São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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FIFA

Na véspera da eleição, Hayatou tenta seduzir seu reduto

Africano ataca América do Sul na 'boca-de-urna'

DO ENVIADO A SEUL

É na América do Sul que Issa Hayatou atira para colocar a África pela primeira vez no comando do futebol mundial.
A mensagem da campanha é clara: o continente tem dez times jogando por cinco vagas na Copa, relação que o camaronês diz considerar baixa demais. Para ele, fora Brasil e Argentina, as equipes sul-americanas estão no mesmo nível de africanos e asiáticos.
Sua proposta é diminuir a participação da América do Sul e aumentar a de outros continentes. O que, óbvio, não agrada aos latinos, que devem direcionar seus votos para Joseph Blatter.
""O apoio na América é muito maior do que pensei", chegou a pregar ontem Lennart Johansson, o homem que dirige o futebol europeu, para recuar ao ser interpelado pela Folha: ""Bem, na América do Sul, nem tanto".
A Uefa mostrou ontem que está no comando para valer da candidatura de Hayatou. Johansson se sentou no meio da mesa de entrevista, dirigiu as perguntas e colocou a seu lado Hayatou, o sul-coreano Chung Mong-joon e o italiano Antonio Matarrese, todos eles vice-presidentes da Fifa, todos oposição ferrenha a Blatter.
Dos quatro, o camaronês foi o que menos abriu a boca. Quando o fez, atacou o presidente da Fifa, aproveitando o péssimo momento da entidade, em que pululam acusações de corrupção e balanços negativos no setor financeiro.
O duelo é rasteiro. Num momento em que comparava o atual presidente e seu opositor, Lennart Johansson chegou a declarar ontem: ""Eu confio no aperto de mão dele [Hayatou"".
Um do documentos da campanha do africano, endereçado a presidentes de federações, traz uma pergunta mais do que direta: ""Você está satisfeito com a percepção pública de integridade e credibilidade de Blatter?".
Mas nem com esse tipo de munição Hayatou tem conseguido minar o apoio ao suíço.
Na Ásia, por exemplo, o sul-coreano Chung já se prepara para ser minoria. O dirigente, que na quinta passada recebeu Blatter na chegada a Seul, foi ao ataque ontem para explicar a falta de apoio a Hayatou: "Alguns membros da Fifa estão mais interessados no dinheiro do que nos benefícios a longo prazo".
Hayatou não tem conseguido tutelar nem seu próprio quintal.
Poucos assumem publicamente, mas muitos africanos devem votar na noite de hoje pela reeleição do suíço. Ontem, durante reunião das federações africanas num hotel de Seul, um discurso teve boa popularidade entre os opositores do camaronês: o de que Hayatou é um candidato mais da Europa do que de seu próprio continente.
Irmão de um ex-primeiro-ministro de seu país, ex-corredor e ex-jogador de basquete, o africano é cartola de futebol desde 1974.
Chegou ao comando do futebol camaronês em 1986. Dois anos depois, já presidia a Confederação Africana. Foi sob sua gestão que Camarões surpreendeu o mundo ao chegar até as quartas-de-final de Copa da Itália.
Culminava ali o projeto de trazer a África de vez para a elite do futebol. Um plano, que, ironia do destino, havia sido iniciado pelo maior padrinho de Blatter, o brasileiro João Havelange. Agora, os africanos, impulsionados pela dupla Blatter/Havelange, querem assumir o poder diretamente.
Para isso, apresentam um homem de 55 anos que tem aspectos diretamente opostos ao de Blatter. Se o suíço se orgulha de falar cinco línguas, o africano se justifica nas entrevistas: ""Meu inglês não é muito bom".
Por via das dúvidas, o presidente da Fifa também não economiza nas armas para tomar votos dentro da África. Uma delas é o projeto Goal (leia texto ao lado). Outra é o endeusado rodízio de continentes para a Copa, que significa entregar o torneio de 2010 para um país africano organizar, algo de que muitos deles certamente se lembrarão antes de votar amanhã em Seul. (ROBERTO DIAS)



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