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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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BOXE

Armação ou não?

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Aquilo que aconteceu na luta do Tyson foi armado, não?" Este foi o comentário que mais ouvi durante a semana.
Por "aquilo", leia-se o fato de Tyson ter demolido Clifford "Black Rhino" Etienne em 49 segundos. Exatamente como costumava fazer no início da carreira.
O principal argumento dos adeptos da teoria conspiratória é que Etienne, já caído na lona, chegou a tirar com as próprias luvas o protetor bucal, indício de que estaria bem consciente, mas não se esforçou para levantar.
É verdade. Mas uma coisa é estar consciente, e outra, totalmente diferente, ter condições de luta.
Em um primeiro momento, até deu a impressão de que Etienne poderia ter levantado, mas quem assistiu ao replay ou ao teipe da luta conferiu a maneira como a perna de Etienne se dobrou quando ele caiu, o que não teria como ser fingido, e conferiu o impacto com que seu corpo atingiu a lona. Não foi como se Etienne tivesse simplesmente se jogado no chão.
Outro indício levantado por quem acha que Etienne foi comprado é o fato de as pessoas nas primeiras cadeiras terem comemorado, aos pulos, a vitória de Tyson. Eles teriam apostado em Tyson já sabendo do resultado.
Ora, não é de hoje que parte do público comemora animadamente nocautes de Tyson. Mesmo com seu status arranhado, Tyson mantém legião de admiradores.
E quem eventualmente tivesse tomado parte em uma armação teria sido mais discreto, acho...
Oponentes entregarem a luta para Tyson não é nada novo, mesmo que fosse de uma maneira velada (entrar no ringue só para sobreviver, sem esboçar nenhum sinal de agressividade é uma forma menos evidente de fazê-lo).
O caso mais célebre e escandaloso foi o de Bruce "Atlantic City Express" Seldon, que se atirou no chão no primeiro assalto depois de um cruzado de "Iron" Mike ter acertado seu cabelo. Depois, após se levantar e verificar que o árbitro daria prosseguimento à luta, começou a bambear e dar sinais de que não enxergava direito, forçando o juiz a interromper a luta.
Seldon entregou a luta, e o público foi fraudado. Mas aquilo não foi combinado. Alguém realmente acredita que Tyson precisaria que Seldon fizesse isso? Aquele foi mais um caso de covardia do que de desonestidade.
Fugindo da controvérsia e fixando-me ao aspecto técnico, a versão de Tyson que vimos na madrugada de domingo é superior àquelas que vimos contra Lennox Lewis, em 2002, e Brian Nielsen, no ano anterior. Contra um adversário que não era dos piores, pareceu mais seguro de si. E definitivamente mais ativo.
Mas não o suficiente para derrotar o britânico Lewis.
Do ponto de vista atlético, Tyson certamente tomou a decisão mais correta ao resolver adiar uma revanche com Lewis, contrariando interesses de membros de sua própria equipe e da rede de TV a cabo Showtime, para quem ainda estaria devendo dinheiro.
Não sei se algum dia Tyson voltará a reunir condições para bater Lewis, mas com certeza uma ou duas lutas preparatórias fariam sua performance melhorar.

Quase pesado
A ESPN International exibe à 1h de domingo teipe da última defesa do campeão dos cruzadores pelo CMB, Wayne Braithwaite.

Pesado
O campeão brasileiro George Arias tem sua melhor chance para vencer um rival "de nome" no dia 8, quando pega Fabrice Tiozzo. É que o ex-campeão dos meio-pesados e cruzadores vem de período de um ano de inatividade e, há duas lutas, perdeu para o ex-campeão Virgil Hill por nocaute no primeiro assalto (Hill é conhecido por ter a pegada fraca). Arias perdeu para todos os "nomes" que enfrentou, o ex-campeão cruzador Marcelo Dominguez, o titular dos cruzadores da OMB, Johnny Nelson, e, por último, o peso-pesado ranqueado Fres Oquendo, mas tem agora uma oportunidade para alterar essa rotina.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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