São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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PARAOLIMPÍADA

País, que era sétimo até anteontem, se recupera, mas ruma para repetir fiasco técnico registrado em Sydney

EUA apostam em sprint contra vexame

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

A divisão paraolímpica do Usoc, o Comitê Olímpico dos EUA, apresenta como sua missão "ser o líder do movimento com o desenvolvimento de programas de elite para nossos atletas".
A prática, no entanto, está bem distante da teoria. Até ontem, os americanos ocupavam somente a quarta colocação no quadro de medalhas da Paraolimpíada de Atenas, com 68 pódios -e 19 medalhas de ouro.
Uma posição decepcionante para um país que ostenta status de potência esportiva. Na Olimpíada, mesmo desfalcados de várias estrelas por conta do escândalo Balco, os EUA permaneceram no topo do quadro de medalhas.
Agora, se não conseguir se recuperar até o encerramento do evento, terça, será sua pior posição desde o início da competição, em 1952. Desde então só duas vezes (em 1972 e em 2000) os EUA não ocuparam o topo da tabela.
O desempenho bem abaixo do histórico, porém, parece não preocupar o Usoc. "Estamos vivendo fase de transição", afirmou o porta-voz da entidade, Kevin Neuendorf. "Com a nova geração substituindo a mais antiga é normal acontecerem oscilações."
Os EUA, que, anteontem ocupavam apenas o sétimo lugar do quadro de medalhas, comprovaram a expectativa de melhora ontem, quando ganharam treze medalhas, das quais seis em natação e cinco em atletismo.
A delegação norte-americana deposita em uma arrancada final a esperança de sair de Atenas pelo menos entre os top 3.
A transição pode ser usada como justificativa para o desempenho na Grécia, mas não para explicar os resultados de Sydney, quando o país conquistou 36 ouros, 34 pratas e 109 bronzes, mas amargou a quinta posição, a pior de sua história na Paraolimpíada.
"Deixamos de vencer algumas provas por causa do crescimento dos outros países", afirmou Neuendorf. Ele citou como exemplo ex-repúblicas soviéticas.
O fraco desempenho dos EUA impressiona ainda mais pelo aspecto cultural do país. De acordo com o Usoc, existem nos EUA cerca de 54 milhões de portadores de deficiência -o Brasil, segundo dados de 2000 do IBGE, tem 24,5 milhões-, alvos de campanhas para que pratiquem esportes.
Os EUA atravessam a sua fase paraolímpica mais delicada justamente quando seu maior ícone do sucesso na competição anuncia sua aposentadoria.
Em 80, a nadadora Trischa Zorn ficou a um centésimo da vaga para o time olímpico. Os EUA boicotaram os Jogos de Moscou, mas foram à Paraolimpíada de Arnhem (HOL). Lá, Trischa, que nasceu com problema na íris, iniciou sua coleção de 54 pódios (41 ouros, 9 pratas e 4 bronzes).
Em Atenas, Trischa, 40, ganhou o bronze nos 100 m costas e foi finalista dos 200 m medley, prova em que foi batido seu recorde mundial de 90. "A marca durou 14 anos. Era hora de a quebrarem."


O jornalista Fernando Itokazu viaja a convite do Comitê Paraolímpico Brasileiro

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