São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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FUTEBOL
Paulistas tentam desmentir título de os mais faltosos, enquanto cariocas abandonam drible temendo contusão
Santos e Vasco renegam vocação na final

MARCELO TEIXEIRA
da Agência Folha, em Santos

SÉRGIO RANGEL
da Sucursal do Rio

O Vasco superou os rivais que apareceram pela frente com os dribles de Felipe e Ramon para chegar à final do Torneio Rio-São Paulo.
Já o Santos fez seu caminho cometendo faltas -pelas estatísticas, em geral, o time mais faltoso é o vencedor da partida.
E, agora, os finalistas prometem deixar de lado seus trunfos para chegar ao título, que começa a ser disputado às 18h30, no Maracanã.
A mudança no estilo de jogo da equipe carioca se deve à violência santista na competição.
Segundo o Datafolha, o drible foi a principal vantagem do time carioca no campeonato. De acordo com a pesquisa, o Vasco faz 35 tentativas por jogo, quando a média geral é de 26 dribles.
""Como o time do Santos tem um estilo muito forte, os jogadores vão ter que se movimentar e tocar rápido a bola para fugir das faltas. Não podemos prender muito o jogo. Se fizermos isso, vamos facilitar muito para eles", afirmou o técnico do Vasco, Antônio Lopes.
A equipe paulista comete 35 faltas por partida (a média geral é de 25). Além disso, o time já teve seis jogadores expulsos, mas foi beneficiado pelo regulamento da competição, que não prevê suspensão automática. Só o atacante Alessandro foi expulso duas vezes.
""Leão foi meu treinador, e sei que fará uma marcação nos principais jogadores do nosso time. Esse é o estilo de jogo dele. Para surpreendê-los, decidimos jogar com mais velocidade e evitar o contato", disse o lateral-direito Zé Maria, que foi comandado pelo técnico rival quando atuava na Lusa.
Na primeira partida entre os dois clubes na competição, o atacante Donizete, um dos destaques do time do Vasco, teve de ser substituído após se contundir em um lance com o volante Marcos Assunção.
A preocupação com a violência é tanta no Vasco que o vice-presidente de futebol do clube, Eurico Miranda, decidiu tentar pressionar os adversários.
Na sexta-feira, ele até ameaçou entrar na Justiça comum caso um dos seus jogadores sofra alguma contusão grave na partida.
Disse que entrará com uma ação também contra o árbitro, se ele for conivente com a violência.

"Violência é balela"
Por seu lado, os jogadores do Santos minimizaram as declarações do dirigente vascaíno Eurico Miranda. E negam acreditar que foi estabelecido um "clima de guerra" para o jogo de hoje.
"Isso tudo é balela", afirmou o zagueiro Argel, alvo preferido dos ataques de Miranda.
"Eu quero que me mostrem fatos. Estou há um ano e dois meses no Santos e fui expulso apenas uma vez e ninguém está aí sem jogar por culpa minha", afirmou.
Argel não acredita que as declarações de Miranda possam criar um clima propício para a ocorrência de jogadas violentas.
"O Vasco, assim como o Santos, vai entrar para jogar. Eu conheço o Antônio Lopes e sei o tipo de jogo que ele aprecia", disse o zagueiro.
"Mas o Santos não vai mudar sua maneira de atuar. É um time determinado, sem estrelas e forte no conjunto", conclui.
O goleiro Zetti também desprezou os comentários de Miranda. "Somos profissionais e respeitamos os colegas do outro lado. O Santos joga desta forma, é forte na marcação, mas não é violento. O futebol hoje é assim. É competitivo, corpo a corpo", afirmou.
"Apesar disso, não somos um time que joga na defesa. Jogamos para a frente e fazemos gols, como já mostramos no Maracanã", ressalvou Zetti, lembrando a semifinal contra o Botafogo.
O técnico Leão disse simplesmente que não comentaria opinião de quem quer que fosse sobre a possível "violência santista", por achar que a alegação não se justifica e por ter sido já bastante debatida. "Essa história está desgastada. Para mim, não existe", afirmou.
Ele comentou, no entanto, outras declarações de Eurico Miranda, como a afirmação de que foi dispensado do Vasco pelo dirigente em 1980. "Nessa época, o Eurico não passava de um coadjuvante no Vasco", afirmou.
Leão afirmou também que para arrancar sua juba "é preciso muita coragem". Provocador, Miranda havia afirmado que Leão sem a juba era um gatinho e miava.

Viola e Alessandro
O atacante Viola afirmou que não existe qualquer problema de relacionamento entre ele e o atacante Alessandro.
No final da primeira partida com o Botafogo, Viola havia reclamado de "individualismo" no time do Santos, sem citar nomes.
"Quiseram me jogar contra o Alessandro. A única coisa que eu disse é que, como jogo enfiado, por determinação do Leão, preciso receber bolas na área e, às vezes, essas bolas não chegam", disse.
O atacante ironizou o comportamento de Eurico Miranda. "Eu tiro o chapéu para ele. Queria tê-lo no meu time, porque faz tudo o que quer e acaba sempre dando certo."


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