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FUTEBOL
Aposentadoria
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Não é novidade para
ninguém que a carreira de
jogador de futebol é curta e sujeita a intempéries. São dez anos
-com sorte 15- de vida útil.
Alguns, como Júlio César, Mauro Galvão e Romário, são exceção à regra e batem na casa dos 20 anos.
Mas mesmo eles, um dia, terão que pendurar as chuteiras. E
aí vem a pergunta: O que fazer
quando a bola pára de rolar?
Creio que há três tipos de jogadores aposentados: os meu-mundo-caiu, os começar-de-novo e os superbacanas.
O jogador do primeiro tipo é
aquele que, cabisbaixo, canta
um velho sucesso de Maísa
("Meu mundo caiu/ e me fez ficar assim/ você conseguiu/ e
agora diz que tem pena de
mim...").
Todos já ouvimos falar de pelo
menos um atleta que não soube
superar o abalo representado
pela queda no padrão de gastos,
pelo sumiço das loiras e pela indiferença dos jornalistas. Muitos tornam-se alcoólatras e passam o tempo vociferando contra
os atletas da atualidade, que ganham muito dinheiro e não jogam a metade do que ele jogava.
O segundo grupo é aquele que
canta uma música de Ivan Lins
que foi tema da série Malu Mulher ("Começar de novo/ e contar comigo/ vai valer a pena...").
São jogadores que desaparecem do noticiário, mas que não
se afundam na nostalgia, conseguindo uma segunda vida fora
do campo. Eles não gostam de
falar de futebol, não vêem os
gols da rodada e, se por acaso
uma bola lhes cai diante dos pés,
fazem questão de devolvê-la
com as mãos.
Para sobreviver, o começar-de-novo geralmente abre algum
comércio, como uma padaria,
um posto de gasolina ou um restaurante em sociedade com o
cunhado. E há também os que,
como Dirceu Lopes, vão viver no
interior, trocando a vida dos
campos pela vida no campo.
Finalmente, há os superbacanas, que continuam brilhando e
cantam em seu chuveiro aquela
música de Caetano Veloso: "Toda essa gente se engana ou então finge que não vê que eu nasci pra ser o superbacana".
Entre eles, muitos são os que se
tornam técnicos, como Nelsinho, Telê e Felipão, ou comentaristas, como Raul, Falcão e Casagrande.
Também não são poucos os
que tentam a política. Após
uma rápida busca pela minha
memória (que não é grande coisa), recordo-me de Wilson Piazza, Roberto Dinamite, João Leite, Zé Maria e Biro-Biro.
Zico foi secretário de Esportes,
mas hoje, sabiamente, dedica-se
mais aos negócios do seu clube,
o CFZ. Pelé, que foi ministro,
atualmente dirige uma empresa
com um sócio suspeito e posa de
amigo de dirigentes que até ontem combatia. Podia ser um semideus, mas parece não escolher bem suas companhias.
Cá entre nós, acho que os superbacanas de verdade são
aqueles que conseguem se manter no estrelato por alguma causa nobre, e não por buscar a fama ou uma conta bancária com
vários zeros. Por exemplo, Raí,
Leonardo e Afonsinho. Os primeiros criaram a Fundação Gol
de Letra. O terceiro participa de
uma ONG no Rio.
Em vez de atuarem em negócios escusos, resolveram participar da vida social.
É de superbacanas assim que
o Brasil precisa para não ficar
cantando por aí que seu mundo
caiu e nem viver na eterna esperança de começar de novo.
Imperfeitos
O leitor Randall Neto mandou a seleção "Ninguém é perfeito",
formada por jogadores que ficarão para sempre marcados por
algum erro. Goleiro: Barbosa, pelo gol tomado na Copa de 50.
Lateral-direito: Josimar, pelas prisões depois dos golaços no
Mundial de 86. Zagueiro central: Domingos da Guia, pelo pênalti cometido contra a Itália em 38. Quarto zagueiro: Júnior
Baiano, pelo conjunto da obra. Lateral-esquerdo: Bigode, pelo
controverso tapa de Obdulio na final de 50. Cabeça-de-área: Cerezo, pelo passe dado a Paolo Rossi na Copa de 82. Meias: Rivaldo, pela Olimpíada de Atlanta-96, e Zico, pelo pênalti desperdiçado contra a França em 86. Atacantes: Marcelinho Carioca, por sua performance na disputa de pênaltis contra o Palmeiras
na Taça Libertadores da América de 2000; Almir Pernambuquinho, pela briga na final do Estadual do Rio de 66; e Ronaldo, pela final da Copa de 98. O treinador, é claro, seria Mario Zagallo,
por ter escalado Ronaldo naquela partida.
E-mail: torero@uol.com.br
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