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FUTEBOL
O tedioso futebol feminino
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Fala sério: existe alguém
que, sem ser amigo, namorado ou parente das jogadoras da
seleção feminina de futebol, roa
as unhas na ansiedade da espera
pela Olimpíada? Que vá descolar
um atestado médico esperto para
driblar o trabalho nos dias dos jogos? Ou sair mais cedo? Que planeje matar aula? Que pense nas
cervejas a gelar e nas pipocas para o micro?
As garotas mandam bem. Graças ao currículo, conquistaram a
vaga automática na Grécia, em
contraste com o mico do time
masculino. Superaram o descaso
com que são tratadas pela CBF,
como se estorvo fossem. Sofrem
com o atraso da modalidade, por
anos banida pelo regime militar.
Vivem numa dureza franciscana,
mostrada num magistral documentário da ESPN Brasil.
Tantos motivos para torcer pelos sonhos delas, tantos para não
me entusiasmar com o seu futebol. Nada a ver com a historinha
que o Saldanha contava, sobre o
rapaz que apresenta a amiga ao
pai. "O que você faz?", pergunta o
pai. "Sou zagueira do Bangu",
responde a moça.
"Não dá", repetia o adorável e
preconceituoso João Sem Medo.
O problema é outro. Qualquer
pelada de fim de mundo entre homens tem mais "craques" que a
melhor partida do mulherio. A
qualidade, mesmo das equipes de
ponta, é pífia. O embate entre
mulheres parece um simulacro do
futebol. Nem de longe se compara
aos confrontos femininos de vôlei,
tênis, judô, atletismo e natação,
tão ou mais emocionantes que os
masculinos. É como o boxe: não
parece ter nascido para elas.
Desconfio que a expansão temporã do velho ludopédio entre as
meninas, com exceção de um punhado de rincões pioneiros, tenha
contribuído para o desnível entre
os sexos. E não se trata exclusivamente da nossa seleção.
Ao ver times como os dos Estados Unidos, da Alemanha e da
Suécia, tenho a impressão de que
rola uma brincadeira legal, não
esporte de alto nível. Faltam velocidade, técnica e punch. Para não
mentir, uma jogadora me arrebatou: a camisa 10 chinesa dos Jogos
de 96. Era uma Ziquinha.
Talvez seja politicamente incorreto expor tal aversão, ainda mais
com a seleção maltratada por
quem deveria ampará-la e incentivá-la. Machismo seria, contudo,
falar que acha bacana o que tedioso parece.
Já ouvi que é melhor assistir às
moçoilas que a 22 pernas cabeludas. Tudo bem, aí é outro esporte.
Pelada de modelos e atrizes, beleza. Dizer que está de olho por conta da bola que elas rolam, e não
das curvas sob os uniformes, equivale a jurar que comprou a "Playboy" para ler a entrevista.
É claro que as mulheres vão jogar cada vez mais futebol. O torneio das amigas será sempre um
programa animado. Ninguém vai
perder as partidas da filha. Nem
deixar de dizer à nova paixão, se
boleira ela for, que nunca viu alguém matar a pelota com tamanho estilo.
Resistir aos cochilos diante da
TV é mais difícil. Mesmo assim, os
votos são sinceros: sucesso às gurias na busca do ouro inédito.
ET tricolor
Mais três defesas espetaculares
anteontem. Como indagaria o
Juca Kfouri, de que planeta vem
Rogério Ceni?
Vale-tudo
Alex sai de campo depois da entrada do catalão. Como cobra o
Fernando Calazans, quando terá fim a condescendência da Fifa com os trogloditas?
No Mineirão
O que trouxe otimismo para o
jogo da seleção contra a Argentina foi o empate com a França
e não a goleada sobre a Catalunha, como observou o Tostão.
Lavanderia Brasil?
É estranha demais a paciência
de certo patrocinador com estrelas cadentes que não jogam
nem saem de cima.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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