São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

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SONINHA

Façam suas apostas

Futebol é decidido com cabeça e coração, mas, como em uma corrida de cavalos, também é um jogo de azar

QUE JOGO! Que jogo! Acompanhei o começo do primeiro tempo pelo rádio. No chat da CBN, um torcedor do Fluminense avisou que Washington faria dois gols. "Depois ele me manda os números da Megasena", brincou Paulo Massini com o adivinhão. O palpite era arriscado porque o atacante não marcava havia oito partidas. Mas, naquela noite inesquecível, o primeiro gol saiu logo.
"Calma. Por enquanto, ele só acertou a quadra", ponderou o Éboli. Realmente, passar raspando no mata-mata ou na loteria dá na mesma.
Cheguei em casa e vi o resto da partida pela TV, esquecendo do torcedor otimista. Até porque o São Paulo esteve muito perto de fazer com que ele e outros tantos mil terminassem a noite tristes, frustrados, depois de terem feito tudo o que podiam, em casa ou no estádio.
Mas lembrei dele no final; a cidade festejou como se em cada esquina alguém tivesse tirado a sorte grande (claro, a torcida anti-São Paulo era maior do que a torcida a favor...).
Derrotado em português em uma competição que é quase toda em espanhol, o tricolor paulista podia se despedir do torneio cantando um tango argentino: "Por uma cabeza...". Como na corrida de cavalos, perdeu no último instante, por uma cabeça: o cabeceio de um potrillo valente. Desolado como Gardel, o São Paulo teve de abandonar a carrera pela obsessão que não é só de um dia, é de toda a temporada - essa mulher tão desejada, a Libertadores.
E assim foi que dos cinco brasileiros, restou um. A eliminação do Cruzeiro foi doída, mas sem motivo para vergonha. Se não tivesse disparado na frente em seu grupo, não teria pegado o bicho-papão Boca Juniors... Jogou mal em Buenos Aires mas foi valente em Belo Horizonte e se despediu com um dos gols mais bonitos do ano, o sem-pulo do Wagner.
O Flamengo foi ridículo; o famoso cavalo paraguaio?
A saída do Santos também foi trágica; Cabañas passeou no primeiro jogo. Mas o choro quanto à arbitragem é justificável apesar das chances perdidas, especialmente na Vila, Kleber Pereira FEZ um gol válido no México.
O São Paulo perdeu por nocaute, como disse Muricy, mas não deu vexame. E ele não foi burro, como afirmam alguns apostadores, quer dizer, torcedores...
O acaso é que é um bicho caprichoso, arisco. Quando Renato Gaúcho tirou Arouca, quase pôs tudo a perder. A entrada de Aloísio levou o São Paulo a criar uma, duas, três boas chances, até sair o gol que garantia a vaga na semifinal. Mas a substituição no time da casa passou de imprudente a providencial em um instante, no chute (errado!) de Dodô. E o goleiro milagroso e sortudo até então deu um azar danado.
Dali em diante, qualquer previsão era aceitável. O Fluminense podia ter perdido para o próprio desespero, evidente no bate-boca entre dois jogadores seus. Mas conseguiu conciliar coração quente e cabeça fria para, com ela, superar o rival.
Que não pense, agora, que o pior já passou. Ainda faltam quatro voltas para cruzar o disco final, e um único tropeço em qualquer uma delas pode tirá-lo do páreo. Mas se mantiver a rédea curta para domar o excesso de confiança, o digno representante brasileiro há de chegar lá.


soninha.folha@uol.com.br

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