São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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Na hora do acidente, brasileiro reduzia

Massa passava de quase 300 km/h para 200 km/h quando mola o atingiu

Peça que amassou capacete do ferrarista e provocou ferimento mede cerca de 10 cm x 5 cm e pesa aproximadamente 1 kg

DA ENVIADA A BUDAPESTE

Eram os instantes finais do segundo bloco do treino classificatório para o GP da Hungria.
Felipe Massa tinha o terceiro tempo, mas decidiu abrir uma volta rápida, tentando melhorar, buscando o acerto ideal para o Q3, a parte decisiva da sessão, a luta pela pole position.
Percorria a pequena reta entre as curvas 3 e 4 da pista de Hungaroring e começava a reduzir de quase 300 km/h para 200 km/h quando apagou. Com os pés cravados tanto no freio como no acelerador, não virou o volante para a esquerda, passou por uma faixa de grama, retornou para a pista e percorreu a área de escape até bater de frente na barreira de pneus.
Atônito, o autódromo assistiu às cenas sem entender a falta de reação do piloto. O mistério só foi desfeito pelas imagens da câmera onboard: uma peça atingiu o flanco esquerdo do capacete, fazendo com que o ferrarista perdesse os reflexos.
Com o bico do carro ainda encravado nos pneus, Massa, 28, recebeu o primeiro atendimento às margens da pista.
Estava consciente e, assim, foi levado ao centro médico do autódromo, onde passou por exames mais detalhados e recebeu rápidas visitas de Rubens Barrichello e Nelsinho Piquet, que não puderam entrar porque havia muito sangue na maca. Os médicos recearam que eles se assustassem com a cena.
"Ele estava muito agitado. Tem um corte na cabeça. Estava agitado, mas falando, consciente. Isso é o que importa. Tiveram que sedá-lo porque queria levantar, mas não podia. Ele estava muito bravo porque tinha um machucado na cabeça", relatou Barrichello.
Sedado, Massa então foi transportado de helicóptero para o Hospital Militar de Budapeste, a cerca de 20 km do circuito -praxe em acidentes na F-1, mesmo nos mais leves.
Mas seu caso exigiu mais do que os protocolares check-ups. Por volta das 17h30 locais, 12h30 em Brasília, cerca de três horas após o acidente, Massa começou a ser submetido a uma cirurgia para reparar fratura logo acima do supercílio.
Em nota oficial, a Ferrari anunciou "condição geral estável" e deu o diagnóstico: "Após exames médicos complexos, a conclusão é que Felipe Massa sofreu corte na testa, dano no osso do crânio e concussão cerebral. Nessas condições, precisará passar por cirurgia e, depois disso, ele será mantido sob observação em uma UTI".
A operação durou cerca de uma hora e foi chefiada pelo coronel Tajos Zsiros, ortopedista, e por Peter Gazsò, cirurgião.
Massa permaneceria sedado até a manhã de hoje, quando seria submetido a uma tomografia, às 10h locais, 5h em Brasília.
O corte, de 8 centímetros, foi causado pelo choque de uma mola que se soltou da suspensão do carro de Barrichello, instantes antes. O impacto amassou o capacete do ferrarista, causando a pequena fratura no crânio e a lesão no cérebro.
A peça, na parte central da traseira do carro, acima da luz de segurança, faz parte do sistema que regula a altura do carro em relação ao solo -o F60, modelo da Ferrari neste ano, não possui parte semelhante.
A mola mede cerca de 10 cm x 5 cm e pesa aproximadamente 1 kg, segundo o piloto da Brawn, que, antes de saber que ela havia causado o acidente, disse que seu carro ficou "inguiável" quando a suspensão quebrou.
No hospital, Massa estava acompanhado do irmão, Eduardo, o Dudu, 23, também piloto -corre na Pick-up Racing. Galvão Bueno, locutor da TV Globo, muito próximo da família desde que seu filho Popó corria na F-Renault com Massa, em 2000, foi o único amigo autorizado a entrar no hospital durante a operação.
Após a cirurgia, Dudu passou a noite no hotel em que a Ferrari se hospeda em Budapeste.
Foi o pior acidente da carreira do ferrarista, que disputa sua sétima temporada na F-1. Vice- -campeão mundial, soma 115 GPs, com 11 vitórias, 12 melhores voltas e 15 poles.
Oficialmente, Massa está classificado na décima posição no grid do GP da Hungria, mas não correrá. A Ferrari terá apenas um carro na corrida, guiado pelo finlandês Kimi Raikkonen. Até ontem, o último piloto da F-1 a dormir num hospital após um acidente na pista era Heikki Kovalainen, que bateu forte no GP da Espanha do ano passado. (TATIANA CUNHA)


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