São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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FUTEBOL

O tedioso futebol feminino

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

Fala sério: existe alguém que, sem ser amigo, namorado ou parente das jogadoras da seleção feminina de futebol, roa as unhas na ansiedade da espera pela Olimpíada? Que vá descolar um atestado médico esperto para driblar o trabalho nos dias dos jogos? Ou sair mais cedo? Que planeje matar aula? Que pense nas cervejas a gelar e nas pipocas para o micro?
As garotas mandam bem. Graças ao currículo, conquistaram a vaga automática na Grécia, em contraste com o mico do time masculino. Superaram o descaso com que são tratadas pela CBF, como se estorvo fossem. Sofrem com o atraso da modalidade, por anos banida pelo regime militar. Vivem numa dureza franciscana, mostrada num magistral documentário da ESPN Brasil.
Tantos motivos para torcer pelos sonhos delas, tantos para não me entusiasmar com o seu futebol. Nada a ver com a historinha que o Saldanha contava, sobre o rapaz que apresenta a amiga ao pai. "O que você faz?", pergunta o pai. "Sou zagueira do Bangu", responde a moça.
"Não dá", repetia o adorável e preconceituoso João Sem Medo.
O problema é outro. Qualquer pelada de fim de mundo entre homens tem mais "craques" que a melhor partida do mulherio. A qualidade, mesmo das equipes de ponta, é pífia. O embate entre mulheres parece um simulacro do futebol. Nem de longe se compara aos confrontos femininos de vôlei, tênis, judô, atletismo e natação, tão ou mais emocionantes que os masculinos. É como o boxe: não parece ter nascido para elas.
Desconfio que a expansão temporã do velho ludopédio entre as meninas, com exceção de um punhado de rincões pioneiros, tenha contribuído para o desnível entre os sexos. E não se trata exclusivamente da nossa seleção.
Ao ver times como os dos Estados Unidos, da Alemanha e da Suécia, tenho a impressão de que rola uma brincadeira legal, não esporte de alto nível. Faltam velocidade, técnica e punch. Para não mentir, uma jogadora me arrebatou: a camisa 10 chinesa dos Jogos de 96. Era uma Ziquinha.
Talvez seja politicamente incorreto expor tal aversão, ainda mais com a seleção maltratada por quem deveria ampará-la e incentivá-la. Machismo seria, contudo, falar que acha bacana o que tedioso parece.
Já ouvi que é melhor assistir às moçoilas que a 22 pernas cabeludas. Tudo bem, aí é outro esporte. Pelada de modelos e atrizes, beleza. Dizer que está de olho por conta da bola que elas rolam, e não das curvas sob os uniformes, equivale a jurar que comprou a "Playboy" para ler a entrevista.
É claro que as mulheres vão jogar cada vez mais futebol. O torneio das amigas será sempre um programa animado. Ninguém vai perder as partidas da filha. Nem deixar de dizer à nova paixão, se boleira ela for, que nunca viu alguém matar a pelota com tamanho estilo.
Resistir aos cochilos diante da TV é mais difícil. Mesmo assim, os votos são sinceros: sucesso às gurias na busca do ouro inédito.

ET tricolor
Mais três defesas espetaculares anteontem. Como indagaria o Juca Kfouri, de que planeta vem Rogério Ceni?

Vale-tudo
Alex sai de campo depois da entrada do catalão. Como cobra o Fernando Calazans, quando terá fim a condescendência da Fifa com os trogloditas?

No Mineirão
O que trouxe otimismo para o jogo da seleção contra a Argentina foi o empate com a França e não a goleada sobre a Catalunha, como observou o Tostão.

Lavanderia Brasil?
É estranha demais a paciência de certo patrocinador com estrelas cadentes que não jogam nem saem de cima.

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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