São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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TÊNIS

Aprendendo com os brutamontes

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Lembro como se fosse ontem -na verdade, há 16 anos. No meio da transmissão da TV, em rede nacional, tarde de domingo, um jogo difícil, disputadíssimo, um lance polêmico, o juiz sai correndo de campo.
De repente, em não mais que um minuto, o árbitro volta ao campo, aperta um botãozinho no cinto e começa a falar para o estádio. Diz algo mais ou menos assim: "Após revisão do lance, houve jogada ilegal do número 16, do ataque, sobre o número 88. Também após a revisão, o passe foi considerado incompleto. O lance será disputado novamente".
E o jogo seguiu como se nada houvesse acontecido. Os atletas voltaram às posições para reiniciar a partida, e a torcida se manteve como antes -barulhenta, porém sem contestar o árbitro. Na sala de TV, comigo, aquele bando de moleques seguia mais preocupado com a cerveja do que com o desenrolar do lance.
Só depois, ainda timidamente, fui perguntar e fiquei sabendo: no futebol americano, quando o lance é polêmico e pode interferir no rumo de um jogo, o juiz sai e consulta um vídeo do lance. Os times também podem pedir a revisão de um determinado lance, mas precisam fazer com parcimônia.
Óbvio. Pois quase duas décadas depois o tênis, esporte fino e para grã-finos, adere à tecnologia usada até pelos brutamontes do futebol americano.
É claro que a resistência inicial é grande no circuito. "Quem foi o "gênio" que teve essa idéia idiota?", perguntou Marat Safin, quase a mesma agressividade com que destrói vitórias e raquetes em quadra. Roger Federer considera a mudança um desperdício de dinheiro -a grana poderia bem estar no bolso dele, não?
Mas desde que a norte-americana Jamea Jackson pediu o replay de uma bola duvidosa, há uma semana, na partida contra Ashley Harkleroad, a tenista mais bonita do circuito profissional, na primeira rodada do Masters Series de Miami, os tenistas não têm do que reclamar -na grande maioria das revisões, a imagem mostra o juiz com toda a razão.
Até agora só se viu benefício, a começar pela tenista que inaugurou essa nova era. "Amei! Tira a pressão de você. Porque você não fica nervosa, com raiva, ou pensando na bola que poderia ter sido. Simplesmente continua jogando", contou Jackson.
Qual o temor, então?
Custo não é problema. Quem paga a conta é a ATP, e ninguém pretende que a regra seja essa em todos os clubes do mundo.
O jogo perder seu ritmo também não é preocupante. Porque quando um jogador manhoso, chato e metido a esperto quer, consegue quebrar o ritmo de qualquer adversário e partida simplesmente insistindo em uma reclamação infundada (e vale lembrar que cada tenista pode pedir só duas revisões por set).
O medo talvez seja perder a desculpa esfarrapada, a justificativa para o descontrole emocional, para a explosão de fúria, para explicar depois aos críticos, jornalistas, torcedores e fãs que a derrota, "injusta", só aconteceu por causa do juiz de linha, daquele maldito juiz de linha cego e ladrão.

Comendo pó
Federer divulgou o calendário para a temporada de saibro: vai jogar tudo o que for possível. O objetivo é ganhar Roland Garros. Na semana passada, assinou com a Wilson para o resto da vida (isso mesmo!).

Virou pó
Lleyton Hewitt, que mandava no circuito antes de Federer, faz a pior temporada em nove anos. Sofreu sete eliminações, uma para top ten.

Levantando poeira
Albert Ramos (ESP), Katerina Vankova (TCH), nos 18 anos, Andre Stabile (BRA), Rocio Galarza (ARG), 16, Diego Acosta (EQU), Natali Coronel (ARG), 14, Higor Silva (BRA), Iasmin Rosa (BRA), 12, e Rafael Matos (BRA), 10, foram campeões da 23ª Copa Gerdau.


E-mail - reandaku@uol.com.br

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