustíveis, do
qual detinha o monopólio até 97.
No momento da entrevista à Folha, por exemplo, seus funcionários eram vigiados por uma técnica da Elf, que entende português.
"A coisa aqui não é brincadeira", diz Gonçalves. "Mas estamos
aprendendo tudo rapidamente."
A Petrobrás é a única petrolífera
desde 95 a arriscar-se na F-1. A última foi a Mobil, em associação
com a McLaren e com a Mercedes,
que passou um bom tempo comprando produto alheio e colocando sua marca nos tambores.
"Esse tipo de esquema também
nos foi proposto. Mas nossa intenção não é patrocínio. É adquirir
tecnologia", afirma Thompson.
Foi por esse alegado motivo que
a estatal recusou ter publicidade
nos carros da Williams -espaço
pelo qual teria de pagar, caso tivesse aceito a proposta.
A intenção é nobre, mas de difícil execução. Ainda mais em se
tratando de um contrato que não
ultrapassa os US$ 3 milhões, segundo a própria Petrobrás.
Na F-1, porém, só do número de
milhões em patrocínio depende a
força de argumentação.
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