São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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Em ascensão, Traffic tem dez sócios no Brasileiro

Empresa possui jogadores em sete clubes da Série A e três da B e fará nova investida

Apesar de poder decidir venda de atletas, fundos têm mecanismo contratual para não ferir lei da Fifa que veta interferência nos times


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à janela européia, os fundos de investimentos tornaram-se um poder paralelo nas equipes do Brasileiro-2008. Levantamento da Folha mostra que os investidores já têm jogadores em mais da metade dos clubes da Série A.
Em boa parte dos casos, os fundos impõem contratos aos clubes, pelos quais passam a ter poder real na venda de seus atletas. É estipulado um valor mínimo para a negociação. Se surgir uma oferta nesse montante, o clube tem que aceitar a transferência ou cobrir o total.
Nem sempre os investidores conseguem impor essa cláusula -fica mais complicado quando são minoritários na sociedade. Mas, quando são majoritários, o mecanismo é aplicado por todos os fundos.
Entre eles, o maior é a Traffic, com percentuais em 29 jogadores espalhados por 11 clubes -são 7 na Série A, 3 na Série B e 1 na Alemanha. A maior influência é sobre o Palmeiras -onde tem contrato que regula a sociedade nos atletas e possui participação em 11 jogadores.
Na verdade, a empresa S.A. Cedro Participações é quem tem os direitos sobre os atletas da Traffic. Foram investidos R$ 40 milhões nos jogadores, uma parte pela própria Traffic e outra por grupos ou pessoas.
Agora, recolherão os lucros. A empresa estrutura nova S.A., em que vai aumentar mais o investimento em contratações.
Segunda maior investidora, a DIS, do dono da rede de supermercados Sonda, tem atletas em pelo menos três clubes (Internacional, Fluminense e Santos), entre eles Thiago Neves, que serve à seleção olímpica.
Menor, o MFD, que atua no mercado carioca, tem direitos sobre atletas de Botafogo e Flamengo. Com parceria no Mirassol, a Energy Sports (cujo dono possui empresa de contêineres) também tem atletas em sociedade com o Palmeiras.
No total, pelo menos 11 times da Série A contam com jogadores ligados aos fundos, ou seja, 55% do total. Isso lhes dá poder de girar atletas pelos clubes.
Pertencente à Traffic, o meia Maicosuel trocou o Cruzeiro pelo Palmeiras -os dois clubes disputam posições na tabela. Outros dois jogadores da empresa, Amaral e Anderson Aquino, trocaram de equipe dentro da Série A. Agora, a diretoria do Flamengo fechou a contratação do atacante Vandinho, do Avaí. Ambos os clubes são sócios da Traffic.
Também há influência na escalação. Por uma cláusula, a empresa pode vetar um jogador seu de um jogo por cinco dias se houver proposta oficial.
Pelo estatuto de transferência de jogadores da Fifa, o futebol de um clube ou as negociações de seus atletas não podem sofrer interferência de terceiros. Também há proibição de que terceiros tenham percentuais sobre a venda de atletas -são permitidas comissões somente a agentes.
Para driblar esse veto, os jogadores da Traffic são ligados ao seu clube, o Desportivo Brasil. E os contratos só prevêem a venda se o clube não pagar toda a proposta final -não há obrigação. Os outros fundos repetem o procedimento.
Na Inglaterra, não é reconhecido o direito de terceiros sobre atletas. No Brasil, a Justiça admite esses contratos. Com participação no zagueiro Breno, do Bayern e da seleção olímpica, o Sonda garantiu o direito de receber do São Paulo sua parte após disputa judicial.


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