São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Suor ou perfume?


É raro um atleta se identificar com o time, lutar 90 minutos, aprender seu hino. Por isso que valorizamos os raçudos


AMÁVEL LEITORA , você prefere sair com um bonitão que tem a cara do George Clooney, mas que não se importa muito com você, ou com um sujeito de feições comuns, mas que lhe faz uma canja especial quando você está gripada?
E você, leitor, gostaria mais de namorar uma bela e fria modelo, daquelas que deitadas ficam mais paradas que manequim de loja, ou uma mulher de feições normais que fizesse coisas de corar o pessoal de Gomorra?
Acho que a maioria dos leitores e leitoras escolheu, fácil, fácil, as segundas opções. E isso acontece ainda mais profundamente no futebol. Nestes tempos de profissionalismo, em que cada jogador fica apenas um semestre no clube, é raro ver um atleta que se identifique com o time, que lute os 90 minutos, que se emocione em vestir sua camisa, que aprenda seu hino, que olhe a tabela de classificação na segunda para ver como está o campeonato.
Por isso estamos vivendo uma era de valorização dos raçudos. Sim, hoje os raçudos são um artigo de luxo. Antes eram mais comuns que uísque paraguaio e eletrônico chinês. Hoje, tornaram-se um produto raro. Coisa chique. Tanto que, às vezes, são até importados.
Antigamente você sabia que o jogador daria tudo de si, pois ele, para o bem e para o mal, pertencia ao clube e sua vida estava definitivamente ligada a ele. Hoje, não. Com esse rodízio de pizza que é o mercado de jogadores, um atleta pode ir embora antes mesmo de saber o nome do porteiro.
A torcida sente isso e busca se identificar com os jogadores que têm a cara do time, que parecem se esforçar mais do que o simplesmente profissional. Pergunte a um palmeirense o que ele acha de Pierre e ouvirá adjetivos exagerados num tom carinhoso. Pergunte a um corintiano qual a saída que ele mais lamentou, se a de Cristian ou a do selecionável André Santos, e ele derramará lágrimas de saudade pelo volante. Pergunte a um santista se ele não acha que Madson está mais para um dos sete anões do que para um jogador de futebol e comprará uma briga.
Nestes dias de frieza, quem se empenha mais que o normal está se transformando em xodó da torcida. Atualmente, é dos raçudos que elas gostam mais. E há poucos por clube. Um ou dois. No máximo, três. Eles atraem o amor dos torcedores como gotas de Fanta Uva derrubadas na pia atraem formigas (o exemplo não é muito poético, mas aconteceu comigo ontem).
Qual destes ex-centroavantes os palmeirenses mais amam: Kléber ou Keirrison? A resposta é óbvia. Para os alviverdes, Kléber é um guerreiro capaz de derramar sangue pelo clube. Já Keirrison não passa de um prenúncio de cuspida.
Por isso, caro jogador, deixo-te um conselho. Caso sejas um daqueles atletas de estilo tão aristocrático que parecem estar jogando de smoking, fica na várzea. Só lá te saberão dar valor. Por outro lado, se não tens medo de deslizar na lama, de chocar tuas canelas com as do adversário, de correr como um desvairado e de chorar copiosamente nas derrotas, busca um grande time. Ele precisa de ti.

torero@uol.com.br


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