São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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MOTOR

Os CDFs

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

"Este é um dos melhores times da história da F-1." Ross Brawn não economizou ao falar do próprio trabalho, logo após o quinto título de Michael Schumacher, o quinto que o mais notável parceiro do piloto alemão controlou do pit wall pelo rádio.
Existem relacionamentos na F-1 que são difíceis de decifrar, explicar. Alguns a história tratou de elucidar, outros, de esquecer. Esse, de um piloto com seu diretor de equipe, vai merecer diversas reflexões, mas só será devidamente compreendido quando e se os envolvidos derem chance para isso.
Moss não poupou críticas a Schumacher mesmo antes da consumação do pentacampeonato. Fora o grande adversário de Fangio, e os repetidos fracassos diante da genialidade do argentino o levaram naturalmente a respeitá-lo incondicionalmente. Não é uma tentativa de justificar o próprio "não-feito". É simplesmente o que anos de prática o levaram a forjar como lógica: Fangio era imbatível e ponto.
De maneira semelhante, Prost surpreendeu ao louvar o arquiinimigo Senna quando de sua morte. Não era apenas uma repentina polidez típica de funerais. Sentiu necessidade de declarar publicamente que aquele sujeito com que tanto disputou era talvez sua maior razão de correr: como ele mesmo disse, Alain Prost não existiria sem Ayrton Senna.
Talvez seja necessário esperar a aposentadoria ou coisa pior de Schumacher ou Brawn para que um fale do outro de maneira mais realista. O que temos até agora são apenas elogios e, por vezes, fragmentos da relação de trabalho mais eficiente dos últimos tempos, talvez da história da F-1.
É evidente que a sintonia entre os dois é enorme. Brawn faz as contas e propõe alternativas. Schumacher cumpre a que lhe parecer mais viável -na verdade, como já relatou várias vezes o engenheiro, quase sempre é a inviável, e com absoluto sucesso.
O processo é tão eficiente que acaba gerando desconfiança. Nos tempos de Benetton, o carro, diziam os detratores, carregava uma parafernália de equipamentos proibidos. Na Ferrari, o comportamento pouco esportivo, que não se limita a este ano, basta lembrar o primeiro jogo de equipe escancarado entre o alemão e o parceiro Irvine, em Suzuka, ainda nos bons tempos da McLaren.
Legal ou não, ético ou não, Brawn e Schumacher estabeleceram um padrão de trabalho de equipe inédito: nunca um time foi tão perfeito, maquiavélico até, na busca de um resultado. Isso explica muitas coisas, de jogadas geniais, como cumprir o stop & go no lugar de tomar a bandeirada na pista (Silverstone-98), a episódios nefastos, como o da segunda vitória de Barrichello.
Brawn e Schumacher, como dizem os ingleses, sempre fazem a lição de casa. Por isso são letais. E se matar interessa ao público, são tratados como gênios. Caso contrário, apenas como uma dupla de pilantras. Pior, serão gênios a despeito de tudo de sensacional que conseguiram antes. Pilantras apesar de todas as frias atitudes que não puderam, quiseram ou, sabe-se lá, conseguiram evitar.
Schumacher é penta, Brawn é penta. Só não correram juntos em 1996, o primeiro ano do alemão da Ferrari, fiasco provavelmente calculado para o primeiro impor a uma ainda bagunçada Maranello a contratação do segundo. Até nisso trabalharam.
O hexa não é um sonho.

Será?
Empresários brasileiros estudam comprar parte da Arrows. Mas esperam mudança na direção do time. Leia-se: Craig Pollock no lugar de Tom Walkinshaw. "Queremos ter uma opção de compra no futuro", diz Javenal de Oms, dono do autódromo de Curitiba.

Barrichello
Ao contrário de que fez no ano todo, a atitude do brasileiro desde domingo parece alheia ao sucesso ferrarista. Bem na hora que o time se prepara para levá-lo ao vice. Só falta a ficha ter caído agora.

Indy
Chris Pook cogita correr só em circuitos mistos e de rua. A Green, de Michael Andretti, prepara as malas para quem sabe seguir para a IRL, Cristiano da Matta conversa com a Toyota para ir para a F-1, e Christian Fittipaldi flerta com a Nascar. Daqui a pouco vai faltar gente nas arquibancadas, nos boxes e na pista também.

E-mail mariante@uol.com.br



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