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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA
Vaia é a vergonha maior?
O Pan é uma espécie de Jogos do Interior das Américas, em que nenhum recorde mundial foi quebrado
RESPONDA RÁPIDO: o
Pan do Rio será lembrado como os Jogos: a) do orçamento que
estourou em quase 500%;
b) da boa performance da
natação brasileira ou c) das
vaias anti-esportivas?
Bem, seja qual for o seu
ponto de vista, já será um
grande feito se, no futuro,
alguém tiver alguma boa
lembrança dos Jogos cometidos no Rio de Janeiro.
Os norte-americanos
não deram a mínima pelota
para o Pan. Ao longo da
competição, no segmento
de esportes da CNN, não
foram mencionados. Jornais como "The New York
Times", "USA Today" e
"Washington Post" também ignoraram o evento
sumariamente.
Por que eles deveriam
dar destaque a uma competição que é uma espécie
de Jogos do Interior das
Américas, em que nenhum
recorde mundial foi quebrado nos últimos 20 anos?
Não é à toa que o Pan nunca foi feito em cidades como Nova York ou Vancouver, mas nas menores Indianápolis e Winnipeg,
equivalentes tapuias de
uma Bauru ou uma Ribeirão Preto (nada contra essas gloriosas cidades do interior, evidentemente).
Só para dar uma idéia da
desimportância do Pan carioca, os tempos conseguidos pelo nadador Thiago
Pereira, que faturou seis
medalhas de ouro, uma de
prata e outra de bronze, o
colocariam entre o sexto e
o oitavo lugares em Olimpíadas. E se, desta vez, o
Brasil ultrapassou o Canadá no quadro de medalhas
é porque os canadenses resolveram enviar aos Jogos
o seu terceiro time. Mas,
para salvar a honra, sobram as boas lembranças
que os atletas vão levar para casa. A simpatia do carioca, a graça do samba, o
exotismo da caipirinha e a
beleza da mulher brasileira
viverão para sempre na alma de nossos vizinhos, não
é? Pois é, nem isso...
Nestes dias, o "Corriere
Della Sera", jornal italiano
de maior circulação, publicou artigo sobre as vaias no
Pan intitulado "Povo cortês?", em que o correspondente Rocco Cotroneo pergunta: "O que está acontecendo no Brasil, terra com
vocação para a felicidade?".
Diz ainda: "Não é um belo
espetáculo este que se vê
no Rio. Os comentaristas
de TV, no Pan e na Copa
América, não fazem nada
para evitar o regurgitar de
um patriotismo grosseiro".
E cita a famosa frase de
Galvão Bueno: ""É bom ganhar, mas melhor ainda é
ganhar dos argentinos".
De fato, entre a vergonha
das obras superfaturadas, a
vergonha das arquibancadas vazias enquanto os ingressos estão nas mãos de
cambistas e a vergonha de
ver uma brasileira ganhar a
medalha de ouro no salto
com vara porque suas adversárias foram prejudicadas por vaias inadmissíveis
em esportes individuais,
não sei qual a pior...
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