São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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invasão

Grampos da PF mostram outras MSIs

Investigação no Corinthians revela atuação no Brasil de outros fundos com dinheiro desconhecido e com sócio de Kia

Nas gravações, empresários decidem comissão e valor de negociações de atletas sem nem falar com os clubes e usam recursos do exterior

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Além do que ocorreu com o Corinthians, as escutas telefônicas da Operação Perestroika da Polícia Federal mostram a atuação de outros fundos de investimento estrangeiros com recursos de origem desconhecida em clubes brasileiros.
Nas gravações, empresários do país conversam sobre o uso do dinheiro desses grupos na compra de jogadores para revendê-los na Europa. Fluminense e Flamengo são alvos.
Entre os investidores por trás das transações, está o israelense Pini Zahavi, um dos sócios de Kia Joorabchian, presidente da MSI, na compra de jogadores para o Corinthians.
A PF já está investigando Pini em um novo inquérito.
Em todas as conversas gravadas, os agentes de atletas, boa parte deles sem credencial da Fifa, discutem as transferências sem mencionar os clubes dos mesmos. Decidem valores, comissões e distribuição do dinheiro por conta própria.
"Estou com o Pini [Zahavi] no Rio. Vai comprar um jogador do Fluminense. (...) Estamos interessado em falar com você em cooperação. O fundo tem bons jogadores que ele precisa botar na Europa", contou o advogado Marcos Motta, em outubro de 2006. Seu interlocutor é Ioris, ligado ao clube Feyenoord, da Holanda.
Nas conversas, Motta se identifica como homem de Pini no Brasil. Seu escritório iria se tornar, segundo ele, o representante do Fund Hero, que inclui o israelense. Esse grupo teria 150 milhões de libras para investir, diz o advogado.
Grampeado pela PF por ter ligação com a MSI, Motta não é registrado na Fifa, entretanto atua como verdadeiro empresário, como na negociação do lateral Marcelo, ex-Fluminense, hoje no Real Madrid. Por meio de Motta e do agente Fifa Eduardo Uram foi feita uma proposta de 5 milhões pelo atleta -o dinheiro era de Pini.
Na outra ponta, os dois arrumam propostas de clubes espanhóis, Sevilla e Deportivo La Coruña, para revender o jogador mais caro do que sairia do Rio. Perderam para o Real, representado por Reinaldo Pitta.
Na negociação de Marcelo surge outro fundo: é o Duet. Tem como seu suposto representante Augusto Castro, outro que não tem credencial da Fifa.
"Recebo a ligação da Duet Sports: "Augusto começa a procurar as pessoas para montar um fundo". A única pessoa procurada foi o senhor Arthur Rocha, vice-presidente do Flamengo, que tinha um estudo de um fundo rotativo", diz Castro, que também menciona o Fundo Goal, sem dar detalhes.
Esse empresário não foi encontrado, mas o dirigente rubro-negro, agora em outro cargo, explicou que queria usar os atletas do Duet no Flamengo. "A idéia, como dirigente do clube, era o Flamengo ser uma vitrine para os jogadores. Qual o problema de ser barriga de aluguel?", comentou o cartola.
Não vingou a parceria com o Flamengo. Mas o Duet está sendo estruturado, esperando regulamentação na Inglaterra. É de um grupo que inclui um banco e tem ligação com Pini.
A participação de fundos em percentuais de jogadores não tem nenhuma previsão na Fifa. Também não estão reguladas as comissões por fora verificadas nos diálogos gravados.
É o caso da negociação de Gerson Magrão, do Feyenoord, para o Flamengo. Uram e Motta não eram representantes do jogador, mas ganharam. "E a nossa comissão, ele vai pagar?", questiona Uram. "Não vai pagar como comissão porque você não tem contrato como clube. Vai pagar como honorários para mim, que eu distribuo", explicou Motta. Procurado por telefone ontem, ele não atendeu as ligações da reportagem.


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