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FIFA
Na véspera da eleição, Hayatou tenta seduzir seu reduto
Africano ataca América do Sul na 'boca-de-urna'
DO ENVIADO A SEUL
É na América do Sul que Issa
Hayatou atira para colocar a África pela primeira vez no comando
do futebol mundial.
A mensagem da campanha é
clara: o continente tem dez times
jogando por cinco vagas na Copa,
relação que o camaronês diz considerar baixa demais. Para ele, fora Brasil e Argentina, as equipes
sul-americanas estão no mesmo
nível de africanos e asiáticos.
Sua proposta é diminuir a participação da América do Sul e aumentar a de outros continentes. O
que, óbvio, não agrada aos latinos, que devem direcionar seus
votos para Joseph Blatter.
""O apoio na América é muito
maior do que pensei", chegou a
pregar ontem Lennart Johansson,
o homem que dirige o futebol europeu, para recuar ao ser interpelado pela Folha: ""Bem, na América do Sul, nem tanto".
A Uefa mostrou ontem que está
no comando para valer da candidatura de Hayatou. Johansson se
sentou no meio da mesa de entrevista, dirigiu as perguntas e colocou a seu lado Hayatou, o sul-coreano Chung Mong-joon e o italiano Antonio Matarrese, todos
eles vice-presidentes da Fifa, todos oposição ferrenha a Blatter.
Dos quatro, o camaronês foi o
que menos abriu a boca. Quando
o fez, atacou o presidente da Fifa,
aproveitando o péssimo momento da entidade, em que pululam
acusações de corrupção e balanços negativos no setor financeiro.
O duelo é rasteiro. Num momento em que comparava o atual
presidente e seu opositor, Lennart
Johansson chegou a declarar ontem: ""Eu confio no aperto de mão
dele [Hayatou"".
Um do documentos da campanha do africano, endereçado a
presidentes de federações, traz
uma pergunta mais do que direta:
""Você está satisfeito com a percepção pública de integridade e
credibilidade de Blatter?".
Mas nem com esse tipo de munição Hayatou tem conseguido
minar o apoio ao suíço.
Na Ásia, por exemplo, o sul-coreano Chung já se prepara para
ser minoria. O dirigente, que na
quinta passada recebeu Blatter na
chegada a Seul, foi ao ataque ontem para explicar a falta de apoio
a Hayatou: "Alguns membros da
Fifa estão mais interessados no dinheiro do que nos benefícios a
longo prazo".
Hayatou não tem conseguido
tutelar nem seu próprio quintal.
Poucos assumem publicamente, mas muitos africanos devem
votar na noite de hoje pela reeleição do suíço. Ontem, durante reunião das federações africanas
num hotel de Seul, um discurso
teve boa popularidade entre os
opositores do camaronês: o de
que Hayatou é um candidato
mais da Europa do que de seu
próprio continente.
Irmão de um ex-primeiro-ministro de seu país, ex-corredor e
ex-jogador de basquete, o africano é cartola de futebol desde 1974.
Chegou ao comando do futebol
camaronês em 1986. Dois anos
depois, já presidia a Confederação
Africana. Foi sob sua gestão que
Camarões surpreendeu o mundo
ao chegar até as quartas-de-final
de Copa da Itália.
Culminava ali o projeto de trazer a África de vez para a elite do
futebol. Um plano, que, ironia do
destino, havia sido iniciado pelo
maior padrinho de Blatter, o brasileiro João Havelange. Agora, os
africanos, impulsionados pela dupla Blatter/Havelange, querem assumir o poder diretamente.
Para isso, apresentam um homem de 55 anos que tem aspectos
diretamente opostos ao de Blatter. Se o suíço se orgulha de falar
cinco línguas, o africano se justifica nas entrevistas: ""Meu inglês
não é muito bom".
Por via das dúvidas, o presidente da Fifa também não economiza
nas armas para tomar votos dentro da África. Uma delas é o projeto Goal (leia texto ao lado). Outra
é o endeusado rodízio de continentes para a Copa, que significa
entregar o torneio de 2010 para
um país africano organizar, algo
de que muitos deles certamente se
lembrarão antes de votar amanhã
em Seul.
(ROBERTO DIAS)
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