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Beisebol muda cara e exporta
Invasão de não-descendentes de japoneses faz seleção crescer e engordar e atiça interesse dos EUA
Após registrar recorde de transferências neste ano, confederação nacional coloca meninos de CT para aprender inglês e japonês
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
O beisebol do Brasil está diferente. Isso porque nunca foi tão
grande o número de não-descendentes de japoneses no esporte como nesta temporada.
Levantamento da Confederação Brasileira de Beisebol e
Softbol revela que um terço dos
3.500 jogadores cadastrados
não tem ascendência oriental.
"É nítida a abertura do esporte. Quando vim para o Brasil,
em 93, 95% dos praticantes de
beisebol eram japoneses ou
descendentes. Hoje está quase
50% para cada lado", diz o cubano Orlando Santana, técnico
do Guarulhos e da seleção.
A invasão no esporte, segundo o presidente da CBBS, Jorge
Otsuka, é fruto da política da
entidade e da demanda de mercado. "Nós e os clubes passamos a fazer projetos sociais, isso trouxe muita gente de fora
da colônia. E hoje os estrangeiros querem atletas altos e fortes, o que dá vantagem aos latinos sobre os descendentes."
A abertura no esporte é refletida nas seleções. No time pré-infantil (9 e 10 anos), por exemplo, o número de atletas sem
vínculo oriental saltou de 5 em
2003 para 8 neste ano -representam 44% dos 18 convocados. No adulto, foi de 1 para 4.
Isso fez com que o biótipo
das equipes nacionais ganhasse
novos traços. "A diferença é
muito grande de peso, de altura
e de massa muscular. É visível",
afirma João Toraiwa, coordenador técnico da confederação.
Na média, os descendentes
de japoneses na seleção de base
têm 1,38 m e 38 kg, enquanto os
"brasileiros puros" ostentam
1,45 m e 44 kg. No adulto, a diferença é maior. O primeiro grupo tem na média 1,75 m e 81 kg.
E os demais, 1,88 m e 93,5 kg.
A mudança de cara da seleção
atiçou a veia de exportador do
beisebol do país. Tanto que em
2007 o Brasil bateu recorde de
atletas enviados ao exterior: 10.
"O físico faz a diferença. Nos
EUA, o beisebol é potência.
Eles querem caras altos e fortes
e estão de olho na América Latina. O Brasil cresceu, mas engatinha em relação a República
Dominicana, Colômbia, Venezuela, Nicarágua e Porto Rico",
diz Fernanda De Luca, agente
de atletas para a região da Hendricks Sports Management .
Isso explica o fato de 8 dos 10
atletas que foram para o exterior serem não orientais. Para
Graciano Yagura, diretor da
academia de beisebol da CBBS
em Ibiúna (SP), que abriga 50
meninos (13 a 18 anos), os "japoneses" serão minoria em três
anos. "Na fundação da academia, em 2000, 75% descendiam
de orientais. Agora são 60%
não-descendentes. Isso muda
as coisas, a cabeça deles é diferente [quanto à disciplina]."
O centro, que hoje faz peneira com crianças, evidencia como o esporte busca a exportação, já que, após escola (manhã)
e treino (tarde), os meninos estudam à noite japonês e inglês,
idiomas dos pólos do beisebol.
"Aprender japonês é tão difícil quanto jogar beisebol", diz o
arremessador Jean Tomé, que,
após estagiar na Venezuela e na
República Dominicana, onde
times dos EUA testam atletas,
irá para o Seattle Mariners.
Mas o beisebol corre risco.
Com o Brasil fora dos Jogos de
Pequim, quando o esporte dará
adeus ao programa olímpico, a
verba da Lei Piva à modalidade
deve cair de R$ 700 mil para R$
200 mil. "Como a gente nunca
foi à Olimpíada, o brasileiro
nem sente a saída do programa
olímpico. Mas a perda da verba
afetará o esporte", diz Otsuka.
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