São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

A entrega estraga


É obrigatório buscar, na tabela de 2011, um jeito de expurgar a sensação de entreguismo


TITE ENTROU no vestiário no intervalo da partida, cobrou empenho de seus jogadores e ficou surpreso ao ouvir deles: "Mas, professor! Nossos adversários já nos contaram que vão entregar o jogo. Precisam prejudicar o rival histórico deles". O técnico do Corinthians contou a história a Juca Kfouri, na ESPN, sem informar a partida em questão. Foi um Pelotas 0 x 3 Veranópolis, pela Copa RS, em 1996. A simples referência, sem a informação completa, fez muita gente viajar na memória.
"Os gremistas logo associaram ao São Paulo x Inter de 2008", diz o repórter José Alberto Andrade, da rádio Gaúcha, referindo-se à partida em que o São Paulo assumiu a liderança na campanha do tri brasileiro, à frente do Grêmio.
Eu mesmo viajei à última rodada da primeira fase de 2002, quando o Atlético-MG estava classificado, enfrentava o Grêmio e, vencendo, ajudaria o Cruzeiro. Perdeu por 1 a 0. "Mas nós fomos para cima, e me surpreendi porque o Grêmio não nos atacou", lembra o goleiro Velloso, do Atlético-MG.
A derrota atleticana em 2002 foi inocente, mas mostra que arranjos assim não são exclusividade dos pontos corridos. O que agrava esses casos não é a fórmula de disputa, mas a irresponsabilidade das declarações.
O diretor de futebol do Palmeiras, Wlademir Pescarmona, afirmou duas vezes que sua vontade era dar W.O. para o Fluminense, hoje à tarde. Elias, do Corinthians, parabenizou o Corinthians B pela vitória na Copa Sul-Americana, provocação pelo triunfo do Goiás sobre o Palmeiras. Elias esqueceu seu papel público e pôs mais gasolina na fogueira do entreguismo. Esqueceu-se também da violência de uma facção palmeirense, que agrediu Vagner Love há um ano numa agência bancária. E que irá a Barueri só para pressionar o Palmeiras pela derrota prejudicial ao Corinthians.
Não há provas do entreguismo, mas a sensação dele está nas ruas. Daí ser obrigatório procurar, na tabela de 2011, um jeito de expurgá-lo. Ou clássicos estaduais nas últimas rodadas -ainda que isso tire o caráter nacional da decisão- ou com jogos entre times do eixo RJ-SP-MG-RS contra GO-BA-SC- -PR, o que, em teoria, diminui o risco.
Os encontros estaduais esbarram no interesse da TV. Há cinco anos, uma tabela previa uma rodada só de clássicos no meio dos turnos. A TV vetou. Por causa das transmissões, jamais Palmeiras x Corinthians, São Paulo x Santos no mesmo dia.
Por causa do entreguismo, talvez seja preciso rever isso.

pvc@uol.com.br


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