São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011 |
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DEPOIMENTO Nos filmes e na vida real, meu coração bateu mais forte EMERSON FITTIPALDI ESPECIAL PARA A FOLHA Indianápolis sempre foi um sonho de criança para mim. Quando era pequeno, meu pai fazia parte de um clube de aficionados por automobilismo, que tinha uma tradição: no sábado à noite, eles faziam uma sessão de cinema em nossa casa, passando filmes de corridas. Ficava assistindo a tudo, sempre fascinado. Numa das sessões, vi um documentário sobre Indianápolis, feito nos anos 50. Quando vi aqueles carros acelerando no oval, meu coração bateu mais forte. E aquilo acendeu uma curiosidade que me acompanhou até ficar adulto. Anos mais tarde, quando entrei na F-1, essa curiosidade foi revivida. Afinal, a minha equipe, a Lotus, havia vencido as 500 Milhas com Jim Clark, em 1965. Por isso, eu bombardeava o Colin Chapman, dono da Lotus, com avalanche de perguntas sobre a prova. Como ele também era um apaixonado pelas 500 Milhas, essas conversas eram sempre deliciosas. Um pouco depois, em 1974, eu havia conquistado o bi de F-1, já pela McLaren. E fui para Indianápolis, onde havia um treino da Goodyear. E a equipe McLaren de Fórmula Indy iria participar. Eu estava animadíssimo: havia sido convidado para dirigir o M16, da Indy, que parecia ser uma versão laranja do M23, o meu carro da F-1. No primeiro dia, fui muito bem recebido por Al Unser Sr., Bobby Unser e A.J. Foyt. A emoção bateu forte: era um sonho de criança que iria se realizar! Com limitador de velocidade, só conheci a pista. No dia seguinte, podendo acelerar tudo, andei muito. O M16 tinha vencido as 500 Milhas daquele ano com o Johnny Rutherford e estava muito bem acertado. A equipe até me convidou para correr em Indianápolis no ano seguinte, mas os carros daquela época eram muito inseguros. Por isso, desisti. Só voltei a andar em Indianápolis em 1984. Foi meu primeiro ano na Indy e corria com um March. A mangueira de óleo estourou e quase fui para o muro. Abandonei. A vitória só chegou em 1989. Peguei a liderança logo na largada e estive na frente o tempo todo. No último pit stop, quase tudo foi por água abaixo: a equipe botou mais gasolina do que deveria. Em vez de meio tanque, botaram combustível até a tampa. Por isso, fiquei mais lento. E o Al Unser Jr. chegou em mim. Enfrentamos tráfego. Ele me passou. Faltando três voltas, saindo da curva 2, outro carro atrapalhou o Al. Entrei por dentro e chegamos juntos na 3. Não tirei o pé e entrei emparelhado. Meu carro derrapou de leve. A roda traseira bateu no carro dele, que foi para o muro. Ganhei. Foi a corrida em que eu mais arrisquei em minha carreira. Uma dividida de bola no limite. Quando olho para trás, posso dizer com toda a certeza que essa foi minha vitória mais dramática. Em 1993, ganhei de novo. O carro não estava tão bom como em 1989, mas tive um duelo fantástico com o Nigel Mansell. Na última relargada, passei o Nigel e meus pneus estavam muito bons. Fiz as últimas 14 voltas com o pé embaixo e atingi o melhor tempo na penúltima volta. Na comemoração, quebrei a tradição. Em vez de beber leite, como todos os vencedores haviam feito, comemorei com suco de laranja. Resultado: minha foto com o suco saiu no mundo todo. Mas o que a imprensa não mostrou é que, depois, bebi o leite... EMERSON FITTIPALDI , 64, bicampeão mundial de F-1 e campeão da Indy, venceu as 500 Milhas em 1989 e 1993 Texto Anterior: Vettel larga na pole, mas teme Mônaco Próximo Texto: Reservas vão mal, e Muricy cai pela 1ª vez Índice | Comunicar Erros |
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