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1950: Olhar perdido
Histórias e relatos de quem viveu o primeiro Mundial do país muito além do Maracanazzo
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Copa de 1950 foi muito
mais que o silêncio de 200 mil
torcedores no Maracanã, pela
derrota para o Uruguai na final.
Foi a retomada de uma competição internacional congelada durante 12 anos por causa da
Segunda Guerra Mundial.
Mobilizou outras 11 seleções
além das protagonistas do Maracanazo, como entrou para a
história a trágica derrota decisiva. E envolveu outras cinco
cidades do país, além do Rio.
A pedido da Folha, pessoas
que assistiram a jogos nas seis
cidades que receberam o Mundial -todas candidatas a sede
novamente, em 2014- reconstruíram suas experiências.
E revelaram um cenário simplório. Com torcedores pondo
as mãos à obra para remodelar
um estádio. Com fãs impressionados pelo vigor físico de
um jogador-carteiro. E até com
um "jogo fantasma", no Pacaembu, marcado para a mesma data e horário da derrota
brasileira que crucificou o goleiro Barbosa no Maracanã.
Esse jogo, esvaziado, não foi
a única peculiaridade do regulamento. Desistências de participantes obrigaram a organização a inovar na formação dos
grupos da primeira fase.
Duas chaves tiveram quatro
seleções, uma três e outra apenas duas -Bolívia e Uruguai.
As baixas de última hora tiveram motivos diversos. A Índia, por exemplo, desistiu porque a Fifa não autorizou seus
jogadores a atuarem descalços.
A Escócia, classificada em
campo, não jogou por ter sido
apenas a segunda colocada no
qualificatório britânico. A
França não quis viajar de Porto
Alegre a Recife. E a Argentina
alegou divergência com os brasileiros para não comparecer.
Apesar de ter sido candidato
único -situação idêntica à do
Mundial de 2014, que terá o
Brasil anunciado como sede
nesta terça-, o país precisou
de uma ajuda extra para não
naufragar na organização.
A cinco semanas do início do
Mundial, a Fifa mandou ao país
o italiano Ottorino Barassi, um
de seus vice-presidentes.
Ele havia liderado a organização da Copa anterior, em
1938, e, segundo a entidade, teve atuação decisiva para o
evento começar na data marcada. Ainda que num Maracanã
"oficialmente inaugurado, mas
ainda aparentando um canteiro de obras e sem uma tribuna
de imprensa", segundo a Fifa.
De quebra, Barassi foi decisivo para preservar a Jules Rimet. Presidente da Federação
Italiana -detentora do troféu,
com o título em 38-, ele guardou a peça numa caixa de sapato sob sua cama, para evitar
que caísse nas mãos do Exército, que poderia derretê-la e
usar o ouro no esforço bélico.
Em 1983, a taça, conquistada
em definitivo pelo Brasil em
1970, foi furtada da sede da
CBF. Depois de muito investigar e nada encontrar, chegou-se à conclusão de que o troféu
provavelmente foi derretido
para ser vendido no Rio.
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