São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

Fonte da juventude



Futebol e vida se confundem na biografia de Djalma Santos, que faz 80 anos e comemora jogando bola


DJALMA SANTOS completou 80 anos ontem. Amanhã de manhã, como faz todos os domingos, entrará em campo para bater uma bola com amigos num clube de Uberaba, cidade onde mora.
Confirma-se assim a frase sábia que ouvi uma vez de meu irmão: "A gente não para de jogar porque fica velho; a gente fica velho porque para de jogar". Djalma joga e permanece jovem. O português Manoel de Oliveira faz filmes e mantém o viço aos cem anos, assim como Picasso pintou maravilhas até os 92 e Chagall até os 98. Poucos profissionais do futebol tiveram uma carreira tão linda como a de Djalma Santos. Quatro Copas do Mundo, dois títulos mundiais com a seleção e grandes conquistas nos três clubes que defendeu: a Portuguesa, o Palmeiras e o Atlético-PR. No time do Paraná ganhou seu último título, em 1970, aos 41 anos. A profissão acabou, mas a paixão pela bola seguiu intacta. Essa paixão, conjugada ao respeito pelo próprio corpo (que não se confunde com o narcisismo hoje reinante) e ao amor pelos companheiros de profissão e diversão, talvez seja o segredo da eterna juventude do craque. Entre as fotos mais bonitas da Copa de 1958, há uma em que Djalma Santos, Pelé e Garrincha aparecem abraçados, rindo. Na verdade, Garrincha e Djalma fazem uma espécie de sanduíche do jovem Rei, o primeiro abraçando-o de frente, o outro pelas costas. É um trenzinho da alegria, uma imagem de felicidade plena, contagiante. Em momentos de desânimo ou depressão, rever essa foto tem o mesmo efeito revigorante de uma comédia dos Irmãos Marx. A vida pode ser bela, afinal.

Mudar para preservar
O International Board define hoje possíveis mudanças nas regras do futebol. No momento em que você lê este texto, talvez já esteja tudo decidido, mas não se aflija: nenhuma das mudanças em pauta é muito dramática. A principal delas seria a introdução do cartão laranja, um intermediário entre o amarelo e o vermelho, que ocasionaria a exclusão de um atleta do jogo por alguns minutos, como já acontece em outros esportes. Sou a favor, por ser mais uma medida inibidora da violência. A permissão de uma quarta substituição de jogador em caso de prorrogação me parece sensata. Já o aumento do intervalo entre os dois tempos, de 15 para 20 minutos, atende mais a interesses comerciais (mais tempo de propaganda na TV) do que propriamente esportivos. Quanto à adoção de bolas com chip ou à escalação de árbitros de linha para verificar se a bola entrou ou não no gol, não tenho opinião formada. Toda vez que se anunciam eventuais mudanças no futebol, temos uma tendência inercial a resistir, decerto por um apego ao jogo que aprendemos a amar. Com o tempo, admitimos que muitas alterações foram benéficas. Basta ver reprises de jogos antigos para constatar, por exemplo, como era irritante a "cera" na época em que o goleiro podia pegar com as mãos as bolas atrasadas por seus companheiros. No futebol, assim como na vida, nem sempre o passado foi tão bonito como costumamos pintá-lo.

jgcouto@uol.com.br


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