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Penetras
Preparado para receber uma final com a seleção brasileira em campo, Maracanã vira a principal atração no duelo entre os 'bicões' Equador e Jamaica
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Um torcedor paulista fantasiado de vaca com a bandeira
do Corinthians roubando a cena nas arquibancadas.
Estilizados cigarros de maconha e camisas de astros do
reggae espalhados pelo estádio
que simbolizavam apoio aos jamaicanos no gramado. Namoradas tentando aprender o futebol. Famílias inteiras de turistas debutando na arena.
Este era o cenário ontem no
Maracanã, na partida que virou
o anticlímax deste Pan. Há
anos, os organizadores dos Jogos planejavam receber, na última tarde de bola rolando no
estádio, o maior público do
evento. Na teoria, a seleção brasileira decidiria, com festa, a
medalha de ouro no palco lotado por quase 90 mil torcedores.
Na vida real, a história foi outra. O Equador levou a medalha
ao bater, de virada, a Jamaica. Mas o jogo
foi o que menos
importou.
Para as cerca
de 10 mil pessoas que presenciaram a conquista do ouro equatoriano, o
Maracanã era a maior atração.
"Compramos os ingressos há
mais de dois meses pela internet contando que a seleção estaria aqui, mas, infelizmente,
não deu. Mesmo assim, a festa
tem que continuar", disse o administrador André Penazio, 27,
vestido de vaca, um dos alvos
preferidos das gozações dos
torcedores na arquibancada
enquanto jamaicanos e equatorianos "maltratavam" a bola no
gramado do Maracanã.
Somente no primeiro tempo,
ele posou para mais de 50 fotografias com torcedores. ""O clima está ótimo. Só de conhecer
o Maracanã já valeu a pena".
acrescentou Penazio, que foi ao
jogo com um grupo de amigos
de São Roque, interior de SP.
Os catarinenses Beto Cordeiro, 35, e Amanda Parado, 29,
deixaram o jogo de lado para
"fazer turismo" no estádio. "Já
posso morrer feliz. Conheci o
Maracanã, já tirei foto com os
torcedores e até me imaginei
fazendo um gol aqui. Pena que
não dá para olhar este jogo",
disse Cordeiro, ao pegar a rampa de saída do estádio ainda no
intervalo da decisão do Pan.
Já três flamenguistas assistiam à final "de forma didática"
com as namoradas. Eles queriam ensinar a elas todas as regras do futebol. "Como não tinha nada para fazer em casa,
aceitei o convite. Até agora, não
estou gostando nada. Alguns
torcedores falam muitos palavrões de brincadeira", disse
Priscila Monte, 19, estudante
de moda. "Além disso, não consigo entender de jeito nenhum
o que é impedimento."
Apesar de o resultado praticamente não importar, a maioria apoiava os jamaicanos. Dezenas de organizadas foram
"fundadas" durante o jogo, como a Jamanguaça e a Irajamaica, composta por moradores de
Irajá, zona norte do Rio.
Pouco torcedores tentavam
justificar seriamente a opção.
"Gostamos da Jamaica por termos estudado a sua civilização
e concordamos com muitos
pontos. É errado pensar que estamos aqui só pela posição deles em relação ao uso da maconha. Mesmo assim, o resultado
não é tão importante", disse o
universitário Vitor Pastore, 22.
Mesmo com o "papo cabeça"
de alguns, o tom era de irreverência. "Já tínhamos o ingresso
há duas semanas. Por isso,
transformamos este limão numa limonada. Arrumamos
tranças e viemos torcer para os
jamaicanos. Sempre é bom fazer uma festa com os amigos no
Maracanã", afirmou o professor Luiz Fernando Silveira, 33,
que integrava a "organizada"
Doidões pelo Ouro, uma das
mais animadas na ex-geral.
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