São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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FUTEBOL

É preciso treinar bem

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Se Luis Fabiano tiver hoje contra a Hungria uma excepcional atuação e a equipe fizer muitos gols, não significa que ele seja um fenômeno, tão bom quanto o Ronaldo, e que o ataque da seleção é melhor com o centroavante do São Paulo. Mas o fato vai estimular o Parreira a escalar os dois em algumas situações.
Se Luis Fabiano jogar mal, não significa também que ele nunca vai brilhar na seleção e nem que ficou inibido. Sempre que um novato talentoso começa mal na seleção (será somente o segundo jogo do Luis Fabiano no time titular), dizem que a camisa pesou. Dirceu Lopes, Ademir da Guia e outros craques não brilharam no time brasileiro porque ficaram inibidos, e sim porque não tiveram chances de jogarem várias partidas seguidas, já que havia outros craques na posição.
Leandro, do Cruzeiro, que não é o melhor reserva para o Roberto Carlos, foi convocado recentemente, não jogou e não foi novamente chamado. Segundo informações, ele não teve outra chance porque ficou inibido e não participou das brincadeiras com os companheiros.
Por outro lado, parece que os jogadores da seleção sub-23 não são convocados porque teriam brincado demais no Pré-Olímpico. Qual será o nível ideal de brincadeira para o Parreira? Isso tem alguma importância?
Atletas introspectivos, tímidos e calados (como eu era) costumam ser desinibidos dentro de campo. Vi também muitos brincalhões, falastrões, que morriam de medo diante da responsabilidade.
Este amistoso será mais uma boa chance para o Parreira corrigir os defeitos. Os três do meio-campo estão muito distantes dos três da frente. Os três do meio e os quatro defensores marcam muito atrás. Quando o time recupera a bola, não dá tempo de os três armadores chegarem no ataque. Esse é um dos motivos da péssima media de gols da seleção (1,07 por partida) sob o comando do Parreira, como mostrou a Folha.
Os três do ataque jogam muito pelo meio. Se os dois laterais são bem marcados, não há jogadas pelos lados. Na Copa de 2002, Felipão insistia nos treinos para o Rivaldo e o Ronaldinho Gaúcho atuarem também pelos lados. Vários gols saíram dessa maneira. Quando um estava na ponta, o outro ficava no meio para finalizar. Hoje, Kaká deve jogar mais recuado, e o Ronaldinho Gaúcho, próximo do Luis Fabiano.
Para justificar os poucos gols, Parreira disse um milhão de vezes que os adversários colocam oito jogadores atrás da linha da bola. A maioria das equipes, em todo o mundo, atua normalmente dessa forma. Para vencer essa marcação, é necessário fazer duplas pelas pontas, mudar rapidamente a bola de um lado para o outro e desarmar mais na frente, para ficar próximo do gol. A seleção não tem feito nada disso.
Com tantos craques, está na hora do Brasil fazer uma ótima partida e marcar mais gols. Time que treina e joga mal os amistosos costuma não ir bem nas partidas oficiais, como tem acontecido nas eliminatórias. A famosa frase do Didi, que treino é treino e jogo é jogo, é exceção.

Conteúdo e forma
O mago Ronaldinho Gaúcho, como é chamado na Espanha, fez novamente uma mágica no gol da vitória do Barcelona sobre o Real Madrid. Ele enfiou o pé debaixo da bola, que voou por cima dos zagueiros e caiu na frente do companheiro.
Se continuar assim, Ronaldinho Gaúcho será eleito no final do ano o melhor jogador do mundo. Ele, que já é um dos grandes da história do futebol brasileiro, poderá se tornar um dos maiores do mundo, de todos os tempos.
Ronaldinho é realmente um mágico. Esconde a bola. Inventa, improvisa e surpreende. Tudo com muita técnica, eficiência e beleza. Ronaldinho enfeita o futebol. Fico arrepiado ao vê-lo jogar. Como Maradona, Ronaldinho é o malabarista que deu certo.
Ronaldinho está mostrando o talento que ensaiara durante as peladas na infância, no Mundial sub-17 de 1997 e no início de sua carreira. A magia era a mesma.
Uma das diferenças é que agora o seu espetacular futebol (conteúdo) tem forma. Ele descobriu o lugar e o jeito melhor de jogar, sem ficar escravo da posição e da função. Da mesma forma, para se formar um grande time, é necessário ter excepcionais jogadores (conteúdo) e uma boa organização tática (forma). O conteúdo e a forma são indissociáveis. Não se pode falar de um sem conhecer o outro.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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