São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Vaia é a vergonha maior?

O Pan é uma espécie de Jogos do Interior das Américas, em que nenhum recorde mundial foi quebrado

RESPONDA RÁPIDO: o Pan do Rio será lembrado como os Jogos: a) do orçamento que estourou em quase 500%; b) da boa performance da natação brasileira ou c) das vaias anti-esportivas?
Bem, seja qual for o seu ponto de vista, já será um grande feito se, no futuro, alguém tiver alguma boa lembrança dos Jogos cometidos no Rio de Janeiro.
Os norte-americanos não deram a mínima pelota para o Pan. Ao longo da competição, no segmento de esportes da CNN, não foram mencionados. Jornais como "The New York Times", "USA Today" e "Washington Post" também ignoraram o evento sumariamente.
Por que eles deveriam dar destaque a uma competição que é uma espécie de Jogos do Interior das Américas, em que nenhum recorde mundial foi quebrado nos últimos 20 anos? Não é à toa que o Pan nunca foi feito em cidades como Nova York ou Vancouver, mas nas menores Indianápolis e Winnipeg, equivalentes tapuias de uma Bauru ou uma Ribeirão Preto (nada contra essas gloriosas cidades do interior, evidentemente).
Só para dar uma idéia da desimportância do Pan carioca, os tempos conseguidos pelo nadador Thiago Pereira, que faturou seis medalhas de ouro, uma de prata e outra de bronze, o colocariam entre o sexto e o oitavo lugares em Olimpíadas. E se, desta vez, o Brasil ultrapassou o Canadá no quadro de medalhas é porque os canadenses resolveram enviar aos Jogos o seu terceiro time. Mas, para salvar a honra, sobram as boas lembranças que os atletas vão levar para casa. A simpatia do carioca, a graça do samba, o exotismo da caipirinha e a beleza da mulher brasileira viverão para sempre na alma de nossos vizinhos, não é? Pois é, nem isso...
Nestes dias, o "Corriere Della Sera", jornal italiano de maior circulação, publicou artigo sobre as vaias no Pan intitulado "Povo cortês?", em que o correspondente Rocco Cotroneo pergunta: "O que está acontecendo no Brasil, terra com vocação para a felicidade?". Diz ainda: "Não é um belo espetáculo este que se vê no Rio. Os comentaristas de TV, no Pan e na Copa América, não fazem nada para evitar o regurgitar de um patriotismo grosseiro". E cita a famosa frase de Galvão Bueno: ""É bom ganhar, mas melhor ainda é ganhar dos argentinos".
De fato, entre a vergonha das obras superfaturadas, a vergonha das arquibancadas vazias enquanto os ingressos estão nas mãos de cambistas e a vergonha de ver uma brasileira ganhar a medalha de ouro no salto com vara porque suas adversárias foram prejudicadas por vaias inadmissíveis em esportes individuais, não sei qual a pior...


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