São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Confederação conclui que padrão internacional de 50 cm é conforto demais para torcedor e orienta federações a cortar espaço e dar só 45 cm para "bunda no chão" nas arquibancadas

Para inchar estádios, CBF manda encolher bumbum

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Veja o comprimento desta reportagem. É exatamente o espaço que o leitor e o torcedor nacional terão para se acomodar a partir de agora em grande parte dos estádios do futebol brasileiro.
No país que mais idolatra a bunda, a CBF resolveu diminuir o quadril do torcedor. E determinou que o brasileiro terá agora apenas 45 centímetros para se sentar nas arquibancadas, local preferido da platéia que acompanha os espetáculos esportivos.
Anteontem, a entidade que comanda o futebol no Brasil enviou às federações estaduais um comunicado em que autoriza os administradores de estádios a simplesmente "cortar" cinco centímetros em cada um dos "assentos".
O objetivo da diminuição dos quadris é claro: aumentar a capacidade dos estádios, principalmente no Nordeste do país. Desde a década de 90, por motivos de segurança, arenas que comportavam mais de 70 mil pessoas sofreram processo de encolhimento.
São os casos de Maracanã e Morumbi, por exemplo, que diminuíram consideravelmente suas capacidades com a reforma que sofreram para abrigar o Mundial de Clubes da Fifa, em 2000.
"Cinquënta centímetros é um parâmetro muito rigoroso. Serve para cadeiras, porque entre elas tem que haver um vão. Não é o mesmo parâmetro de pessoas sentadas com a bunda no chão. Bunda no chão vai ficar em 45 cm", sentencia Virgílio Elísio, diretor do Departamento Técnico da CBF, que lidera um grupo de trabalho sobre adaptações que os estádios terão que sofrer a partir do ano que vem.
A norma dos "45 cm para a bunda" é apenas parte de um novo caderno de encargos que as arenas terão que cumprir para que sejam utilizadas nos campeonatos que a CBF organiza: séries A, B e C e a Copa do Brasil.
O "Caderno de Inspeção de Estádios", como foi batizado, será baixado como decreto até o final do mês que vem em forma de RDI (resolução de diretoria). Mas a diminuição do espaço nos assentos já está em vigor no país.
A partir da RDI, as federações terão que verificar se as exigências estão sendo atendidas. "Faremos um check-list. E só terá o aval quem estiver de acordo com as novas normas", disse Elísio.
O espaço para o torcedor se acomodar não será modificado nos locais onde haja cadeiras. Nesse caso, a CBF seguirá determinação da Fifa para as competições que organiza, de um metro linear para cada duas pessoas -ou seja, 50 cm para cada torcedor.
Curiosamente, o Brasil tem praticamente garantida a organização da Copa de 2014, quando deverá receber, devido ao rodízio de continentes na organização dos Mundiais, torcedores de vários países, muitos acostumados ao conforto de estádios modernos.
Mas Maracanã, Morumbi, Mineirão e outros palcos que potencialmente abrigarão jogos do Mundial não precisarão atender ao comunicado da CBF sobre os 45 cm, uma vez que são todos formados por cadeiras.
Especialmente na Europa, não há torcedores sentados no cimento ou mesmo apertados, sem o mínimo conforto.
E a medida da CBF sai no ano seguinte à implementação de uma lei, o Estatuto do Torcedor, que determina uma série de melhorias para o consumidor do ""espetáculo" futebol.
O Campeonato Brasileiro se prepara para registrar nesta temporada a sua pior média de público da história -hoje, a marca no principal torneio do país é de apenas 7.411 pessoas por partida.
E o atrativo encontrado pelos dirigentes para trazer as pessoas de volta aos estádios foi justamente estreitar o traseiro do torcedor, que tem pago cada vez mais caro pelos ingressos no país do futebol.

Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Saiba mais: Torcedor poderá ficar apertado como em avião
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.