FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Com um acerto copiado de Rubens Barrichello, Michael Schumacher conquistou ontem, em Barcelona, a 46ª pole position de sua carreira. Tetracampeão mundial e esportista mais bem pago do mundo, o alemão foi humilde: reconheceu ter "clonado" o carro do companheiro de equipe.
O treino repetiu com exatidão as cinco primeiras colocações do grid de largada de Imola, há duas semanas. E não foi coincidência.
A reprise dos resultados obtidos na Itália tornou evidente, de uma vez por todas, a atual relação de forças da categoria neste ano.
Na primeira fila, a melhor equipe: a Ferrari, de Schumacher e Barrichello. Na segunda, mas sem ameaçar, a Williams, com Ralf Schumacher à frente de Juan Pablo Montoya. E na quinta posição, Kimi Raikkonen, o único que ainda consegue tirar algo do acanhado carro da McLaren.
O GP de Barcelona, quinta etapa do Mundial, acontece a partir das 9h (de Brasília), com TV.
Ontem, durante quase todo o treino, a pole provisória foi de Barrichello -novamente, uma repetição do que aconteceu em Imola. Na última tentativa, porém, Schumacher baixou em 0s326 o tempo do companheiro.
"Adorei essa luta com Rubens. Foi um desafio, porque ele conseguia melhorar sempre que ia à pista. Mas eu olhei para seus tempos em cada setor do traçado para entender o que deveria fazer", afirmou Schumacher, ao fim da sessão. "Depois disso, fizemos algumas mudanças no carro, copiando o acerto dele. Deu certo."
A Barrichello, restou o consolo de ter servido de inspiração para o melhor piloto do mundo. De volta aos boxes, informado de que havia perdido a primeira colocação para o companheiro, balançou a cabeça, ainda de capacete, como que não acreditando no tempo cravado pelo alemão.
Caso conseguisse a pole, Barrichello quebraria um tabu. Até hoje, nas quatro vezes em que largou na frente, ele contou com a ajuda da chuva. Ontem, o tempo esteve seco em Barcelona, e essa é a previsão para o horário do GP.
"Como em Imola, é óbvio que eu preferiria estar na pole. Mas foi uma luta limpa com o Michael. Sabia que ele poderia melhorar meu tempo", disse o brasileiro.
"O fato de ele ter copiado meu acerto é também um reconhecimento do meu trabalho. É interessante ver que alguém com tantos recordes está vindo estudar meu carro. Este está sendo um campeonato bom, para cima."
Com uma proposta da Toyota para as próximas três temporadas, Barrichello luta para conseguir bons resultados nas próximas corridas, quando decidirá seu futuro. Hoje, ele tem a possibilidade de fechar por mais um ano com a Ferrari, mas seu objetivo é arrancar um contrato mais longo com a escuderia italiana.
Uma vitória em Barcelona certamente melhoraria suas perspectivas. O brasileiro afirmou estar com um bom pressentimento para a corrida. "Amanhã [hoje] com certeza não vou estar aqui me lamentando, dando explicações. Alguma coisa diferente vai acontecer, eu sinto", declarou.
Mais até do que a prova em si, o desafio de Barrichello em Barcelona será fazer uma boa largada. Em Imola, ele patinou nos primeiros metros e perdeu a segunda colocação para Ralf. Só recuperou o posto nos boxes, graças ao bom trabalho dos mecânicos.
"A Williams sempre larga muito bem e aqui, mais uma vez, vou largar do lado sujo da pista. No warm-up [último treino antes do GP] vou tentar limpar meu lugar no grid para que não se repita aquilo que ocorreu em Imola."
Até agora, o F2002, o novo carro da Ferrari, está com 100% de aproveitamento em corridas. Em três GPs disputados -dois com Schumacher e um com Barrichel-lo- o modelo obteve 26 pontos, a pontuação máxima possível.
Com a maior reta da F-1 -1.023 m-, o circuito de Barcelona é um dos mais sacrificantes para os carros em todo o calendário. A expectativa é a de muitas quebras.