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FUTEBOL
É preciso treinar bem
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Se Luis Fabiano tiver hoje
contra a Hungria uma excepcional atuação e a equipe fizer
muitos gols, não significa que ele
seja um fenômeno, tão bom
quanto o Ronaldo, e que o ataque
da seleção é melhor com o centroavante do São Paulo. Mas o fato vai estimular o Parreira a escalar os dois em algumas situações.
Se Luis Fabiano jogar mal, não
significa também que ele nunca
vai brilhar na seleção e nem que
ficou inibido. Sempre que um novato talentoso começa mal na seleção (será somente o segundo jogo do Luis Fabiano no time titular), dizem que a camisa pesou.
Dirceu Lopes, Ademir da Guia e
outros craques não brilharam no
time brasileiro porque ficaram
inibidos, e sim porque não tiveram chances de jogarem várias
partidas seguidas, já que havia
outros craques na posição.
Leandro, do Cruzeiro, que não é
o melhor reserva para o Roberto
Carlos, foi convocado recentemente, não jogou e não foi novamente chamado. Segundo informações, ele não teve outra chance
porque ficou inibido e não participou das brincadeiras com os
companheiros.
Por outro lado, parece que os jogadores da seleção sub-23 não são
convocados porque teriam brincado demais no Pré-Olímpico.
Qual será o nível ideal de brincadeira para o Parreira? Isso tem alguma importância?
Atletas introspectivos, tímidos e
calados (como eu era) costumam
ser desinibidos dentro de campo.
Vi também muitos brincalhões,
falastrões, que morriam de medo
diante da responsabilidade.
Este amistoso será mais uma
boa chance para o Parreira corrigir os defeitos. Os três do meio-campo estão muito distantes dos
três da frente. Os três do meio e os
quatro defensores marcam muito
atrás. Quando o time recupera a
bola, não dá tempo de os três armadores chegarem no ataque. Esse é um dos motivos da péssima
media de gols da seleção (1,07 por
partida) sob o comando do Parreira, como mostrou a Folha.
Os três do ataque jogam muito
pelo meio. Se os dois laterais são
bem marcados, não há jogadas
pelos lados. Na Copa de 2002, Felipão insistia nos treinos para o
Rivaldo e o Ronaldinho Gaúcho
atuarem também pelos lados. Vários gols saíram dessa maneira.
Quando um estava na ponta, o
outro ficava no meio para finalizar. Hoje, Kaká deve jogar mais
recuado, e o Ronaldinho Gaúcho,
próximo do Luis Fabiano.
Para justificar os poucos gols,
Parreira disse um milhão de vezes
que os adversários colocam oito
jogadores atrás da linha da bola.
A maioria das equipes, em todo o
mundo, atua normalmente dessa
forma. Para vencer essa marcação, é necessário fazer duplas pelas pontas, mudar rapidamente a
bola de um lado para o outro e
desarmar mais na frente, para ficar próximo do gol. A seleção não
tem feito nada disso.
Com tantos craques, está na hora do Brasil fazer uma ótima partida e marcar mais gols. Time que
treina e joga mal os amistosos
costuma não ir bem nas partidas
oficiais, como tem acontecido nas
eliminatórias. A famosa frase do
Didi, que treino é treino e jogo é
jogo, é exceção.
Conteúdo e forma
O mago Ronaldinho Gaúcho,
como é chamado na Espanha, fez
novamente uma mágica no gol
da vitória do Barcelona sobre o
Real Madrid. Ele enfiou o pé debaixo da bola, que voou por cima
dos zagueiros e caiu na frente do
companheiro.
Se continuar assim, Ronaldinho
Gaúcho será eleito no final do
ano o melhor jogador do mundo.
Ele, que já é um dos grandes da
história do futebol brasileiro, poderá se tornar um dos maiores do
mundo, de todos os tempos.
Ronaldinho é realmente um
mágico. Esconde a bola. Inventa,
improvisa e surpreende. Tudo
com muita técnica, eficiência e
beleza. Ronaldinho enfeita o futebol. Fico arrepiado ao vê-lo jogar.
Como Maradona, Ronaldinho é o
malabarista que deu certo.
Ronaldinho está mostrando o
talento que ensaiara durante as
peladas na infância, no Mundial
sub-17 de 1997 e no início de sua
carreira. A magia era a mesma.
Uma das diferenças é que agora
o seu espetacular futebol (conteúdo) tem forma. Ele descobriu o lugar e o jeito melhor de jogar, sem
ficar escravo da posição e da função. Da mesma forma, para se
formar um grande time, é necessário ter excepcionais jogadores
(conteúdo) e uma boa organização tática (forma). O conteúdo e a
forma são indissociáveis. Não se
pode falar de um sem conhecer o
outro.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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