São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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AUTOMOBILISMO
Relações comerciais entre as francesas Elf e Renault adiam a estréia da estatal brasileira na categoria
Petrobrás encara "mundo real" na F-1

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
enviado especial a Imola

Na última sexta-feira, uma agência de publicidade ligou para a Petrobrás para perguntar se os anúncios festejando a estréia da estatal na F-1 seriam publicados. A resposta foi não. E, um sim, pode ainda demorar muito para ser dito.
A nova perspectiva da empresa, que já adiou duas vezes o inédito projeto com a equipe Williams, é estrear no GP da França, em junho. "Mas pode ficar para o GP da Inglaterra, em julho", afirma o engenheiro Rogério Gonçalves, 37, que toca o programa.
"Estamos tendo problemas com a Renault. E, por contrato, eles precisam aprovar a nossa gasolina antes de usá-la", diz.
Gonçalves fala de Renault porque, na prática, trabalha apenas com técnicos e engenheiros da fábrica francesa, que abandonou a F-1 no final do ano passado.
Sua preparadora de motores, a Mecachrome, herdou o negócio com Williams e Benetton. Mas foi obrigada a contratar os serviços da Renault Sport, o braço esportivo da fábrica, para poder viabilizar seu fornecimento aos dois times.
"A Renault trabalha com a Elf há muitos anos. E a tendência deles é empurrar a coisa com a barriga", afirmou Claudio Thompson, 42, coordenador da Comissão Esporte Motor da Petrobrás, responsável pelo projeto de F-1.
O trunfo da estatal, no momento, é o péssimo momento vivido pela equipe de Frank Williams.
Preocupado com a falta de rendimento demonstrada pelo modelo FW20, Williams está cobrando desempenho tanto da Mecachrome como da Goodyear, a fornecedora de pneus.
"Temos uma nova gasolina, já desenvolvida totalmente no Brasil, que, pelos testes iniciais, dará um ganho de potência", diz Gonçalves. "Mais cedo ou mais tarde, a Renault será cobrada e terá que usá-la", afirma Thompson.
Desenvolvimento
A dupla comenta que a gasolina à disposição do time no momento, desenvolvida em um laboratório na Inglaterra, já tem o mesmo nível de qualidade do produto Elf.
"O compromisso deles, porém, é fornecimento. Nós queremos é desenvolvimento", diz Thompson sobre a rival francesa, que tem profundas relações comerciais com a Renault.
Indagado se isso não havia sido considerado na assinatura do contrato, em janeiro, Thompson é seco. "A informação que tínhamos era que a Renault estava fora."
Segundo os técnicos, a Petrobrás foi procurada por Williams, que teria perguntado se a empresa brasileira não estaria interessada em participar da F-1. O primeiro contato aconteceu durante o GP da Bélgica do ano passado.
A Petrobrás, na verdade, encara uma realidade restrita, mas bem mais inóspita do que o mercado brasileiro de combustíveis, do qual detinha o monopólio até 97.
No momento da entrevista à Folha, por exemplo, seus funcionários eram vigiados por uma técnica da Elf, que entende português.
"A coisa aqui não é brincadeira", diz Gonçalves. "Mas estamos aprendendo tudo rapidamente."
A Petrobrás é a única petrolífera desde 95 a arriscar-se na F-1. A última foi a Mobil, em associação com a McLaren e com a Mercedes, que passou um bom tempo comprando produto alheio e colocando sua marca nos tambores.
"Esse tipo de esquema também nos foi proposto. Mas nossa intenção não é patrocínio. É adquirir tecnologia", afirma Thompson.
Foi por esse alegado motivo que a estatal recusou ter publicidade nos carros da Williams -espaço pelo qual teria de pagar, caso tivesse aceito a proposta.
A intenção é nobre, mas de difícil execução. Ainda mais em se tratando de um contrato que não ultrapassa os US$ 3 milhões, segundo a própria Petrobrás.
Na F-1, porém, só do número de milhões em patrocínio depende a força de argumentação.



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