São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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Louco, eu?

Com métodos pouco ortodoxos no comando do Chile, próximo rival do Brasil, Bielsa é idolatrado por uma nação

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

O argentino Marcelo Bielsa pode fazer o que quiser no Chile. Pode fechar todos os treinos sempre, pode obrigar jogadores a emagrecer sob ameaça de não convocá-los. Pode até perder para o Brasil amanhã, que será perdoado.
Sob o comando de Bielsa, 54, a seleção chilena voltou a disputar uma Copa do Mundo após 12 anos. E voltou por cima, com a segunda melhor campanha nas eliminatórias, atrás apenas do Brasil.
No Chile, Bielsa levou ao extremo o estilo e as atitudes que lhe renderam o nada criativo apelido de "El Loco".
Sob a ameaça de não convocação para a Copa, Bielsa obrigou três jogadores a perder peso. O atacante Suazo e os zagueiros Estrada e Contreras tiveram que emagrecer 4 kg, a mando do técnico, ou não estariam na África.
Os atletas chilenos estão sem sexo e sem Twitter na Copa. Em certas épocas, até telefone o treinador proíbe.
As janelas das concentrações sempre têm que estar abertas, com o intuito de os jogadores sentirem frio e se acostumarem ao clima local.
No Chile, não há uma voz de oposição ao treinador. Ao contrário. No ano passado, três parlamentares quiseram dar nacionalidade chilena ao técnico nascido em Rosario.
A ideia foi classificada de populista por opositores e, ante o bombardeio de críticas, foi engavetada. Bielsa não precisou se manifestar.
O técnico virou até figura central no cenário político chileno. Durante as eleições presidenciais do ano passado, o candidato Sebastian Piñera afirmou que queria "ser como Marcelo Bielsa no governo, para mudar a cara do país". Piñera venceu o pleito.
O técnico, entretanto, nunca escondeu sua afinidade com a ex-presidente Michele Bachelet, que visitou o time na África do Sul. "Quero fazer pela seleção o que Bachelet fez pelo país", disse. "É um homem bonito e misterioso", devolveu Bachelet.
O homem que estará no banco de reservas do Chile amanhã pensa futebol de uma forma particular, própria, quase inflexível. Entende que é preciso marcar no campo de ataque, para recuperar a bola o mais perto possível do gol adversário.
Por isso seus times fazem e tomam muitos gols. O Chile teve o segundo melhor ataque (32 gols, contra 33 do Brasil) e a pior defesa (22 gols sofridos) entre as cinco seleções sul-americanas que conseguiram vaga na Copa.
Bielsa é o único treinador da história da Argentina que teve o contrato renovado após ser eliminado em um Mundial. Em 2002, dirigia uma seleção favoritíssima, que caiu na primeira fase.
Ele prosseguiu na seleção. E levou o ouro na Olimpíada de 2004.
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS, RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)


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