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BASQUETE
O novo tempo
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Festejou que, pela primeira
vez nos 11 anos da competição, nenhum jogador estrangeiro atuou nas finais do Nacional.
Celebrou a bela conquista do
Vasco, ancorada em jovens revelações como Jefferson, 21,
Manteiguinha, 20, e Nenê, 19.
Aplaudiu o vice-campeonato
do Ribeirão Preto, que mostrou
topete ao trocar medalhões por
promessas como Alex, 21, Renato, 23, Tiagão, 21, e Fabião, 23.
Ressaltou a ótima trajetória
do Botafogo, que cumpriu a melhor campanha da primeira fase, classificatória, com um time
inteiramente "made in Rio".
Comemorou a regularidade
do Franca, pólo mais tradicional da bola-ao-cesto brasileira,
que também chegou à semifinal.
Louvou o oitavo título brasileiro de Hélio Rubens, comparando-o até ao americano Phil
Jackson, octacampeão da NBA.
Exaltou, por fim, a convocação da seleção brasileira que vai
disputar quatro eventos no ano,
destacando que 17 dos 27 listados fazem sua estréia no time.
O campeonato mal acabou, e
a quadra encampou esse discurso de meias verdades, tão conveniente aos cartolas da bola laranja. "O basquete brasileiro renasceu, viva o basquete!", a intelligentsia (sic) ribombou.
Esqueceu-se, apenas, de que os
atletas estrangeiros são valiosos
para o aprimoramento dos brasileiros. Que a nacionalização
dos times deveu-se, exclusivamente, à desintegração do real
diante do dólar. Que foi por falta de pagamento, e não por virtudes dos reservas, que o Vasco
perdeu José Vargas, dominicano, e Charles Byrd, americano.
Ignorou que, no ginásio, os
reais heróis do título vascaíno
foram três veteranos de seleção.
Que Demétrius, 28, ainda é um
dos poucos armadores do país
que sabem criar no ataque. Que
o ala Rogério, 30, mesmo a um
dia da mesa de cirurgia, conseguiu desequilibrar na defesa.
Que o lento Sandro Varejão, 29,
exibiu o melhor repertório ofensivo dos pivôs brasileiros.
Escondeu que a opção do Ribeirão Preto por novatos foi resultado do estrangulamento de
caixa. Que, exceto o pivô Fabião, a molecada não brilhou
no playoff decisivo. Que nenhum dos quatro "pratas-da-casa" foi forjado na cidade.
Não diagnosticou por que o
Botafogo caiu tão fragilmente
nos mata-matas, a rigor a prova
cabal das limitações técnicas de
seu elenco de cinderelas.
Não notou o abandono que
rondava o Franca, ratificado
pela saída recém-anunciada
dos armadores Valtinho e Márcio, seus melhores jogadores.
Não sacou que o discurso da
"superação", que permeou o
Nacional do começo ao fim, funciona também como máscara
para a falta de qualidade.
Não percebeu que, apesar do
inchaço de calouros, Hélio Rubens só teve a coragem de barrar
dois nomes do fiasco do Pré-Olímpico de 1999. Que, a rigor, a
seleção ainda pode disputar a
Copa América, qualificatória
para o Mundial de 2002, com
um grupo manjado -e fraco.
Não recordou que, de 1999 para cá, o Brasil perdeu para a Argentina, pela primeira vez na
história, a hegemonia em todas
as categorias de base (cadete, juvenil e sub-21) no masculino.
Não explicou que, até por motivos biológicos, sempre haverá
renovação no esporte. E que, por
tudo isso, ao menos por enquanto, é um exagero, talvez até uma
sacanagem, lançar a responsabilidade da salvação a um conjunto desarticulado de garotos.
Juventude 1
O Vasco ganhou, com méritos, o Nacional porque, conforme
destacou esta coluna na semana retrasada, possui o time mais
equilibrado -um diferencial em um torneio de pobreza tática.
Juventude 2
A seleção atuou renovada, sem suas melhores jogadoras, na
WNBA. Mesmo assim, preocupa o apertado placar da vitória
sobre as argentinas, eternas freguesas, na final (94 x 90).
Juventude 3
Nenê tem biótipo para o garrafão e mãos moles (no basquete, é
elogio). Alex possui um primeiro passo explosivo. Renato mostra sede de cesta. O movimento lateral de pernas de Jefferson é
bom. Helinho enfim achou seu arremesso. Guilherme, que joga
na Espanha, Valtinho e Marcelinho têm o pacote quase completo. Pé no chão e nariz empinado, é o meu conselho, moçada.
E-mail: melk@uol.com.br
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