São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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Penetras

Preparado para receber uma final com a seleção brasileira em campo, Maracanã vira a principal atração no duelo entre os 'bicões' Equador e Jamaica

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Um torcedor paulista fantasiado de vaca com a bandeira do Corinthians roubando a cena nas arquibancadas.
Estilizados cigarros de maconha e camisas de astros do reggae espalhados pelo estádio que simbolizavam apoio aos jamaicanos no gramado. Namoradas tentando aprender o futebol. Famílias inteiras de turistas debutando na arena.
Este era o cenário ontem no Maracanã, na partida que virou o anticlímax deste Pan. Há anos, os organizadores dos Jogos planejavam receber, na última tarde de bola rolando no estádio, o maior público do evento. Na teoria, a seleção brasileira decidiria, com festa, a medalha de ouro no palco lotado por quase 90 mil torcedores.
Na vida real, a história foi outra. O Equador levou a medalha ao bater, de virada, a Jamaica. Mas o jogo foi o que menos importou.
Para as cerca de 10 mil pessoas que presenciaram a conquista do ouro equatoriano, o Maracanã era a maior atração.
"Compramos os ingressos há mais de dois meses pela internet contando que a seleção estaria aqui, mas, infelizmente, não deu. Mesmo assim, a festa tem que continuar", disse o administrador André Penazio, 27, vestido de vaca, um dos alvos preferidos das gozações dos torcedores na arquibancada enquanto jamaicanos e equatorianos "maltratavam" a bola no gramado do Maracanã.
Somente no primeiro tempo, ele posou para mais de 50 fotografias com torcedores. ""O clima está ótimo. Só de conhecer o Maracanã já valeu a pena". acrescentou Penazio, que foi ao jogo com um grupo de amigos de São Roque, interior de SP.
Os catarinenses Beto Cordeiro, 35, e Amanda Parado, 29, deixaram o jogo de lado para "fazer turismo" no estádio. "Já posso morrer feliz. Conheci o Maracanã, já tirei foto com os torcedores e até me imaginei fazendo um gol aqui. Pena que não dá para olhar este jogo", disse Cordeiro, ao pegar a rampa de saída do estádio ainda no intervalo da decisão do Pan.
Já três flamenguistas assistiam à final "de forma didática" com as namoradas. Eles queriam ensinar a elas todas as regras do futebol. "Como não tinha nada para fazer em casa, aceitei o convite. Até agora, não estou gostando nada. Alguns torcedores falam muitos palavrões de brincadeira", disse Priscila Monte, 19, estudante de moda. "Além disso, não consigo entender de jeito nenhum o que é impedimento."
Apesar de o resultado praticamente não importar, a maioria apoiava os jamaicanos. Dezenas de organizadas foram "fundadas" durante o jogo, como a Jamanguaça e a Irajamaica, composta por moradores de Irajá, zona norte do Rio.
Pouco torcedores tentavam justificar seriamente a opção. "Gostamos da Jamaica por termos estudado a sua civilização e concordamos com muitos pontos. É errado pensar que estamos aqui só pela posição deles em relação ao uso da maconha. Mesmo assim, o resultado não é tão importante", disse o universitário Vitor Pastore, 22.
Mesmo com o "papo cabeça" de alguns, o tom era de irreverência. "Já tínhamos o ingresso há duas semanas. Por isso, transformamos este limão numa limonada. Arrumamos tranças e viemos torcer para os jamaicanos. Sempre é bom fazer uma festa com os amigos no Maracanã", afirmou o professor Luiz Fernando Silveira, 33, que integrava a "organizada" Doidões pelo Ouro, uma das mais animadas na ex-geral.


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