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TÊNIS
Aprendendo com os brutamontes
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Lembro como se fosse ontem
-na verdade, há 16 anos. No
meio da transmissão da TV, em
rede nacional, tarde de domingo,
um jogo difícil, disputadíssimo,
um lance polêmico, o juiz sai correndo de campo.
De repente, em não mais que
um minuto, o árbitro volta ao
campo, aperta um botãozinho no
cinto e começa a falar para o estádio. Diz algo mais ou menos assim: "Após revisão do lance, houve jogada ilegal do número 16, do
ataque, sobre o número 88. Também após a revisão, o passe foi
considerado incompleto. O lance
será disputado novamente".
E o jogo seguiu como se nada
houvesse acontecido. Os atletas
voltaram às posições para reiniciar a partida, e a torcida se manteve como antes -barulhenta,
porém sem contestar o árbitro.
Na sala de TV, comigo, aquele
bando de moleques seguia mais
preocupado com a cerveja do que
com o desenrolar do lance.
Só depois, ainda timidamente,
fui perguntar e fiquei sabendo: no
futebol americano, quando o lance é polêmico e pode interferir no
rumo de um jogo, o juiz sai e consulta um vídeo do lance. Os times
também podem pedir a revisão de
um determinado lance, mas precisam fazer com parcimônia.
Óbvio. Pois quase duas décadas
depois o tênis, esporte fino e para
grã-finos, adere à tecnologia usada até pelos brutamontes do futebol americano.
É claro que a resistência inicial
é grande no circuito. "Quem foi o
"gênio" que teve essa idéia idiota?", perguntou Marat Safin,
quase a mesma agressividade
com que destrói vitórias e raquetes em quadra. Roger Federer
considera a mudança um desperdício de dinheiro -a grana poderia bem estar no bolso dele, não?
Mas desde que a norte-americana Jamea Jackson pediu o replay de uma bola duvidosa, há
uma semana, na partida contra
Ashley Harkleroad, a tenista mais
bonita do circuito profissional, na
primeira rodada do Masters Series de Miami, os tenistas não têm
do que reclamar -na grande
maioria das revisões, a imagem
mostra o juiz com toda a razão.
Até agora só se viu benefício, a
começar pela tenista que inaugurou essa nova era. "Amei! Tira a
pressão de você. Porque você não
fica nervosa, com raiva, ou pensando na bola que poderia ter sido. Simplesmente continua jogando", contou Jackson.
Qual o temor, então?
Custo não é problema. Quem
paga a conta é a ATP, e ninguém
pretende que a regra seja essa em
todos os clubes do mundo.
O jogo perder seu ritmo também não é preocupante. Porque
quando um jogador manhoso,
chato e metido a esperto quer,
consegue quebrar o ritmo de
qualquer adversário e partida
simplesmente insistindo em uma
reclamação infundada (e vale
lembrar que cada tenista pode pedir só duas revisões por set).
O medo talvez seja perder a desculpa esfarrapada, a justificativa
para o descontrole emocional, para a explosão de fúria, para explicar depois aos críticos, jornalistas,
torcedores e fãs que a derrota,
"injusta", só aconteceu por causa
do juiz de linha, daquele maldito
juiz de linha cego e ladrão.
Comendo pó
Federer divulgou o calendário para a temporada de saibro: vai jogar
tudo o que for possível. O objetivo é ganhar Roland Garros. Na semana passada, assinou com a Wilson para o resto da vida (isso mesmo!).
Virou pó
Lleyton Hewitt, que mandava no circuito antes de Federer, faz a pior
temporada em nove anos. Sofreu sete eliminações, uma para top ten.
Levantando poeira
Albert Ramos (ESP), Katerina Vankova (TCH), nos 18 anos, Andre
Stabile (BRA), Rocio Galarza (ARG), 16, Diego Acosta (EQU), Natali
Coronel (ARG), 14, Higor Silva (BRA), Iasmin Rosa (BRA), 12, e Rafael Matos (BRA), 10, foram campeões da 23ª Copa Gerdau.
E-mail - reandaku@uol.com.br
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