São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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1950: Olhar perdido

Histórias e relatos de quem viveu o primeiro Mundial do país muito além do Maracanazzo

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Copa de 1950 foi muito mais que o silêncio de 200 mil torcedores no Maracanã, pela derrota para o Uruguai na final.
Foi a retomada de uma competição internacional congelada durante 12 anos por causa da Segunda Guerra Mundial.
Mobilizou outras 11 seleções além das protagonistas do Maracanazo, como entrou para a história a trágica derrota decisiva. E envolveu outras cinco cidades do país, além do Rio.
A pedido da Folha, pessoas que assistiram a jogos nas seis cidades que receberam o Mundial -todas candidatas a sede novamente, em 2014- reconstruíram suas experiências.
E revelaram um cenário simplório. Com torcedores pondo as mãos à obra para remodelar um estádio. Com fãs impressionados pelo vigor físico de um jogador-carteiro. E até com um "jogo fantasma", no Pacaembu, marcado para a mesma data e horário da derrota brasileira que crucificou o goleiro Barbosa no Maracanã.
Esse jogo, esvaziado, não foi a única peculiaridade do regulamento. Desistências de participantes obrigaram a organização a inovar na formação dos grupos da primeira fase.
Duas chaves tiveram quatro seleções, uma três e outra apenas duas -Bolívia e Uruguai.
As baixas de última hora tiveram motivos diversos. A Índia, por exemplo, desistiu porque a Fifa não autorizou seus jogadores a atuarem descalços.
A Escócia, classificada em campo, não jogou por ter sido apenas a segunda colocada no qualificatório britânico. A França não quis viajar de Porto Alegre a Recife. E a Argentina alegou divergência com os brasileiros para não comparecer.
Apesar de ter sido candidato único -situação idêntica à do Mundial de 2014, que terá o Brasil anunciado como sede nesta terça-, o país precisou de uma ajuda extra para não naufragar na organização.
A cinco semanas do início do Mundial, a Fifa mandou ao país o italiano Ottorino Barassi, um de seus vice-presidentes.
Ele havia liderado a organização da Copa anterior, em 1938, e, segundo a entidade, teve atuação decisiva para o evento começar na data marcada. Ainda que num Maracanã "oficialmente inaugurado, mas ainda aparentando um canteiro de obras e sem uma tribuna de imprensa", segundo a Fifa.
De quebra, Barassi foi decisivo para preservar a Jules Rimet. Presidente da Federação Italiana -detentora do troféu, com o título em 38-, ele guardou a peça numa caixa de sapato sob sua cama, para evitar que caísse nas mãos do Exército, que poderia derretê-la e usar o ouro no esforço bélico.
Em 1983, a taça, conquistada em definitivo pelo Brasil em 1970, foi furtada da sede da CBF. Depois de muito investigar e nada encontrar, chegou-se à conclusão de que o troféu provavelmente foi derretido para ser vendido no Rio.

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