São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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FUTEBOL

Keep walking

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A história de Roberto Baggio em campo está no fim.
Aos 37 anos, o homem que bateu o pênalti mais famoso de todos os tempos ensaia sua saída definitiva dos gramados ao final desta temporada com sua genialidade e sua popularidade intactas.
O "Codino" (rabicho ou rabinho) entrou nos últimos dias, no empate de 2 a 2 entre seu Brescia e o Parma, para a seleta galeria dos jogadores que marcaram 200 gols na Série A, o campeonato nacional mais duro do planeta. Foram muitos pênaltis convertidos (dos 200 gols dele no Italiano, consta que 68 saíram de penalidades máximas, o que representa mais de um terço do total). Porém isso não desmerece o mais talentoso jogador italiano que apareceu depois da Copa de 1982.
"Se você marca ou erra, qualquer pênalti batido merece sempre ser admirado." Talvez seja essa a melhor frase do craque que escapou da crucificação na católica Itália por elevar o budismo.
Imagine se Baggio tivesse acertado aquele pênalti na final da Copa de 1994 e Romário tivesse errado sua cobrança (a bola do "Baixinho" tocou na trave antes de entrar). A Itália seria a primeira tetracampeã, e Baggio seria eleito pela segunda vez o melhor jogador do planeta pela Fifa. O Brasil ficaria mais alguns anos na "fila", e Romário não teria seus maiores orgulhos, o título mundial e o troféu de melhor do planeta de 1994 (talvez fosse apontado até por muitos brasileiros como um jogador menos importante para o futebol que Baggio).
Os dois craques têm muitas coisas em comum aliás. Se Romário perambulou por três grandes do Rio, Baggio deixou seu nome na história de Juventus, Milan e Inter. Carismáticos, tiveram forte apoio popular para atuar na Copa de 2002, mesmo veteranos.
A parte mais legal do filme oficial do Mundial dos EUA é exatamente a que pega os dois pouco antes da entrada de Brasil e Itália no gramado do Rose Bowl.
Baggio protagonizou umas das melhores campanhas publicitárias dos últimos tempos. Politicamente incorreta por "vender" whisky, mostrava a redenção do italiano, que na Copa de 1998 voltou a bater um pênalti crucial. Acertou, deixando a lição de vida "keep walking" (embora a Itália tenha caído de novo no final).
Baggio esteve perto de vencer a Copa três vezes, mas a Azzurra foi eliminada na disputa de pênaltis nos três Mundiais que jogou.
Del Piero e Totti, ídolos que vieram na seqüência, ainda estão longe de Baggio na história da bola e no coração dos italianos, que, diferentemente dos brasileiros, sabem reverenciar seus ídolos.
O cara que fez o mesmo número de gols que Romário na Copa de 94 (tendo jogado menos minutos e algumas vezes "baleado") e que mais carregou um time àquela final receberá em breve um jogo de despedida da seleção de seu país, promessa do técnico Giovanni Trappatoni. Muita gente acredita que ele poderia ainda ser útil à Azzurra, pois nenhum conterrâneo o supera em arte e talento.
Enquanto isso Romário, sem sinal de jogo do adeus na seleção, é ofendido até por seus torcedores. Baggio "finaliza" melhor que ele.

Keep dreaming
Kaká, que deve ganhar seis páginas em edição próxima do ""Guerin Sportivo", foi o único que alcançou nas quartas-de-final da Copa dos Campeões nota 8 da ""Gazzetta dello Sport", jornal que promove a brincadeira ""Magic Euroleague" (montagem do time ideal do torneio e o contrário disso). A seleção: Dida; Helguera, Squillaci e Roberto Carlos; Edu, Giuly, Juninho Pernambucano e Kaká; Prso, Morientes e Pandiani. A anti-seleção: Molina; Desailly, Naybet e Romero; Mauro Silva, Guti, Duscher e Zikos; Govou, Raúl e Jankauskas.

Keep crying
O Villarreal de Belletti eliminou a Roma de Mancini da Copa da Uefa. O ótimo Mancini não foi bem e ganhou nota 5,5 da Gazzetta. O mediano Belletti foi pior: nota 5 (cartão amarelo e substituição).


E-mail rbueno@folhasp.com.br


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