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Louco, eu?
Com métodos pouco ortodoxos no comando do Chile, próximo rival do Brasil, Bielsa é idolatrado por uma nação
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
O argentino Marcelo Bielsa
pode fazer o que quiser no
Chile. Pode fechar todos os
treinos sempre, pode obrigar
jogadores a emagrecer sob
ameaça de não convocá-los.
Pode até perder para o Brasil
amanhã, que será perdoado.
Sob o comando de Bielsa,
54, a seleção chilena voltou a
disputar uma Copa do Mundo após 12 anos. E voltou por
cima, com a segunda melhor
campanha nas eliminatórias,
atrás apenas do Brasil.
No Chile, Bielsa levou ao
extremo o estilo e as atitudes
que lhe renderam o nada
criativo apelido de "El Loco".
Sob a ameaça de não convocação para a Copa, Bielsa
obrigou três jogadores a perder peso. O atacante Suazo e
os zagueiros Estrada e Contreras tiveram que emagrecer
4 kg, a mando do técnico, ou
não estariam na África.
Os atletas chilenos estão
sem sexo e sem Twitter na
Copa. Em certas épocas, até
telefone o treinador proíbe.
As janelas das concentrações sempre têm que estar
abertas, com o intuito de os
jogadores sentirem frio e se
acostumarem ao clima local.
No Chile, não há uma voz
de oposição ao treinador. Ao
contrário. No ano passado,
três parlamentares quiseram
dar nacionalidade chilena ao
técnico nascido em Rosario.
A ideia foi classificada de
populista por opositores e,
ante o bombardeio de críticas, foi engavetada. Bielsa
não precisou se manifestar.
O técnico virou até figura
central no cenário político
chileno. Durante as eleições
presidenciais do ano passado, o candidato Sebastian Piñera afirmou que queria "ser
como Marcelo Bielsa no governo, para mudar a cara do
país". Piñera venceu o pleito.
O técnico, entretanto,
nunca escondeu sua afinidade com a ex-presidente Michele Bachelet, que visitou o
time na África do Sul. "Quero
fazer pela seleção o que Bachelet fez pelo país", disse.
"É um homem bonito e misterioso", devolveu Bachelet.
O homem que estará no
banco de reservas do Chile
amanhã pensa futebol de
uma forma particular, própria, quase inflexível. Entende que é preciso marcar no
campo de ataque, para recuperar a bola o mais perto possível do gol adversário.
Por isso seus times fazem e
tomam muitos gols. O Chile
teve o segundo melhor ataque (32 gols, contra 33 do
Brasil) e a pior defesa (22 gols
sofridos) entre as cinco seleções sul-americanas que
conseguiram vaga na Copa.
Bielsa é o único treinador
da história da Argentina que
teve o contrato renovado
após ser eliminado em um
Mundial. Em 2002, dirigia
uma seleção favoritíssima,
que caiu na primeira fase.
Ele prosseguiu na seleção.
E levou o ouro na Olimpíada
de 2004.
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS,
RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)
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