São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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Blatter usa projeto para trocar verba por voto

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

A compra de votos de dirigentes é oficial neste ano nas eleições para a presidência da Fifa.
Joseph Blatter, que teria assumido a máxima entidade do futebol em 1998 pagando a africanos, aposta as suas chances agora em um projeto chamado Goal, pelo qual ele envia dinheiro para várias federações nacionais.
Tal projeto começou em 1999 com o objetivo de apoiar só as federações mais carentes, mas nos últimos meses virou arma política. No último ano da gestão Blatter, foram aprovadas cerca de 80 liberações de verba para federações. Só em março, quando as candidaturas foram oficializadas, foram acertados 30 projetos Goal.
O grupo que determina quais países são agraciados com o Goal é formado por aliados de Blatter. Entre esses, está Bin Hamman, dirigente do Qatar que teria intermediado a compra de votos de 98 -ele preside o Goal Bureau, que distribui as verbas do Goal.
O membro europeu desse grupo é o espanhol Angel Maria Villar Llona, único dirigente do Velho Continente no Comitê Executivo da Fifa que votará em Blatter.
Entre as irregularidades na gestão do suíço apontadas pelo secretário-geral da Fifa, Michel Zen-Ruffinen, está o envio de dinheiro por meio do Goal sem a aprovação do Comitê Executivo da entidade. ""O projeto Goal é usado por Blatter como parte dessa administração alegre da Fifa", afirmou Antonio Matarrese, italiano que integra o Comitê Executivo.
A Libéria, que lidera o movimento na África contra Issa Hayatou, foi o primeiro país a receber dinheiro do Goal -em novembro de 1999, o principal estádio da Libéria foi reformado.
A Fifa concluiu projetos Goal em só 11 países após três anos, mas, nas últimas semanas, já prometeu dinheiro para 106 nações.
São 204 federações filiadas à Fifa. Se as 106 que estão para ser atendidas pelo Goal votarem em Blatter, o suíço será reeleito.
A Europa, continente com melhor estrutura no futebol, tem hoje 17 federações recebendo dinheiro do Goal. A Fifa prometeu a conclusão de projetos nesses países para pouco tempo após a eleição -um deles ficaria pronto em junho, seis estariam terminados em agosto, três em setembro, um em outubro e um em dezembro.
Nas últimas semanas, Blatter tratou de visitar especialmente os países que estão sendo ajudados pelo Goal. É o caso de Zâmbia, Lesoto, Moçambique e Mali.
Em geral, o projeto Goal concede US$ 400 mil. A federação croata, por exemplo, fez a sede de sua federação com essa verba.
Mas não é só com o Goal que a Fifa deu dinheiro na gestão de Blatter a federações. A da Eslovênia recebeu US$ 500 mil para reformar sua sede, mas só 10% dessa verba veio do Goal -US$ 450 mil saíram de outro programa de assistência financeira da Fifa.


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