São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

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Beisebol muda cara e exporta

Invasão de não-descendentes de japoneses faz seleção crescer e engordar e atiça interesse dos EUA

Após registrar recorde de transferências neste ano, confederação nacional coloca meninos de CT para aprender inglês e japonês


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

O beisebol do Brasil está diferente. Isso porque nunca foi tão grande o número de não-descendentes de japoneses no esporte como nesta temporada.
Levantamento da Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol revela que um terço dos 3.500 jogadores cadastrados não tem ascendência oriental.
"É nítida a abertura do esporte. Quando vim para o Brasil, em 93, 95% dos praticantes de beisebol eram japoneses ou descendentes. Hoje está quase 50% para cada lado", diz o cubano Orlando Santana, técnico do Guarulhos e da seleção.
A invasão no esporte, segundo o presidente da CBBS, Jorge Otsuka, é fruto da política da entidade e da demanda de mercado. "Nós e os clubes passamos a fazer projetos sociais, isso trouxe muita gente de fora da colônia. E hoje os estrangeiros querem atletas altos e fortes, o que dá vantagem aos latinos sobre os descendentes."
A abertura no esporte é refletida nas seleções. No time pré-infantil (9 e 10 anos), por exemplo, o número de atletas sem vínculo oriental saltou de 5 em 2003 para 8 neste ano -representam 44% dos 18 convocados. No adulto, foi de 1 para 4.
Isso fez com que o biótipo das equipes nacionais ganhasse novos traços. "A diferença é muito grande de peso, de altura e de massa muscular. É visível", afirma João Toraiwa, coordenador técnico da confederação.
Na média, os descendentes de japoneses na seleção de base têm 1,38 m e 38 kg, enquanto os "brasileiros puros" ostentam 1,45 m e 44 kg. No adulto, a diferença é maior. O primeiro grupo tem na média 1,75 m e 81 kg. E os demais, 1,88 m e 93,5 kg.
A mudança de cara da seleção atiçou a veia de exportador do beisebol do país. Tanto que em 2007 o Brasil bateu recorde de atletas enviados ao exterior: 10.
"O físico faz a diferença. Nos EUA, o beisebol é potência. Eles querem caras altos e fortes e estão de olho na América Latina. O Brasil cresceu, mas engatinha em relação a República Dominicana, Colômbia, Venezuela, Nicarágua e Porto Rico", diz Fernanda De Luca, agente de atletas para a região da Hendricks Sports Management .
Isso explica o fato de 8 dos 10 atletas que foram para o exterior serem não orientais. Para Graciano Yagura, diretor da academia de beisebol da CBBS em Ibiúna (SP), que abriga 50 meninos (13 a 18 anos), os "japoneses" serão minoria em três anos. "Na fundação da academia, em 2000, 75% descendiam de orientais. Agora são 60% não-descendentes. Isso muda as coisas, a cabeça deles é diferente [quanto à disciplina]."
O centro, que hoje faz peneira com crianças, evidencia como o esporte busca a exportação, já que, após escola (manhã) e treino (tarde), os meninos estudam à noite japonês e inglês, idiomas dos pólos do beisebol.
"Aprender japonês é tão difícil quanto jogar beisebol", diz o arremessador Jean Tomé, que, após estagiar na Venezuela e na República Dominicana, onde times dos EUA testam atletas, irá para o Seattle Mariners.
Mas o beisebol corre risco. Com o Brasil fora dos Jogos de Pequim, quando o esporte dará adeus ao programa olímpico, a verba da Lei Piva à modalidade deve cair de R$ 700 mil para R$ 200 mil. "Como a gente nunca foi à Olimpíada, o brasileiro nem sente a saída do programa olímpico. Mas a perda da verba afetará o esporte", diz Otsuka.


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