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BOXE
Armação ou não?
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Aquilo que aconteceu na
luta do Tyson foi armado,
não?" Este foi o comentário que
mais ouvi durante a semana.
Por "aquilo", leia-se o fato de
Tyson ter demolido Clifford
"Black Rhino" Etienne em 49 segundos. Exatamente como costumava fazer no início da carreira.
O principal argumento dos
adeptos da teoria conspiratória é
que Etienne, já caído na lona,
chegou a tirar com as próprias luvas o protetor bucal, indício de
que estaria bem consciente, mas
não se esforçou para levantar.
É verdade. Mas uma coisa é estar consciente, e outra, totalmente diferente, ter condições de luta.
Em um primeiro momento, até
deu a impressão de que Etienne
poderia ter levantado, mas quem
assistiu ao replay ou ao teipe da
luta conferiu a maneira como a
perna de Etienne se dobrou quando ele caiu, o que não teria como
ser fingido, e conferiu o impacto
com que seu corpo atingiu a lona.
Não foi como se Etienne tivesse
simplesmente se jogado no chão.
Outro indício levantado por
quem acha que Etienne foi comprado é o fato de as pessoas nas
primeiras cadeiras terem comemorado, aos pulos, a vitória de
Tyson. Eles teriam apostado em
Tyson já sabendo do resultado.
Ora, não é de hoje que parte do
público comemora animadamente nocautes de Tyson. Mesmo com
seu status arranhado, Tyson
mantém legião de admiradores.
E quem eventualmente tivesse
tomado parte em uma armação
teria sido mais discreto, acho...
Oponentes entregarem a luta
para Tyson não é nada novo,
mesmo que fosse de uma maneira
velada (entrar no ringue só para
sobreviver, sem esboçar nenhum
sinal de agressividade é uma forma menos evidente de fazê-lo).
O caso mais célebre e escandaloso foi o de Bruce "Atlantic City
Express" Seldon, que se atirou no
chão no primeiro assalto depois
de um cruzado de "Iron" Mike ter
acertado seu cabelo. Depois, após
se levantar e verificar que o árbitro daria prosseguimento à luta,
começou a bambear e dar sinais
de que não enxergava direito, forçando o juiz a interromper a luta.
Seldon entregou a luta, e o público foi fraudado. Mas aquilo
não foi combinado. Alguém realmente acredita que Tyson precisaria que Seldon fizesse isso?
Aquele foi mais um caso de covardia do que de desonestidade.
Fugindo da controvérsia e fixando-me ao aspecto técnico, a
versão de Tyson que vimos na
madrugada de domingo é superior àquelas que vimos contra
Lennox Lewis, em 2002, e Brian
Nielsen, no ano anterior. Contra
um adversário que não era dos
piores, pareceu mais seguro de si.
E definitivamente mais ativo.
Mas não o suficiente para derrotar o britânico Lewis.
Do ponto de vista atlético,
Tyson certamente tomou a decisão mais correta ao resolver adiar
uma revanche com Lewis, contrariando interesses de membros de
sua própria equipe e da rede de
TV a cabo Showtime, para quem
ainda estaria devendo dinheiro.
Não sei se algum dia Tyson voltará a reunir condições para bater Lewis, mas com certeza uma ou duas lutas preparatórias fariam sua performance melhorar.
Quase pesado
A ESPN International exibe à 1h de domingo teipe da última defesa
do campeão dos cruzadores pelo CMB, Wayne Braithwaite.
Pesado
O campeão brasileiro George Arias tem sua melhor chance para vencer um rival "de nome" no dia 8, quando pega Fabrice Tiozzo. É que
o ex-campeão dos meio-pesados e cruzadores vem de período de um
ano de inatividade e, há duas lutas, perdeu para o ex-campeão Virgil
Hill por nocaute no primeiro assalto (Hill é conhecido por ter a pegada fraca). Arias perdeu para todos os "nomes" que enfrentou, o ex-campeão cruzador Marcelo Dominguez, o titular dos cruzadores da OMB, Johnny Nelson, e, por último, o peso-pesado ranqueado Fres Oquendo, mas tem agora uma oportunidade para alterar essa rotina.
E-mail eohata@folhasp.com.br
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