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SONINHA
Façam suas apostas
Futebol é decidido com cabeça e coração, mas, como em uma corrida de cavalos, também é um jogo de azar
QUE JOGO! Que jogo!
Acompanhei o começo do
primeiro tempo pelo rádio.
No chat da CBN, um torcedor do
Fluminense avisou que Washington
faria dois gols. "Depois ele me manda os números da Megasena", brincou Paulo Massini com o adivinhão.
O palpite era arriscado porque o
atacante não marcava havia oito
partidas. Mas, naquela noite inesquecível, o primeiro gol saiu logo.
"Calma. Por enquanto, ele só acertou a quadra", ponderou o Éboli.
Realmente, passar raspando no mata-mata ou na loteria dá na mesma.
Cheguei em casa e vi o resto da
partida pela TV, esquecendo do torcedor otimista. Até porque o São
Paulo esteve muito perto de fazer
com que ele e outros tantos mil terminassem a noite tristes, frustrados,
depois de terem feito tudo o que podiam, em casa ou no estádio.
Mas lembrei dele no final; a cidade
festejou como se em cada esquina
alguém tivesse tirado a sorte grande
(claro, a torcida anti-São Paulo era
maior do que a torcida a favor...).
Derrotado em português em uma
competição que é quase toda em espanhol, o tricolor paulista podia se
despedir do torneio cantando um
tango argentino: "Por uma cabeza...". Como na corrida de cavalos,
perdeu no último instante, por uma
cabeça: o cabeceio de um potrillo valente. Desolado como Gardel, o São
Paulo teve de abandonar a carrera
pela obsessão que não é só de um
dia, é de toda a temporada - essa
mulher tão desejada, a Libertadores.
E assim foi que dos cinco brasileiros, restou um. A eliminação do Cruzeiro foi doída, mas sem motivo para
vergonha. Se não tivesse disparado
na frente em seu grupo, não teria pegado o bicho-papão Boca Juniors...
Jogou mal em Buenos Aires mas foi
valente em Belo Horizonte e se despediu com um dos gols mais bonitos
do ano, o sem-pulo do Wagner.
O Flamengo foi ridículo; o famoso
cavalo paraguaio?
A saída do Santos também foi trágica; Cabañas passeou no primeiro
jogo. Mas o choro quanto à arbitragem é justificável apesar das chances perdidas, especialmente na Vila,
Kleber Pereira FEZ um gol válido no
México.
O São Paulo perdeu por nocaute,
como disse Muricy, mas não deu vexame. E ele não foi burro, como afirmam alguns apostadores, quer dizer, torcedores...
O acaso é que é um bicho caprichoso, arisco. Quando Renato Gaúcho tirou Arouca, quase pôs tudo a
perder. A entrada de Aloísio levou o
São Paulo a criar uma, duas, três
boas chances, até sair o gol que garantia a vaga na semifinal. Mas a
substituição no time da casa passou
de imprudente a providencial em
um instante, no chute (errado!) de
Dodô. E o goleiro milagroso e sortudo até então deu um azar danado.
Dali em diante, qualquer previsão
era aceitável. O Fluminense podia
ter perdido para o próprio desespero, evidente no bate-boca entre dois
jogadores seus. Mas conseguiu conciliar coração quente e cabeça fria
para, com ela, superar o rival.
Que não pense, agora, que o pior já
passou. Ainda faltam quatro voltas
para cruzar o disco final, e um único
tropeço em qualquer uma delas pode tirá-lo do páreo. Mas se mantiver
a rédea curta para domar o excesso
de confiança, o digno representante
brasileiro há de chegar lá.
soninha.folha@uol.com.br
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