São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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Programa de metas mexerá no bolso de cartolas

Além de resultados, planejamento e até administração serão levados em conta por técnicos do alto rendimento

Ministério do Esporte argumenta que governo não terá como calcular e liberar verba, incluindo a da Lei Piva, a quem não aderir

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

O programa de metas para o desporto brasileiro, em produção pelo Ministério do Esporte, influirá diretamente na quantidade de dinheiro estatal que será liberado às entidades que controlam o esporte no país.
Embora use um sistema de meritocracia para a liberação da verba da Lei Piva às confederações esportivas, a cúpula do Comitê Olímpico Brasileiro tradicionalmente se manifesta de forma contrária à fixação de uma meta fixa de medalhas.
Segundo a pasta do esporte, até mesmo a liberação do dinheiro da Lei Piva, oriundo das loterias, estará condicionada à adesão ao programa de metas. Já estão em estudo dentro da pasta as ferramentas legais que possibilitem essa mudança.
""Quem se recusar a aderir ao programa vai sentir os reflexos no bolso", diz Ricardo Leyser, o secretário de Esporte de Alto Rendimento do ministério.
Leyser explica não se tratar de uma ação punitiva caso não seja conquistado um determinado número de medalhas em Olimpíadas ou Mundiais, mas a instituição de um parâmetro.
""Não é porque o [ginasta] Diego Hypólito caiu e a ginástica não conseguiu medalha nos Jogos de Pequim que cortaríamos a verba da confederação. Foi uma fatalidade. Mas é preciso metas para que seja feita uma reflexão após os Jogos."
Apesar de não necessariamente haver sanção financeira, Leyser admitiu que um programa de metas, em caso de maus resultados, levará a questionamentos de mídia e público.
""Trata-se de um programa gerencial de longo prazo. Hoje o governo dá o dinheiro às confederações [via COB] sem saber qual o planejamento para seu uso. De agora em diante, o dinheiro será liberado mediante apresentação de um projeto."
O dirigente diz que, se alguém se negar a cooperar, não haverá como calcular valor a ser liberado para a entidade.
As torneiras pelas quais o dinheiro público chega aos desportistas são várias. Elas vão desde a Lei Piva e a de incentivos fiscais, passando por patrocínios estatais, até chegar a programas como o Bolsa-Atleta.
Um exemplo aleatório dado por Leyser para fundamentar a necessidade de um planejamento é o de que ""quando se fala em dez medalhas olímpicas, é preciso saber e planejar 30 finais, 50 semifinais e daí até chegar ao trabalho com a base".
""Como pensamos no longo prazo, um esporte que hoje não se destaca em Olimpíada não sofrerá. Levaremos em conta resultados Pan-Americanos e Sul-Americanos", diz Leyser, que no Canadá, durante os Jogos de Vancouver, conversou com autoridades do Ministério do Esporte canadense sobre o programa de metas do país.
""No caso de algumas modalidades, é possível até haver incremento no dinheiro que as confederações recebem em relação ao quadro atual", aponta.
Até questões de cunho administrativo e da área de marketing das confederações esportivas nacionais serão levadas em consideração, a Folha apurou.
Antes de o governo bater o martelo no desenho final do programa, ele passará por consultas públicas com dirigentes, atletas, clubes, autoridades etc.
Até o fechamento desta edição, o COB não havia respondido questões sobre o assunto enviadas pela reportagem. A assessoria do comitê explicou que a pessoa que poderia falar sobre esse assunto é o presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, que está em Vancouver acompanhando os Jogos Olímpicos de Inverno.


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