São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TOSTÃO

Certezas e dúvidas

As explicações para derrotas e vitórias não estão sempre corretas

DURANTE o jogo contra o Japão, vibrei com o futebol bonito e objetivo da seleção brasileira, o que não tinha acontecido nas duas primeiras partidas. Passada a euforia, é preciso cautela para não tirar conclusões definitivas por só um jogo. Será que as excelentes atuações da equipe e dos novos jogadores não foram uma ilusão e a goleada ocorreria com o time dos dois primeiros jogos, por causa da fragilidade da defesa do Japão? Será que a excepcional atuação de Ronaldo não foi mais um dos pouquíssimos momentos geniais que ele teve nos últimos anos? Muitos que diziam após os dois primeiros jogos que Ronaldo está acabado já falam que ele recuperou a forma por causa de apenas uma partida. Tenho antigas opiniões, como a preferência por Juninho a Zé Roberto, pelo estilo de Robinho ao de Adriano para atuar ao lado de Ronaldo. Mas não tenho certeza de nada. Quanto mais conhecimentos adquirimos de alguma coisa, mais dúvidas surgem. Se o Brasil for desclassificado em um dos próximos três jogos e o time atuar com a formação das duas primeiras partidas, já está decidido pela maioria que, independentemente das atuações dos jogadores, a culpa será de Parreira, que não teve coragem para barrar alguns antigos titulares, como Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo. Se o Brasil jogar bem e vencer com esses experientes atletas, jogando bem ou mal, vão dizer que Parreira teve prudência ao escalar os jogadores. Como existem dezenas de fatores envolvidos na conquista de um título, as resumidas e costumeiras explicações para derrotas e vitórias não estão sempre corretas nem são únicas. A verdade não está também apenas no acaso, que, muitas vezes, encobre a nossa ignorância. Com o tempo, criam-se também várias mentiras e fantasias sobre os fatos, que passam a ser verdade. Assim é a história. No futebol e na vida, raramente temos contato com a essência das coisas. Só conhecemos as explicações sobre ela e os símbolos que representam os fatos. A pura verdade é quase sempre desconhecida e/ou inalcançável.

tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Árbitro de jogo dá mais cartões do que colegas
Próximo Texto: Após usar "mano", Parreira mistura português e inglês
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.