São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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FUTEBOL

Palavras-chave no futebol

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma das palavras mais faladas por técnicos e pela imprensa, antes, durante e após uma partida, é espaço. Com ela, os técnicos explicam as derrotas e as vitórias.
Quando alguns narradores e comentaristas não têm mais nada interessante para falar durante uma partida, já deram todas as informações necessárias e desnecessárias e contaram todos os detalhes da história dos dois times -as informações que não fazem parte do jogo deveriam somente ser dadas com a bola parada-, costumam falar que faltaram ou sobraram espaços.
Apesar de muitos dizerem que o campo é pequeno para o veloz futebol atual, os times nunca ocupam todos os espaços.
Se a equipe deixa muitos espaços entre defesa, meio-campo e ataque, fica pouco compacta, outra palavra que os técnicos adoram. A distância entre os setores dificulta a troca de passes e facilita para o adversário organizar as jogadas.
Se os zagueiros e armadores marcam muito atrás, faltam espaços para os atacantes receberem a bola. Contudo, sobram espaços para o outro time pressionar e tocar a bola até a intermediária. Essa forma de marcar, atraindo o adversário para contra-atacar, é uma maneira eficiente de uma equipe inferior ganhar de outra muito superior.
Muitas grandes equipes preferem recuar e iniciar a marcação com os atacantes na linha de meio-campo. Assim, diminuem os espaços na defesa. Porém, quando o time recupera a bola, fica muito longe do outro gol.
Se a equipe marca por pressão, com os zagueiros e armadores mais adiantados, sobram espaços nas costas dos defensores para os lançamentos longos. Em compensação, o time que pressiona toma a bola no outro campo e fica próximo do gol. Essa é a principal razão de o Ronaldinho jogar melhor no Barcelona. Na seleção, ele recua para marcar e receber a bola e fica mais longe da área.
Além de espaço e compacto, há muitas palavras-chave no futebol para os técnicos, como atitude, pegada, equilíbrio, união, foco e outras. Como muitos técnicos não gostam de dar explicações técnicas e táticas após as partidas -só reclamam-, sugiro um texto decorado para eles explicarem as derrotas: "O time não teve atitude, pegada, equilíbrio, união, não foi compacto, não estava focado e não aproveitou os espaços". Em caso de vitória, é só tirar a palavra não.

Tecnologia no futebol
Apesar de ser um dinossauro, de nunca ter usado um caixa automático, de utilizar o celular somente para fazer e receber ligações, apóio a tecnologia no futebol, desde que seja para resolver poucos problemas específicos, como saber se a bola entrou ou não dentro do gol.
Não vejo necessidade do uso de pontos eletrônicos pelos árbitros e auxiliares, já que eles estão próximos, o barulho intenso do estádio atrapalha a comunicação pelos microfones e os auxiliares podem levantar as bandeiras. Além disso, já existem os vibradores que avisam ao árbitro que o auxiliar quer lhe dar informações.
A tecnologia existe para auxiliar as pessoas, mas estas não podem ser reféns da máquina.
Há no mundo uma adoração pela tecnologia e uma ilusão de que ela será sempre mais importante e mais eficiente do que a interpretação e a subjetividade humana. A vida se passa muitas vezes nas entrelinhas. Não é sempre isso ou aquilo.
Assim como o aumento do conhecimento e da tecnologia não produz sempre melhoria na qualidade de vida das pessoas, o uso da tecnologia no futebol não significa, necessariamente, menos problemas e mais justiça no resultado das partidas.

Favorito no futebol
O Ipatinga deve repetir hoje contra o Cruzeiro a estratégia utilizada no Maracanã contra o Botafogo. O time atraiu o adversário para contra-atacar com os passes certeiros do Walter Minhoca para os velozes Diego Silva e Camanducaia.
Apesar de o Ipatinga ser campeão mineiro, ter eliminado com facilidade o Botafogo, ter a melhor campanha do primeiro turno e jogar por dois empates ou por uma vitória e uma derrota pela mesma diferença de gols, o Cruzeiro é favorito porque tem jogadores muito melhores e não vai entrar em campo achando que será fácil, como na decisão do ano passado contra o Ipatinga. Mas nem sempre vence o favorito.


E-mail - tostao.folha@uol.com.br

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