São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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Um ano após morte de Serginho, São Caetano sofre pena no campo

KLEBER TOMAZ
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se um ano após a morte do zagueiro Serginho a Justiça ainda procura alguém para condenar, o São Caetano já foi condenado.
Desde que o defensor não voltou de uma parada cardiorrespiratória aos 30 anos de idade, em 27 de outubro de 2004, contra o São Paulo, no Morumbi, pelo Brasileiro, o clube caiu em desgraça.
O time do ABC paulista, fundado em 1989 e que teve uma ascensão meteórica há cinco anos, perdeu popularidade, a fama de melhor defesa do país e o apoio político que foi chave na sua subida.
Não por acaso, ocupa, sem contar os jogos da noite de ontem, a 15ª posição no Brasileiro.
Após a morte do zagueiro, o time sumiu da televisão. É ao lado do Paysandu o único clube desta edição do Nacional a não ter uma partida exibida pela TV Globo para a cidade de São Paulo. A situação é bem diferente do período em que sagrou-se vice-campeão brasileiro (2000 e 2001), vice da Taça Libertadores (2002) e campeão paulista (2004).
A média de público da equipe, que já era baixa -chegou a registrar 4,5 mil pagantes quando o time mandava seus jogos no estádio Anacleto Campanella- também despencou. Hoje o índice do clube é de 2,2 mil pessoas.
E a defesa do São Caetano, símbolo de eficiência, desandou. A média de gols contra sua meta, que já foi de 0,80 em 2003, subiu para 1,45 neste ano. Thiago, Neto e Douglas formam atualmente o trio de zagueiros do time, que já teve a dupla Serginho e Dininho.
Outra derrota do time que tem o apelido de "Azulão" foi no campo político. O prefeito morto Luiz Olinto Tortorello, que administrou São Caetano do Sul até 2004, era o principal padrinho do time. Além de ter ajudado a fundar o clube, foi seu presidente de honra.
Apesar de o atual sucessor, José Auricchio Júnior, ser do mesmo partido (PTB), não tem ligação estreita com a equipe de futebol.
"Um era mais apaixonado por futebol. Era uma paixão paternal. O outro é menos apaixonado", resume Mauro Chekin, secretário de Esporte e Turismo do município. Segundo ele, a única ajuda da prefeitura ao clube é ceder o estádio por tempo indeterminado.
Ninguém da diretoria do clube foi encontrado para falar do assunto. O presidente e o médico do clube, respectivamente, Nairo Ferreira de Souza e Paulo Forte, foram acusados de homicídio doloso qualificado por motivo torpe.
Segundo polícia e Ministério Público, os dois e o atleta foram avisados pelo médico Edimar Bocchi, do Incor (Instituto do Coração), para que Serginho parasse de jogar por apresentar problema cardíaco. Podem ser condenados a até 30 anos de reclusão.
Depois disso, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva suspendeu Nairo por dois anos. Forte levou gancho de quatro anos.
Em entrevista à Folha, Forte nega a acusação, se declara inocente e promete escrever um livro para limpar sua imagem.
"Sangue, Futebol, Suor e Lágrimas será o título do livro. Nele contarei a minha versão, que é a verdadeira dos fatos. Eu e o Serginho jamais fomos informados de que ele deveria parar de jogar", afirma o médico, que trabalha em sua clínica particular de ortopedia, mas presta serviços ao clube, que perdeu R$ 1 milhão com a morte de Serginho.
A viúva não foi encontrada, mas seu irmão, Luzio Nunes, informou que ela irá entrar com um processo contra o promotor do caso, Rogério Zagallo, que teria dito que ela "se prostituiu" por defender o São Caetano.


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