São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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Meio a zero

No mata-mata com seca de gols, Brasil esquece jogo bonito e prega eficácia para superar Gana

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL

ENVIADOS ESPECIAIS A BERGISCH GLADBACH

Os gols estão em falta. O desejável, nas oitavas-de-final da Copa da Alemanha, é o resultado. Sem show, sem espetáculo. É a regra do Mundial. E a badalada seleção brasileira, cultuada pelo talento de seus jogadores, de quem sempre se espera algo diferente, não foge dela.
Ao menos no discurso, o que vale hoje para o time de Carlos Alberto Parreira contra Gana, às 12h, é vencer, não importa a maneira, para avançar às quartas-de-final. "O principal é ganhar. Se puder dar espetáculo, se puder jogar bonito, entre aspas, porque essa palavra não se aplica ao futebol, tudo bem. O importante é ter eficiência. Ninguém é contra jogar bonito e com eficiência, mas nas oitavas há o fantasma de voltar para casa", avalia Parreira.
As palavras do treinador sintetizam o que se viu nos jogos de mata-mata na Alemanha. Foram oitos gols em seis jogos, média de 1,33 por partida. Ou seja, em oitavas-de-final, é a Copa mais pobre em gols.
É pior que a de 1990, na Itália, de futebol defensivo e poucos gols. Naquele Mundial, a rede balançou 2,25 vezes por partida na decisão dos oito melhores. E é pior que a de 1994, vencida por Parreira com um time de jogo pragmático. Nos EUA, as oitavas produziram 3,12 gols.
A seca de gols ficou mais evidente ontem. A Itália só conseguiu passar pela Austrália com um gol solitário nos acréscimos do segundo tempo. E a Suíça, ao perder nos pênaltis para a Ucrânia após empate em 0 a 0, foi a primeira equipe na história das Copas a ser eliminada sem sofrer nenhum gol.
Os comandados de Parreira já assimilaram a maneira de pensar do técnico, que, hoje, é a maneira de pensar da Copa.
Ontem, para justificar o "futebol de resultados", os brasileiros citaram o simbólico duelo entre Portugal x Holanda. Jogo em que, no 1 a 0 para o time de Luiz Felipe Scolari, sobrou pancadaria, com quatro expulsões, e faltou futebol.
"Eu acho que, se o Brasil chegar às quartas, terá dado espetáculo. Não vi seleção dando espetáculo. O jogo de Portugal foi muito difícil. O jogo entre Inglaterra e Equador também. A Argentina empatou com o México e só ganhou na prorrogação", comenta o capitão Cafu.
Jogador que mais atuou com a camisa da seleção, o lateral-direito dá uma volta na história do time nacional para justificar sua opção pelo "resultado".
"A seleção de 1982, que não ganhou, para vocês [jornalistas] foi a melhor. Para mim, foram as de 1994, 1998 e 2002. Acho que jogar bem, dar espetáculo, é muito relativo. O importante é a vitória", afirma Cafu, alfinetando o time que deu espetáculo na Espanha, em 1982, mas caiu na segunda fase.
Até de quem se espera o algo a mais, o discurso não dá esperança de mudança. "O jogo bonito está de lado, todo mundo está objetivo e eficiente, todos buscam o resultado, e não jogar bem", diz Kaká, integrante do quarteto ofensivo, que ganhou o apelido de mágico.
Um empate com Gana hoje leva o jogo à prorrogação. Mantida a igualdade, a decisão será nos pênaltis. O vencedor pega Espanha ou França, que também se enfrentam hoje, às 16h.


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