São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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TOSTÃO

Esperanças


Há muitos jovens despreparados pro futebol e pra a vida. Precisam ser tratados corretamente


JOBSON COMETEU mais uma indisciplina e foi afastado do Bahia. Segundo o noticiário, tinha de chegar às 22h na concentração.
Chegou às 6h do dia seguinte. A noite deve ter sido emocionante.
No Botafogo, no Atlético-MG e no próprio Bahia, teve condutas parecidas.
No futebol, há muitos Jobsons. No passado, eram mais frequentes. Faziam parte do folclore e do romantismo. Eram menos punidos.
No Cruzeiro, no início dos anos 60, antes da inauguração do Mineirão, havia um centroavante que só fazia gols se fugisse da concentração para se encontrar com a amada, uma prostituta. Outro, sempre que estava jogando bem, desaparecia.
Semanas depois, aparecia com uma fantasiosa e comovente história. Matou, várias vezes, todos os parentes.
Esses Jobsons, desajustados, inadaptados ao futebol e à vida, incapazes de conviver, reprimir e sublimar seus instintos e indesejáveis desejos, precisam de diagnósticos e de tratamentos corretos, feitos por quem entende do assunto. Não podem ser tratados por curiosos, amigos, treinadores nem por médicos de outras especialidades.
Os tapinhas nas costas e os comentários, bem-intencionados, de que são incompreendidos e que não tiveram carinho contribuem para não procurarem tratamento. Sentem-se vítimas e acham que são os outros os culpados de todos os seus problemas.
Os atletas, por conviverem com o fracasso e o sucesso, têm mais dificuldades na vida. "Ninguém está preparado para a fama." Quem disse isso não foi nenhum filósofo grego. Foi Dirceu Lopes, cracaço do Cruzeiro nos anos 60, um jovem equilibrado. Por falar em filósofo, desejo ótima recuperação a outro cracaço, o pensador Sócrates.
Acrescento que poucos estão preparados para a vida e, muito menos, para a morte. O ser humano, por causa do narcisismo, de achar que é muito importante e que tem uma grande missão na Terra, mesmo se for para ligar e desligar o computador e para acessar o Google, não suporta sua insignificância diante do mundo, da natureza, nem a finitude de sua vida.
Woody Allen disse que só precisava ver, ter certeza, nenhuma dúvida, de um milagre, para todos seus males serem resolvidos.
Nesta semana, assisti ao belo filme "Melancolia". Não pense que sou melancólico, pessimista. Adoro viver, do meu jeito. Sou realista, talvez um pessimista esperançoso. Tenho esperanças na saída de Ricardo Teixeira e de outros dirigentes que estão há longo tempo no poder.


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