São Paulo, quinta, 29 de abril de 1999

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A volta dos quatro atacantes e da tabelinha

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

Era apenas uma festa centenária de três grandes pátrias do futebol: a brasileira, a holandesa e a catalã. Luxemburgo, contudo, deu-se ao luxo de escalar a maior força ofensiva já vista desde a seleção de 70 (Amoroso, Ronaldinho, Rivaldo e Romário). Apesar da inibição natural de Amoroso, em novo posicionamento e junto de tantos astros no ataque, e das falhas do goleiro Rogério, senti o cheiro de um grande time para a virada do milênio.


A tabelinha é tão importante no futebol que entrou para o Aurélio. Está também no dicionário de futebol do Maranhão. Nenhum dos dois, contudo, explica a origem da expressão.
Tabela já estava no futebolês para indicar o calendário de jogos ou a classificação dos times. Aquele retângulo que segura a cesta do basquete leva o nome de tabela. Quando a bola bate lá e entra, não se realiza o "chuá" . Foi "de tabela".
A tabelinha do futebol talvez venha do basquete. E ficou registrada na canção de Jorge Ben Jor: "tabelou, driblou dois zagueiros...". Está na origem do futebol. Os ingleses, mais durões para tentar a jogada individual, venderam ao mundo as virtudes do "1-2": dar um passe e correr para receber de volta.
Mas tabelinha, para ser tabelinha mesmo e merecer o nome, exige, pelo menos, quatro toques na bola, dois de cada jogador. A tabelinha requer talento individual e dedicação ao outro. Duas coisas difíceis de reunir no mesmo jogador de futebol. Pense nos astros da NBA, ultranarcisistas, que não descuidam de servir o outro, para se ter uma diferença de como é no jogo de futebol.
O 4-3-3 começou a acabar com a tabelinha. Primeiro, porque tem mais jogadores na defesa. Segundo, porque afastou o meia (ou ponta-de-lança) do centroavante. O malfadado 4-4-2, que já vai embora tarde, sepultou a tabelinha.
E acabou de vez com o ponta-de-lança. No mesmo movimento, eliminou o centroavante. Cada atacante passou a atuar por um flanco. Não há diálogo, mas, sim, monólogo. Ou, no máximo, perguntas sem respostas.
O centroavante era alguém que fazia o ""peão" ou o "pivô". No primeiro momento, ele estava de frente para o meia e de costas para o gol. Hoje, atacante não dá as costas para o gol e não é um ponto de referência fixo.
As Copas de 90 e 94 foram dois atentados contra o futebol. Uma espécie de conluio de técnicos pouco ousados com jogadores medianos. A maior mudança acabou sendo determinada por cartolas: uma vitória vale três pontos. O ataque voltou ao futebol. Com a volta dos sistemas ofensivos, o meio-campo reatou com o ataque. Três atacantes passaram a ser mais frequentes. Alguns ousam até colocar quatro, como fez Luxemburgo ontem. Maior proximidade entre os atacantes, maior chance de tabelinhas.
A tabelinha, como o casamento, exige fidelidade. Nesses tempos de divórcios (os jogadores hoje não atuam, fazem estágios nos times), fica difícil criar a estabilidade para o florescimento das tabelinhas. Desde Adão e Eva, de Cosme e Damião, de Romeu e Julieta, do Mágico e do Monstro, da Bela e da Fera, do preto no branco, do Gordo e o Magro, de Lennon e McCartney, de Pelé e Coutinho, a gente gosta de duplas. Pode entrar que a casa é sua, tabelinha.
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Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S/A



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