São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2001

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BASQUETE

O novo tempo

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Festejou que, pela primeira vez nos 11 anos da competição, nenhum jogador estrangeiro atuou nas finais do Nacional.
Celebrou a bela conquista do Vasco, ancorada em jovens revelações como Jefferson, 21, Manteiguinha, 20, e Nenê, 19.
Aplaudiu o vice-campeonato do Ribeirão Preto, que mostrou topete ao trocar medalhões por promessas como Alex, 21, Renato, 23, Tiagão, 21, e Fabião, 23.
Ressaltou a ótima trajetória do Botafogo, que cumpriu a melhor campanha da primeira fase, classificatória, com um time inteiramente "made in Rio".
Comemorou a regularidade do Franca, pólo mais tradicional da bola-ao-cesto brasileira, que também chegou à semifinal.
Louvou o oitavo título brasileiro de Hélio Rubens, comparando-o até ao americano Phil Jackson, octacampeão da NBA.
Exaltou, por fim, a convocação da seleção brasileira que vai disputar quatro eventos no ano, destacando que 17 dos 27 listados fazem sua estréia no time.
O campeonato mal acabou, e a quadra encampou esse discurso de meias verdades, tão conveniente aos cartolas da bola laranja. "O basquete brasileiro renasceu, viva o basquete!", a intelligentsia (sic) ribombou.
Esqueceu-se, apenas, de que os atletas estrangeiros são valiosos para o aprimoramento dos brasileiros. Que a nacionalização dos times deveu-se, exclusivamente, à desintegração do real diante do dólar. Que foi por falta de pagamento, e não por virtudes dos reservas, que o Vasco perdeu José Vargas, dominicano, e Charles Byrd, americano.
Ignorou que, no ginásio, os reais heróis do título vascaíno foram três veteranos de seleção. Que Demétrius, 28, ainda é um dos poucos armadores do país que sabem criar no ataque. Que o ala Rogério, 30, mesmo a um dia da mesa de cirurgia, conseguiu desequilibrar na defesa. Que o lento Sandro Varejão, 29, exibiu o melhor repertório ofensivo dos pivôs brasileiros.
Escondeu que a opção do Ribeirão Preto por novatos foi resultado do estrangulamento de caixa. Que, exceto o pivô Fabião, a molecada não brilhou no playoff decisivo. Que nenhum dos quatro "pratas-da-casa" foi forjado na cidade.
Não diagnosticou por que o Botafogo caiu tão fragilmente nos mata-matas, a rigor a prova cabal das limitações técnicas de seu elenco de cinderelas.
Não notou o abandono que rondava o Franca, ratificado pela saída recém-anunciada dos armadores Valtinho e Márcio, seus melhores jogadores.
Não sacou que o discurso da "superação", que permeou o Nacional do começo ao fim, funciona também como máscara para a falta de qualidade.
Não percebeu que, apesar do inchaço de calouros, Hélio Rubens só teve a coragem de barrar dois nomes do fiasco do Pré-Olímpico de 1999. Que, a rigor, a seleção ainda pode disputar a Copa América, qualificatória para o Mundial de 2002, com um grupo manjado -e fraco.
Não recordou que, de 1999 para cá, o Brasil perdeu para a Argentina, pela primeira vez na história, a hegemonia em todas as categorias de base (cadete, juvenil e sub-21) no masculino.
Não explicou que, até por motivos biológicos, sempre haverá renovação no esporte. E que, por tudo isso, ao menos por enquanto, é um exagero, talvez até uma sacanagem, lançar a responsabilidade da salvação a um conjunto desarticulado de garotos.

Juventude 1
O Vasco ganhou, com méritos, o Nacional porque, conforme destacou esta coluna na semana retrasada, possui o time mais equilibrado -um diferencial em um torneio de pobreza tática.

Juventude 2
A seleção atuou renovada, sem suas melhores jogadoras, na WNBA. Mesmo assim, preocupa o apertado placar da vitória sobre as argentinas, eternas freguesas, na final (94 x 90).

Juventude 3
Nenê tem biótipo para o garrafão e mãos moles (no basquete, é elogio). Alex possui um primeiro passo explosivo. Renato mostra sede de cesta. O movimento lateral de pernas de Jefferson é bom. Helinho enfim achou seu arremesso. Guilherme, que joga na Espanha, Valtinho e Marcelinho têm o pacote quase completo. Pé no chão e nariz empinado, é o meu conselho, moçada.

E-mail: melk@uol.com.br



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