São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Após usar "mano", Parreira mistura português e inglês

Treinador da seleção adota, com desenvoltura, palavras da língua de Shakespeare nos treinamentos e em entrevistas

Termos como "corner", "foul" e "offside" permeiam fala do técnico, que plagiou trechos de obra inglesa e hoje fala naturalmente com gringos

DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH

Carlos Alberto Parreira explica a importância do treinador em um time de futebol. "Essa química, essa chemistry...", diz.
Numa outra conversa com os jornalistas, falando sobre a lesão de Robinho: "Vamos torcer para que não seja nada. Crossfingers [dedos cruzados]".
Desde o início da preparação da seleção para a Copa, Parreira, que se habituou a responder perguntas usando a gíria "mano", agora mistura, com freqüência, o inglês e o português.
Garoto-propaganda da escola de idiomas brasileira Wizard, o técnico gasta seu "english" ao menos uma vez a cada dois dias. Nas conferências de imprensa, há pelo menos duas questões em língua inglesa.
"É muito importante fazer inglês para ter sucesso na vida. Eu fiz logo quando era novo", diz. Em comercial da escola de línguas, ele prega: "Seja um campeão", em português, para quem estuda... inglês, é claro.
Em entrevistas, Parreira começa no português e, de repente, solta um "mano". Continua e, em vez de escanteio, diz "corner". E segue. Falta. Não, "foul". Está impedido. Para ele, "offside". E um colega pede, em inglês: "Mr. Parrerra, fale sobre Gana". "Technically, they are very good, skillful." Traduzindo: "Tecnicamente, eles são muito bons, habilidosos".
A obsessão de Parreira com o inglês tem mais de 40 anos, quando ele começou a estudar o idioma, que ele fala com desenvoltura e raramente erra.
Entre os membros da comissão técnica, Parreira também usa a língua em conversas. É comum ele dizer uma frase em português e repeti-la no inglês.
Para os atletas, o uso do idioma é mais técnico, quando estão nos treinos. É comum sair da boca de Parreira "corner", "foul" e até "overlapping".
Já passa das 19h em Bergisch Gladbach. Final de coletiva. Um grupo de torcedores e jornalistas segue Parreira por todos os lados. Ele procura o ônibus da seleção. Não encontra.
Pára para tirar fotos com fãs. Fala com jornalistas estrangeiros. Gasta o inglês. "Ele está dando muitas entrevistas a estrangeiros", diz Rodrigo Paiva, assessor de imprensa da CBF.
Em 2005, o idioma serviu para Parreira copiar para seu livro conteúdo de "Soccer Tactics and Teamwork", obra escrita há 32 anos por Charles Hughes, ex-funcionário do segundo escalão da federação inglesa.
"Evolução Tática e Estratégias de Jogo" traduz parágrafos e capítulos quase inteiros do livro do inglês. Na obra, Parreira cita sua proximidade com a língua estrangeira. Ele diz que fez o livro como apostila, traduzindo obras (como a de Hughes), e a CBF é quem a lançou, o que não o exime de plágio. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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