São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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FUTEBOL

Aposentadoria

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Não é novidade para ninguém que a carreira de jogador de futebol é curta e sujeita a intempéries. São dez anos -com sorte 15- de vida útil. Alguns, como Júlio César, Mauro Galvão e Romário, são exceção à regra e batem na casa dos 20 anos.
Mas mesmo eles, um dia, terão que pendurar as chuteiras. E aí vem a pergunta: O que fazer quando a bola pára de rolar?
Creio que há três tipos de jogadores aposentados: os meu-mundo-caiu, os começar-de-novo e os superbacanas.
O jogador do primeiro tipo é aquele que, cabisbaixo, canta um velho sucesso de Maísa ("Meu mundo caiu/ e me fez ficar assim/ você conseguiu/ e agora diz que tem pena de mim...").
Todos já ouvimos falar de pelo menos um atleta que não soube superar o abalo representado pela queda no padrão de gastos, pelo sumiço das loiras e pela indiferença dos jornalistas. Muitos tornam-se alcoólatras e passam o tempo vociferando contra os atletas da atualidade, que ganham muito dinheiro e não jogam a metade do que ele jogava.
O segundo grupo é aquele que canta uma música de Ivan Lins que foi tema da série Malu Mulher ("Começar de novo/ e contar comigo/ vai valer a pena...").
São jogadores que desaparecem do noticiário, mas que não se afundam na nostalgia, conseguindo uma segunda vida fora do campo. Eles não gostam de falar de futebol, não vêem os gols da rodada e, se por acaso uma bola lhes cai diante dos pés, fazem questão de devolvê-la com as mãos.
Para sobreviver, o começar-de-novo geralmente abre algum comércio, como uma padaria, um posto de gasolina ou um restaurante em sociedade com o cunhado. E há também os que, como Dirceu Lopes, vão viver no interior, trocando a vida dos campos pela vida no campo.
Finalmente, há os superbacanas, que continuam brilhando e cantam em seu chuveiro aquela música de Caetano Veloso: "Toda essa gente se engana ou então finge que não vê que eu nasci pra ser o superbacana".
Entre eles, muitos são os que se tornam técnicos, como Nelsinho, Telê e Felipão, ou comentaristas, como Raul, Falcão e Casagrande.
Também não são poucos os que tentam a política. Após uma rápida busca pela minha memória (que não é grande coisa), recordo-me de Wilson Piazza, Roberto Dinamite, João Leite, Zé Maria e Biro-Biro.
Zico foi secretário de Esportes, mas hoje, sabiamente, dedica-se mais aos negócios do seu clube, o CFZ. Pelé, que foi ministro, atualmente dirige uma empresa com um sócio suspeito e posa de amigo de dirigentes que até ontem combatia. Podia ser um semideus, mas parece não escolher bem suas companhias.
Cá entre nós, acho que os superbacanas de verdade são aqueles que conseguem se manter no estrelato por alguma causa nobre, e não por buscar a fama ou uma conta bancária com vários zeros. Por exemplo, Raí, Leonardo e Afonsinho. Os primeiros criaram a Fundação Gol de Letra. O terceiro participa de uma ONG no Rio.
Em vez de atuarem em negócios escusos, resolveram participar da vida social.
É de superbacanas assim que o Brasil precisa para não ficar cantando por aí que seu mundo caiu e nem viver na eterna esperança de começar de novo.

Imperfeitos
O leitor Randall Neto mandou a seleção "Ninguém é perfeito", formada por jogadores que ficarão para sempre marcados por algum erro. Goleiro: Barbosa, pelo gol tomado na Copa de 50. Lateral-direito: Josimar, pelas prisões depois dos golaços no Mundial de 86. Zagueiro central: Domingos da Guia, pelo pênalti cometido contra a Itália em 38. Quarto zagueiro: Júnior Baiano, pelo conjunto da obra. Lateral-esquerdo: Bigode, pelo controverso tapa de Obdulio na final de 50. Cabeça-de-área: Cerezo, pelo passe dado a Paolo Rossi na Copa de 82. Meias: Rivaldo, pela Olimpíada de Atlanta-96, e Zico, pelo pênalti desperdiçado contra a França em 86. Atacantes: Marcelinho Carioca, por sua performance na disputa de pênaltis contra o Palmeiras na Taça Libertadores da América de 2000; Almir Pernambuquinho, pela briga na final do Estadual do Rio de 66; e Ronaldo, pela final da Copa de 98. O treinador, é claro, seria Mario Zagallo, por ter escalado Ronaldo naquela partida.
E-mail: torero@uol.com.br


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